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Capivaras mutantes tocam o terror em ‘O monstro do Rio Paraibuna’

capivaras monstro
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Mutação genética faz das simpáticas capivaras monstros sanguinários a aterrorizar os juiz-foranos (Fotos: Divulgação)

Um dos ícones de Juiz de Fora, as capivaras podem ser vistas às margens do Rio Paraibuna em vários pontos da cidade, sempre em bandos e levando uma vida sossegada. Mas o que aconteceria se a intervenção do homem na natureza – principalmente por causa da poluição – transformasse essas dóceis criaturas em monstros mutantes que atacassem tudo o que aparecesse pela frente, infectando as pessoas com um vírus que transformasse humanos também em criaturas monstruosas?
Pois este é o argumento de “O monstro do Rio Paraibuna”, longa/curta-metragem de ficção científica e terror realizado em coprodução com a UFJF e que está sendo produzido desde 2017 pela dupla Leonardo Amorim e Felipe Fontenelle. O filme ainda não tem previsão de lançamento, está em processo de pós-produção antes de tentar a sorte no circuito de festivais, mas um trailer foi lançado na última sexta-feira (21) no canal de Leonardo no YouTube (Leonardo Filmmaker), além das páginas do filme no Facebook e Instagram (@monstrodoparaibuna).
A ideia do longa surgiu na cabeça de Amorim e Fontenelle após eventos realizados nos cineclubes do IAD (Instuto de Artes e Design da UFJF) e do finado Espaço Excalibur, com inspiração em filmes clássicos do terror como “O monstro da Lagoa Negra”, “Frankenstein” e “Drácula”, além do game “Resident Evil”, e foi desenvolvido como trabalho de conclusão de curso de Leonardo no bacharelado de cinema e audiovisual na UFJF.
A história mistura terror e sci-fi com o famoso “eu avisei” dos filmes-catástrofe ou de monstros ou zumbis, entre outros. O protagonista é o professor Guimarães (Paulo Moraes), especialista em biologia, engenharia genética e geografia que se dedica ao estudo da prevenção de catástrofes ambientais, especialmente no que diz respeito à poluição. Ele descobre que as capivaras do Paraibuna foram infectadas por uma variante agressiva da bactéria Rickettsia parkeri, da febre amarela, que passou por mutações por causa da bentonita, mistura de argilas encontrada nos rejeitos de uma fábrica de cimento que despeja o material no rio que corta a cidade.

A partir desses estudos, ele cria a teoria da Capivara Monstro, que foi completamente ridicularizada pela academia, mas não desiste de sua obsessão e prossegue os estudos, o que faz com que a esposa peça o divórcio. Porém, tempos depois, as Capivaras Monstro começam a atacar os humanos – que, infectados após serem mordidos pelas criaturas, atacam outras pessoas e disseminam a praga pela cidade. Para tentar deter os monstros, o professor terá a ajuda de um pescador (Eustáquio Júnior) e de uma repórter (Rafaella Bertelli).
A produção foi rodada em 2019 e utilizou como cenário vários locais conhecidos de Juiz de Fora, como a Usina de Marmelos, o Centro da cidade, Aeroclube de Juiz de Fora, Represa João Penido, trilha do Morro do Cristo, Represa de Chapéu D’Uvas e alguns pontos do campus da UFJF, como as dependências da antiga Faculdade de Comunicação e o almoxarifado-geral.

Equipe trabalhou no projeto durante a maior parte de 2019

A capivara é o bicho!

Leonardo Amorim relembra que ele e Felipe Fontenelle começaram a discutir a concepção de “O monstro do Rio Paraibuna” após a exibição de “O monstro da Lagoa Negra” em uma mostra de produções com monstros de ficção científica no Espaço Excalibur, porém com um viés juiz-forano. Logo pensaram numa história em que o monstro seria originário do rio local.
“Paraibuna significa ‘águas escuras’, e para ‘Lagoa Negra’ é só um passo. Passamos a discutir qual monstro poderia representar o Paraibuna, e aí pensamos na capivara, que todo mundo que mora em Juiz de Fora já viu nas margens do rio”, explica. “Como pensamos na questão da poluição, entrevistamos especialistas em biologia e geografia da UFJF para que tivesse algum embasamento científico.”
A produção, inicialmente, foi pensada como um curta-metragem, e chegou a tentar o apoio pelo edital da Lei Murilo Mendes, em 2017, porém sem sucesso. Os diretores decidiram então aumentar a história. Em dois meses, o roteiro de 12 páginas passou a ter 45 e virou a base para o longa. Leonardo conseguiu uma bolsa da Pró-reitoria de Cultura da UFJF, de cerca de R$ 4,8 mil, que financiou metade da produção – a outra foi tirada do próprio bolso do cineasta, a partir de trabalhos como editor e produtor em projetos de terceiros. Parte da produção foi gravada com os equipamentos do IAD e Estúdio Almeida Flemming.
“O recurso da UFJF, apliquei todo nos atores, mesmo que fosse um valor simbólico de diárias. Todo o restante – comida, gasolina, figurino, efeitos visuais, materiais em geral, design de produção – foi pago por mim com esses trabalhos que fiz. A maior dificuldade foi não poder me dedicar exclusivamente ao projeto”, diz Leonardo, que ainda contou com o apoio e confiança da equipe técnica. “Eles não receberam nada, fizemos um contrato em que ficou acertado que eles receberão os royalties de futuros lucros com a exibição do filme em festivais, streaming e televisão.”
Por isso mesmo, ele destaca a sua gratidão pela dedicação de toda a equipe, seja na parte técnica ou do elenco. “O filme, apesar de ter sido uma coprodução da UFJF com a Leonardo Audiovisual, não seria uma realidade sem essa equipe talentosa e dedicada, que tinha alunos do IAD e da Facom (o diretor de fotografia Fernando Itaborahy), o Paulo Moraes que conseguiu os atores certos. E muito do roteiro devo ao Felipe Fontenelle, pois a ideia do filme surgiu a partir do diálogo que tivemos. Ele, além de ser o diretor cinematográfico da produção, é a única pessoa que esteve envolvida no projeto do início ao fim.”

