Corredor Cultural: fotos de Paula Duarte entre as atrações

Júlio Black

5 anos ago

Influenciada pela experiência em uma nova realidade, Paula Duarte preferiu mesclar o visual dos açougues com as histórias que tem para contar (Foto: Paula Duarte/Reprodução)

Não importa o lugar, Nova York, Rio de Janeiro, Ibitipoca, Paris, Brasília, Buenos Aires: quando se pensa nas fotos que servem de recordações da viagem, pensamos nos pontos turísticos, prédios históricos, parques, museus, monumentos. Nem precisa ser uma selfie, desde que o instante fique registrado.

Mas nem sempre é assim. Às vezes, o que se mostra banal, pouco atraente, até mesmo pouco agradável aos olhos, é o que pode chamar a atenção – ainda mais se atrelado a uma sensação de não pertencimento. É com este olhar que a artista Paula Duarte promove nesta sexta-feira (24), às 19h, no CCBM, a abertura da exposição “Fotos de viagem”, integrante da programação do Corredor Cultural, que inicia sua 11ª edição no mesmo dia e prossegue até domingo com mais de 70 atrações, incluindo ainda música, teatro, oficinas, audiovisual e outras opções para o público (ver quadro).

A nova exposição de Paula Duarte é fruto do período em que viveu em Portugal, entre 2017 e 2018, por conta de um intercâmbio, e conta com 11 fotos disponibilizadas em um álbum que poderá ser manuseado pelo público, que segundo ela tem o objetivo de “sair das paredes e das molduras, descer do pedestal mesmo”. Ela também pretende discutir a questão da fotografia como forma de registrar o espetacular, como é comum nas fotos de pontos históricos e turísticos, seguindo uma linha de reflexão proposta por Denílson Lopes a respeito do sublime.

Por isso, “Fotos de viagem” não terá imagens espetaculares da arquitetura de Paris, monumentos de Lisboa, pontos turísticos de Veneza, e sim fotografias de açougues – sim, açougues – com os quais topou em Portugal, Espanha e Itália. A artista explica que, a princípio, o objetivo era usar as fotografias como base para futuras pinturas, mas mudou de ideia antes de colocá-la em prática. E tudo feito com um celular de segunda mão que adquiriu em terras portuguesas, eventualmente mesclando o seu reflexo na vitrine com as peças colocadas à vista dos clientes.

“Gosto muito de fotos de paisagens, mas não é minha linguagem fotográfica”, explica. “As pessoas me cobravam fotografias desses lugares, cobravam isso, mas intuitivamente – e até conscientemente – passei a me encantar com o visual dos talhos (como os açougues são conhecidos em Portugal), que tinham um visual, uma iluminação diferente, tão diferente que não consegui reproduzir aqui no Brasil. E ainda colocavam umas cabeças em exposição, animais que não costumamos comer aqui, como coelhos.”

Dentre os elementos que chamaram a atenção da artista, as cabeças e animais comercializados nos ‘talhos’ portugueses (Foto: Paula Duarte/Reprodução)

Fora da ‘bolha’, o preconceito, assédio e estranhamento

Fora da ‘bolha’
Ainda de acordo com Paula Duarte, ela passou a se identificar mais com a questão das carnes expostas do que, por exemplo, com locais como o Marco dos Descobrimentos. Entre os motivos, o preconceito à forma como os europeus encaram os imigrantes. “A crise dos imigrantes é coisa muito séria por lá, vi como é cruel esse mundo com fronteiras. Logo quando cheguei ao aeroporto de Madri, fui assediada pelo oficial da imigração que carimbou meu passaporte, me chamou de ‘boneca’. Não consegui acreditar que ele tinha me assediado! Perguntei para outras brasileiras que tinham passado antes se haviam sido tratadas assim, disseram que não. Elas duvidaram que fosse racismo, me senti uma problematizadora louca.”

“Foi um período difícil, pois não havia uma pessoa física com quem desabafar, só os amigos pela internet”, continua. “Foi a primeira vez que saí da minha ‘bolha’, do convívio com o pessoal do coletivo Descolônia. Foram várias formas de assédio, pessoas perguntando sobre minha origem, se era mesmo brasileira, índia, questionamentos sobre a origem do meu sobrenome, pois não ‘parecia portuguesa’. Em várias situações percebi que causava espanto nas pessoas, ainda mais onde a miscigenação era menor. Era um desconforto muito grande, vi que a questão do não pertencimento ia além da língua e chegava até meu corpo.”

