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‘Matrix Resurrections’ chega aos cinemas

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Keanu Reeves volta a formar dupla com Carrie-Anne Moss no quarto filme da franquia “Matrix” (Foto: Divulgação)

“Matrix Resurrections” estreia nesta quinta-feira (23) e é impossível negar que o longa dirigido por Lana Wachowski é uma das produções mais aguardadas do ano. Afinal, trata-se do quarto longa de uma série iniciada em 1999 com “Matrix”, um dos filmes mais importantes do final do século passado e dos últimos 25 anos. Entretanto, mesmo quem tem aguardado com ansiedade pelo quarto capítulo da saga não deixa de perguntar: “mas precisava?”.

O principal motivo para o ceticismo se deve às continuações do primeiro filme, “Matrix Reloaded” e “Matrix Revolutions”. O “Matrix” original marcou época por vários fatores: a produção reunia toda sorte de influências que iam da filosofia (o “Mito da caverna” de Platão e o livro “Simulacros e simulação”, de Jean Baudrillard) a animes como “Ghost in the Shell”, passando pela ficção científica e cyberpunk (basta lembrar de “Neuromancer”, de Willian Gibson), o conceito da “jornada do herói”, de Joseph Campbell, e “Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll.

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Para completar, efeitos especiais que despencaram queixos ao redor do mundo – principalmente pelo revolucionário efeito bullet time, aquele que mostra os personagens se desviando dos tiros -, grandes cenas de ação e figurinos que seguem como referência até hoje – dizem que foram uma das principais influências para os uniformes do primeiro filme dos X-Men. Para amarrar tudo, o roteiro muito bem costurado das irmãs Lilly e Lana Wachowski, que na época ainda assinavam como Andy e Larry e tinham um currículo cinematográfico modesto em termos de direção, que contava apenas com o suspense “Ligadas pelo desejo”.

O que era único virou três

Analisando em retrospecto, é surpreendente que a Warner Bros. tenha dado sinal verde para um projeto tão ousado de uma dupla de cineastas quase iniciantes. Por outro lado, não surpreende que o mesmo estúdio tenha feito de tudo para que “Matrix” tivesse uma continuação. O primeiro longa encerrava com o que se pode considerar um dos recorrentes “finais em aberto” que Hollywood tanto adora, mas, ao mesmo tempo, a história era tão bem fechada em si que esse final em aberto era perfeito e dispensava a necessidade de uma continuação, por permitir que cada um imaginasse como seria a jornada de Neo após derrotar a Matrix em sua primeira grande batalha.

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Porém, como estúdio e público ansiavam por uma continuação, as Irmãs Wachowski encararam o desafio de fazer de “Matrix” uma trilogia, e aí o bonde desandou. Se o filme de 1999 tinha como trunfo todas as suas referências amarradas para criar uma história que discutia, principalmente, a questão filosófica se o que vivemos é ou não real, “Reloaded” e “Revolutions” precisaram lidar com as várias perguntas deixadas sem resposta pelo primeiro filme, além da necessidade antes inexistente de dar uma conclusão à saga. Lançados em 2003, com seis meses de diferença entre si, os dois longas foram bem na bilheteria, mas fracassaram no gosto de crítica e público.

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Matrix reativada

Além da trilogia de filmes, “Matrix” ainda rendeu uma antologia de animação, a música “Eu não entendi Matrix”, da banda carioca Gangrena Gasosa, jogos de videogame e era quase um sinônimo para a internet na época, e por muito tempo descansou em paz. Porém, começou a circular em 2017 o misto de notícia e boato de que a Warner planejava um novo filme desse universo. Tanto se falava de uma história derivada, que poderia mostrar um jovem Morpheus, quanto um reboot.

Até esse momento, as Irmãs Wachowski negavam a possibilidade de retornar à saga, mas em agosto de 2019 o estúdio anunciou a produção do quarto filme de “Matrix”, que seria uma sequência direta de “Revolutions”. A produção teria apenas Lana Wachwoski na direção, pois sua irmã estava envolvida em outros projetos.

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Do elenco original, foram confirmados os retornos de Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Jada Pinkett Smith, Lambert Wilson e Daniel Bernhardt. Laurence Fishburne, que interpretou Morpheus, foi substituído por Yahya Abdul-Mateen II, enquanto que Hugo Weaving abriu mão do Agente Smith por questões de agenda. Outras novidades foram as escalações de Neil Patrick Harris, Jessica Henwick, Jonathan Groff e Priyanka Chopra.

As filmagens tiveram início em fevereiro de 2020, em São Francisco (EUA), e precisaram ser adiadas por causa da pandemia, sendo retomadas no segundo semestre do mesmo ano em Berlim, na Alemanha.