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Produção passou por vários cenários conhecidos de Juiz de Fora, como a Usina de Marmelos

Um média, um curta, um longa-metragem

Com a produção em estágios finais, Leonardo e Felipe têm um corte de 60 minutos de “O monstro do Rio Paraibuna”, que foi apresentado pelo primeiro como conclusão do curso na UFJF, duração que se enquadra na categoria de média-metragem. “Mas com essa duração temos pouco espaço no cinema brasileiro, estou com dificuldades para inscrevê-lo em festivais por causa disso. Então estamos cortando alguns trechos para fazer um curta de cerca de 15 minutos”, explica Leonardo Amorim. “São dois trechos de dez minutos que vão virar uma narração em off para contar as cenas que precisamos cortar e sintetizar em um minuto. Dessa forma, podemos nos inscrever no Festival Primeiro Plano e outros dedicados aos curtas, e continuar tentando inscrever o longa também.” A intenção é finalizar a pós-produção ainda este mês e fazer uma exibição on-line. “Estou pensando em procurar o Mamm (Museu de Arte Murilo Mendes), mas também quero aproveitar o Halloween (31 de outubro), pois é uma época em que os motores de busca na internet favorecem os filmes de terror.”
Além das referências do cinema de horror clássico já citadas – e aplicadas às dóceis capivaras -, Leonardo destaca que a inspiração principal veio do livro “A natureza dos monstros”, de Luiz Nazário, que apresenta uma série de convenções existentes em filmes de sci-fi e terror que envolvem essas criaturas. “Uma das características do filme é a incredulidade, em que num primeiro momento os personagens não acreditam e negam a existência do monstro até que eles sejam atacados, que exista a aparição pública do monstro, mesmo que o professor apresente as provas”, analisa. “Essa questão da incredulidade é recorrente em ‘Frankenstein’, ‘Drácula’. E isso, associado à atualidade do coronavírus, faz todo o sentido, pois aqui no Brasil uma parcela da população achava que seria ‘uma gripezinha’, ‘coisa de maricas’.”

Paulo Moraes interpreta o protagonista, o professor Guimarães, que alerta sobre o perigo da poluição para o rio

Em casa no terror

Paulo Moraes, protagonista de “O monstro do Rio Paraibuna”, já havia trabalhado com Leonardo Amorim em outros projetos. A primeira conversa sobre o filme se deu ainda durante o desenvolvimento do roteiro. Na ocasião, seria apenas para fazer a direção de atores, mas o convite acabou surgindo. “Eu li alguns dos personagens e me convidaram para fazer o protagonista, Como sou fã de filmes de terror, horror e policiais, aceitei o convite porque gostei muito da proposta. Também ajudei na parte de direção de cena e na produção em geral. Foi uma aventura muito singular; outras produções das quais participei tinham algum toque de horror e terror, mas não eram necessariamente uma produção do gênero. Eu me senti em casa.”
Por “sentir-se em casa”, Paulo está falando de um filme de terror de baixo orçamento que lida com capivaras mutantes, mas que tem uma proposta séria que se distancia do famoso “terrir” dos anos 80. “O filme tem essa coisa formatada de ter o professor que alerta sobre a catástrofe e ainda é ridicularizado. Porém, nesse filme ele não é o cara que fica esperando a ajuda do mocinho, ele põe a mão na massa e tenta resolver o problema, algo que me chamou a atenção quando li o roteiro”, destaca.
Fazer filmes de horror no Brasil, na visão do ator, representa uma luta difícil que existe há muito tempo. “Perguntei uma vez a uma professora de cinema por que não produzimos filmes tão bons como no exterior, e ela disse o básico: que é preciso dinheiro, e aqui não temos. Muitas vezes queremos fazer a sério, mas acaba no ‘terrir’ por não termos apoio, mesmo tendo gente boa e disposta a trabalhar.”

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Tecnologia como aliada

Ainda que não seja fácil, Paulo Moraes – que está com três projetos de filme de terror aguardando para participar de editais – ressalta a importância da evolução da tecnologia para que produções menores em termos comerciais, caso de “O monstro do Rio Paraibuna, sejam realizadas. “Hoje, com o digital, temos uma liberdade maior para fazer filmes. A tecnologia tirou da mão de uma determinada elite cinematográfica o privilégio de fazer cinema. Eu sempre quis fazer cinema, mas só percebi a possibilidade quando assisti ao curta ‘Móbile Haikai’, da Lilian Werneck. Antes achava que teria que chamar gente de Rio e São Paulo, que teria o custo da lata de filme, e aquele curta me abriu esse horizonte do cinema sem ter um custo tão alto. Foi assim que escrevi meu primeiro projeto, que ainda não foi rodado, mas fui fazer um curso de cinema na UFJF, onde conheci o Leonardo, e graças a isso fiz meu primeiro filme, ‘Breu’, que participou do Festival de Cinema de Tiradentes.”

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