Paula conta ainda que às vezes fazia como uma amiga e fingia não ser brasileira, e até o nome da pasta onde guardou as fotos – assim como os arquivos – do seu período na Europa foi influenciada pelo que viu, ouviu e sentiu. A pasta ganhou o nome de “Cinta fina e anca larga” depois de tentar comprar uma calça jeans em uma loja em Portugal e a vendedora dizer que nenhuma serviria em mim. “‘Você tem cinta fina e anca larga’, disse ela. Mas nem foi uma grosseria, foi só sinceridade dela mesmo.”

Fotografias feitas em celulares seriam, a princípio, matéria-prima para pinturas, mas renderam uma nova exposição (Foto: Paula Duarte/Reprodução)

Uma nova percepção sobre si

O período no Velho Mundo não marcou a fotógrafa apenas pelos pontos negativos ou as carnes expostas nos talhos. “Eu visitei o Marco dos Descobrimentos, que enaltece a colonização portuguesa, foi construído com dinheiro dessas colônias, e uma das exposições era ‘Atlântico Vermelho’, da Rosana Paulino, que critica justamente a colonização no Brasil. Foi muito interessante ver isso lá. Também fui em uma palestra da Grada Kilomba, uma negra portuguesa que falava sobre como sua obra não caberia apenas no cinema, no teatro, em apenas uma linguagem, que era um trabalho híbrido. Tudo isso me ajudou a pensar nesse trabalho, a ver que eu também faço obras híbridas, como as pipas da última edição do Corredor Cultural.”

“Ao final, foi uma experiência muito fixe (legal), como dizem em Portugal. É inegavelmente importante ter essa experiência acadêmica no currículo, ter feito o intercâmbio, mas a experiência de vida também foi de um grande aprendizado, afinal tive que me deslocar da minha realidade.”

CORREDOR CULTURAL 2019

PROGRAMAÇÃO

24 de maio | sexta-feira

Teatro Paschoal Carlos Magno
19h | Palhaçaria | “É Disso que o Povo Gosta?”, com Cia. Dois Perdidos
* apresentação na entrada do Teatro
20h | Dança | “Ubuntu”, com Remiwl Street Crew

Anfiteatro João Carriço
19h | Filme | “Bike vs Carros”, de Fredrik Gertten

Praça João Pessoa
18h30 | Música | “Concerto para Contrabaixo”, com Dudu Lima

Cine-Theatro Central
20h | Música | “Palco Central”, com Cacáudio e Carlos Fernando

Praça Antônio Carlos
18h | Filme | “Detona Ralph WiFi” _ Cinema na Comunidade

Centro Cultural Bernardo Mascarenhas
21h | Música | “Nara Pinheiro, Voz e Vento”

Biblioteca Municipal Murilo Mendes
8h30 | Infantil | “Quiz Literário da Professora Bela”

Praça da Estação
14h | “Adote um Zine Brasilis”, distribuição de zines de Matheus Assunção
* a ação acontecerá no ponto de ônibus da praça
16h | Performance | “COREMA”, de Andressa Silva

Museu Ferroviário
19h | Música | “A História do Brasil Contada em Choro”, com Confraria do Choro

Pelas Ruas da Cidade
18h às 20h | Teatro | “Terráqueos: Vidas em Trânsito, Experimento Cênico”, com o grupo Corpo Coletivo

Centro Cultural Dnar Rocha
15h | Aula espetáculo | “Uma História da Música Brasileira”, com Fabrício Conde

Centro de Convivência do Idoso
8h30 | Música | “Visita do Zé”, com Zé do Black

Igreja Nossa Senhora da Conceição _ Benfica
19h45 | Música | “Concertos Sanfônicos”, com Márcio Guelber

UFJF _ Saguão central da reitoria
8h às 20h | “Mostra Carriço: Tudo Vê, Tudo Sabe, Tudo Informa”

25 de maio | sábado

Anfiteatro João Carriço
14h | Palestra | “Bruta La Caligrafia”, com Cláudio Gil

Praça João Pessoa
10h | Música | Coral do Colégio Santa Catarina
14h | Música| “Roda de Samba pela Quebra das Correntes”, com Guerreiras de Clara

Rua São João
10h | Música | “Trinca -ferro convida Luiza Lacerda”

