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Professor argentino Mario Carlón analisa o papel da televisão em simpósio na UFJF

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Para o professor Mario Carlón, a televisão ainda tem sua importância, em especial na transmissão ao vivo de eventos, mas nunca mais será a mesma. (Foto: Marcelo Ribeiro)

Invenção quase centenária, a televisão se tornou o principal meio de comunicação e entretenimento do século XX, suplantando com folgas o rádio, o cinema e – não custa nada incluir nesta lista – a literatura e a música, entre outros. Sob muitos aspectos, a linguagem televisiva foi a principal mediadora e geradora de conteúdo para o público, tornando-se ferramenta muitas vezes imprescindível para política, religião, economia, sociedade etc. Os tempos, porém, são outros desde o advento e popularização da internet, e a televisão como conhecemos não tem mais o poder de outrora. Sob muitos aspectos, não é mais a mesma. Há quem argumente, inclusive, pelo fim da televisão – pelo menos como conhecemos.

Entre eles está o pesquisador e professor da Universidade de Buenos Aires, o argentino Mario Carlón, que participa nesta sexta-feira (23), às 19h, no auditório da Faculdade de Comunicação da UFJF, da mesa de conferência “Fluxos emergentes e linguagens expandidas”, que integra a programação da 11ª edição do Simpósio Nacional da ABCiber (Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura). Além de Carlón, participam da mesa os professores Theophilos Rifiotis, do departamento de antropologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), e Eugênio Rondini Ferreira, da Faculdade de Comunicação da UFJF. A moderação fica a cargo da professora Soraya Ferreira, também da UFJF.

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Pensar a televisão no meio acadêmico pode ter uma série de vieses, e no caso de Mario Carlón é assunto que despertou seu interesse ainda na década de 1990, quando começou a trabalhar no meio e viu, na comunicação direta e na construção de acontecimentos por meio dessa linguagem e do espectador que daí surgia, temas que mereciam ser estudados mais profundamente – ainda mais por se tratar de uma época em que a tevê era predominante no tecido social. A crise propriamente dita na televisão começou a ser analisada por ele a partir da década passada, resultando na publicação de livros de sua autoria e também que reunissem análises de pesquisadores interessados na mesma questão, caso de “O fim da televisão” (2014).

 

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Fim de um ciclo

Esta discussão, aliás, se tornou mais pertinente, até mesmo passional, por todas as mudanças pelas quais a televisão passou e enfrentou nesse período, que incluem a popularização da TV por assinatura, a internet, os serviços de streaming. “Um ciclo histórico acabou, que seria o fim da televisão que estabelecia estratégias de comercialização, que controlava a circulação de discursos. Foi acabando a partir dos últimos dez anos, quando surgiram outros fenômenos de produção e consumo que não têm a mesma lógica da televisão que conhecemos durante 60 anos”, argumenta.

“A Netflix, por exemplo, não é televisão, é produtora de conteúdo com uma lógica on demand, em que o espectador decide onde, quando e como assistir, totalmente distinta da lógica social de consumo da tevê”, prossegue. “Não é mais apenas quem produz, mas também de que forma esse discurso é recebido. As redes sociais transformaram todo o sistema midiático. A lógica, agora, é hipermidiática, os meios massivos são as redes sociais. A tevê continua sendo um meio de comunicação, mas que entrou em crise (por esses fatores).”

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“Futuro limitado”

Para o professor argentino, doutor em ciências sociais pela Universidade de Buenos Aires, essa crise na televisão é progressiva, entretanto acentuada em determinados países em que as emissoras não souberam lidar com a situação. Ele destaca a queda de audiência nas emissoras de TV aberta na Argentina, que despencaram de 50 pontos há duas décadas para pouco mais de 25 e, atualmente, mal chega aos 15 pontos. “A TV está fragmentada, mas tem futuro certo, ainda que limitado. Os jovens não se interessam pela televisão. Ela segue importante para política, economia, celebridades, esporte, como a final da Copa do Mundo, por exemplo, mas precisa se reinventar, preparar novas formas de conteúdo.”

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Ele ressalta o significante crescimento, nos últimos anos, de uma rede social que considera o “underground” da internet: o WhatsApp. “É uma rede social em que não sabemos quem produziu (o conteúdo), em quais condições e com qual objetivo ou interesse. É um verdadeiro fenômeno novo que permite uma grande circulação no underground, seja para campanhas sociais ou para quem busca sair impune. As outras redes sociais (Instagram, Facebook, Twitter) têm lógicas distintas, porém parecidas; o WhatsApp, não. Os conteúdos não podem ser controlados, e isso afeta as redes sociais e os meios massivos.”

 

Para entender o que mudou – e ainda está mudando

Mario Carlón diz assistir raramente à televisão, geralmente em momentos sociais e políticos importantes. Como diz, nessas horas a TV – mesmo em crise – ainda é muito importante por fazer a transmissão direta de eventos como competições esportivas, tragédias, casamentos reais. Se parece contraditório um estudioso da tevê dedicar pouco tempo de visualização ao seu objeto de estudo, ele explica: “Para mim, o mais importante é a ressignificação social desses meios, o fluxo entre os meios massivos e redes sociais. É preciso entender a circulação de sentidos nessas direções. O que me interessa é saber como a sociedade se modificou por meio dessas tecnologias, como se constroem os movimentos sociais a partir dessas novas possibilidades.”

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