Para entender “Matrix”

O primeiro “Matrix” tem como protagonista Thomas Anderson (Reeves), um programador de softwares que, à noite, age como o hacker Neo, obcecado em descobrir o que seria a tal Matrix que tanto aparece em suas jornadas virtuais. A resposta começa a surgir quando ele é procurado pela misteriosa Trinity (Moss), que o leva até o lendário Morpheus (Fishburne), que oferece a ele duas pílulas: caso escolha a azul, ele voltará à sua vida normal, mas, caso escolha a vermelha, descobrirá o grande segredo escondido de toda a humanidade.

Ao decidir pela pílula vermelha, Neo desperta do casulo em que estava aprisionado, nu e conectado a cabos, e é resgatado por Morpheus e Trinity. É revelado a ele, então, que a humanidade, em algum momento do passado, entrou em guerra com as máquinas quando elas se tornaram dotadas de inteligência artificial e da autoconsciência. Derrotada, a humanidade foi aprisionada em casulos para oferecer a bioeletricidade que alimenta todas as máquinas. A fim de tornar isso possível, é criada uma gigantesca realidade virtual, a Matrix, para manter os seres humanos sob controle. São poucas as pessoas que conseguem despertar desse ambiente virtual, formando uma resistência na cidade subterrânea de Zion.

Morpheus acredita que Neo seja o tão esperado Escolhido, que seria capaz de “enxergar” o programa da Matrix e libertar a humanidade de sua condição. Após aprender a usar seus poderes e de uma série de lutas espetaculares, Neo derrota o Agente Smith (Hugo Weaving) e seus asseclas, transitando livremente entre o mundo real e a Matrix. Na cena final, ele avisa a seus inimigos que vai libertar o máximo de seres humanos que conseguir, sai voando e temos um final espetacular.

O terceiro é o fim?

“Reloaded” e “Revolutions”, por outro lado, justificam dão razão à Gangrena Gasosa na letra de “Eu não entendi Matrix” (“Mas Reload é mentiroso / Revolutions é ruim / E não tem mais a música / Do Rage Against the Machine / Ainda bem que trilogia / No terceiro ela é o fim”).

O segundo filme mostra os esforços de Neo, Trinity e Morpheus para derrotar as máquinas, que também preparam uma reação para destruir os rebeldes de Zion. Porém, ao confrontar a figura do Arquiteto, Neo descobre que aquela não é a primeira vez em que a humanidade se rebelou. Na verdade, o Escolhido é uma “ferramenta” da própria Matrix para se reiniciar de tempos em tempos.

O Arquiteto revela, ainda, que seus cinco antecessores tiveram duas opções: reiniciar a Matrix e escolher os rebeldes que reconstruiriam Zion, ou se rebelar e, por consequência, destruir a Matrix e provocar a extinção da humanidade. Ao contrário de seus antecessores, que escolheram a primeira opção, ele arrisca tudo para salvar Trinity. Ao mesmo tempo, o programa que criou o Agente Smith é corrompido e ele passa a se replicar por toda a Matrix, com o objetivo de destruir todos os programas, as máquinas e a humanidade.

O terceiro longa mostra a luta do trio de protagonistas para impedir os planos de Smith, o que inclui um acordo entre Neo e as máquinas para que as mentes que descobrirem a essência da Matrix possam se libertar e viver em paz no mundo real. Ao se sacrificar, o herói destrói o programa de Smith e, aparentemente, também se sacrifica e tem sua consciência destruída, mas o longa termina com a Oráculo afirmando que é possível que encontrem Neo mais uma vez.

O que esperar do novo filme

“Matrix Resurrections” é passado cerca de 20 anos depois do final da trilogia. O longa mostra Neo mais uma vez vivendo como Thomas Anderson, em São Francisco, sem se lembrar de seu passado como o Escolhido. Ele, porém, tem visões e sonhos perturbadores; por causa disso, ele procura um psiquiatra (Neil Patrick Harris), que receita a ele pílulas azuis que podem ajudar a controlar essas estranhas visões. Ao mesmo tempo, ele reencontra Trinity, que, assim como ele, não lembra de seu passado, muito menos de Neo.

É nesse contexto que, mais uma vez, ele é procurado por uma aliada de Morpheus (Abdul-Mateen II), em uma versão mais jovem, e que novamente oferece a ele a pílula azul da zona de conforto e a vermelha, que revelará o que o mundo real tenta encobrir. Como essa parte é tão óbvia que nem pode ser considerada spoiler, Thomas escolhe a pílula vermelha e descobre que precisava ter prestado atenção nas letras miúdas do acordo com as máquinas, pois a Matrix se tornou mais poderosa e infinitamente mais perigosa e mortal para os humanos que consigam libertar suas mentes do mundo virtual.

Com as peças em seus devidos lugares no tabuleiro, “Matrix Resurrections” tentará repetir a magia do original por meio de várias citações ao primeiro filme, além de aproveitar as décadas de avanços nos efeitos especiais para oferecer cenas de ação ainda mais empolgantes e espetaculares. Para saber se funcionou, só indo ao cinema – ou esperar pela chegada no streaming.

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