Rua Marechal Deodoro
10h | Teatro lambe-lambe | “Quintal”, com Cia. LuaPraRua

Pelas Ruas da Cidade
10h | Cortejo | Mostra artística com alunos do Programa Gente em Primeiro Lugar, saindo da Praça Antônio Carlos, seguindo pelo Calçadão e finalizando no Parque Halfeld
Meio-dia | Dança | “Fragmento Vermelho”
* Performances nas galerias Bruno Barbosa, Belfort Arantes, João Beraldo e Epaminondas Braga

Praça Antônio Carlos
18h | Filme | “Doc Slam Resistência”, com a presença do Coletivo Vozes da Rua _ Cinema na Comunidade

Centro Cultural Bernardo Mascarenhas
19h | Teatro | “A história do lápis nº 2”
20h | Música | Show com Tata Chama + Chico Chico e João Mantuano

Biblioteca Municipal Murilo Mendes
10h às 16h | Literatura | Feira de troca de livros + BrincArte _ Oficina de brinquedos com material reciclado
16h | Contação de histórias | “Nossa Mineirice, Café com Prosa”, com Marcus Amaral, Elenita dePaulo, Sandra Almeida e Carlos Carreira
18h | Contação de histórias | “Histórias de Morte e Vida”, com Ulisses Beleigolli

Praça da Estação
10h | Palhaçaria | “Piquenique com Palhaços”, com a Caravana Mezcla de Palhaços
Meio-dia | Música | Batuquedelas

Museu Ferroviário
16h às 21h | Música | Rock Pé no Chão _ Shows com Halé (RJ), Tarantina (JF) e Usversus (JF)

Museu Mariano Procópio
9h | Oficinas temáticas, para crianças de 8 a 11 anos, em comemoração ao aniversário de Juiz de Fora

CEU/Zona Norte
14h | Infantil | “Dia de Brincar” + “Vem Brincar Aqui Fora”

Paróquia São Geraldo _ Filgueiras
20h | Música | “Concertos Sanfônicos”, com Marcio Guelber

UFJF _ Saguão central da reitoria
8h às 12h | “Mostra Carriço: Tudo Vê, Tudo Sabe, Tudo Informa”

26 de maio | domingo

Museu Mariano Procópio
14h | Tarde literária no Museu

Diversão & Arte
18h | Mostra de processo | Debate aberto ao público como finalização do Laboratório em Criações Radicais Livres

Teatro Paschoal Carlos Magno
10h às 18h | Games | Joga JF

Parque Halfeld
14h | Performance | “Depósito de Sentimentos” _ Maré
15h | Dança | “Amazônia em Foco”, com Grupo Macauã

Praça Antônio Carlos
18h | Filme | “Onde a Coruja Dorme”, de Bezerra da Silva, presença do Cineclubista Vinicius Faria _ Cinema na Comunidade

Centro Cultural Bernardo Mascarenhas
10h às 20h| Oficina |1ª Residência artística “Makoomba: Funk é Cultura”

Estação Cultural Estúdio de Danças Silvana Marques
10h30 | 15h30 | 17h30 | Patrimônio |”Parte Baixa _ Visita Guiada Performática pelo Centro Histórico da Cidade”, com Silvana Marques, Marcos Marinho e Estevão Teixeira
* Inscrições prévias pelo telefone 98810-7677 ou pelo email smto2004@yahoo.com.br

Museu Ferroviário
16h | Cinema | “CineXuxú”, exibição de videoclipes e bate-papo com a artista

CEU/Zona Norte
10h | Infantil | “Slime Factory”, com Gabi Gabizoca

Paróquia Cristo Rei _ Jardim do Sol
20h | Música | “Concertos Sanfônicos”, com Márcio Guelber

Parque da Lajinha
13h às 16h| “Rua de Lazer” da Secretaria de Esporte e Lazer (Sel) | Roda de capoeira | Apresentação do Coral da Cesama

Exposições

CCBM
(até 2 de junho)
“Sonitus Visualis”, de Adauto Venturi
“Tessituras em Ciranda”, projeto Cirandas da Mulher
“Fotos de viagem”, de Paula Duarte
“Bruta La Caligrafia”, de Cláudio Gil
“#Folclore-se: lendas quase urbanas”, de Renata Dorea

Biblioteca Municipal Murilo Mendes
“JF 169: O Olhar das Crianças”, no Setor Infantojuvenil, até 20 de junho

Associação Cultural Antônio Parreiras
“69° Salão Oficial Municipal de Belas Artes”

Oficinas

Rua Marechal Deodoro | “Interpret’ações’ no espaço público”, com Cia. Santa Corja
24 e 25 de maio | Sábado e domingo | 14h