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Casamento juiz-forano inspirado em filmes de terror

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Thamiris e Bernardo dispensaram as alianças e se casaram usando uma reprodução do ‘Necronomicon’ (Foto: Reprdoução)

Vamos lá, responda rápido: o que vem à cabeça do leitor quando pensa em cerimônia de casamento? A resposta deve ser basicamente a mesma para a maioria, correto? Noiva de branco, véu, buquê com flores fofinhas, noivo de terno ou smoking, padrinhos, marcha nupcial, daminhas de honra e pajens, alianças, votos, chuva de arroz, bolo com bonequinhos dos noivos, arranjos florais nas mesas, lembrancinhas alusivas ao casal, banda tocando flashbacks. Tudo dentro de esquema, certo?

Mas só que não. Afinal, o ser humano ainda tem alguma graça, porque nem todo mundo é igual, daí que o amor pode ter vários tons – e que passam bem além daqueles tons de cinza bocós daquela série de livros/filmes. Ele pode ser negro como a noite, a alma mais trevosa. Ou vermelho, vermelho sangue, daquele que corre nas nossas veias e que saltam pelos pescoços e tripas nos bons filmes de terror. E mesmo assim é amor, profundo amor. Trevoso, mas amorzinho. Só não é azulzinho.

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Pois foi esse amor de tons diferentes, mas sincero, que a divulgadora científica Thamiris Carvalho e o engenheiro e músico Bernardo Falcão, da banda Dignatários do Inferno, celebraram no último domingo (15) em Juiz de Fora, com um casamento que tratou de fugir aos padrões tradicionais. A cerimônia era pra valer, no civil, com direito a celebrante, mas com visual, roupas e decoração inspirados em uma paixão compartilhada pelo casal: os filmes de terror, principalmente os do subgênero slasher, como “O massacre da serra elétrica”, “Quadrilha de sádicos”, a franquia “Sexta-feira 13”, “Pague para entrar, reze para sair”, “Evil Dead”, “A última casa”, entre outros, além de diretores como Quentin Tarantino, David Lynch e John Carpenter, livros de Stephen King e outras referências da cultura pop fora dos padrões.

Se Bernardo, o noivo, estava mais “discreto” com um paletó de flanela que remetia a antigos filmes de horror, mais uma camisa social estampada com caveiras, Thamiris era a verdadeira noiva de uma boa produção de terror: o corte do vestido lembrava as peças usadas na época dos filmes do famoso estúdio Hammer, mas ao mesmo tempo tinha inspiração – principalmente – no longa “Suspiria”, de Dario Argento, e na Noiva (Umma Thurman) do Volume 1 de “Kill Bill”. As damas de honra estavam vestidas como as gêmeas do clássico “O iluminado”, livro de Stephen King adaptado para o cinema por Stanley Kubrick; já o local da cerimônia foi decorado no clima dos longas preferidos do casal, criando um ar de lugar abandonado.

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No alto do bolo, nada de noivo ou noiva: Thamiris era representada pela noiva de Frankenstein; Bernardo, por Bela Lugosi como Drácula; e Ramona, a filha de Thamiris, era a Princesa Leia de “Star Wars”. Os prendedores de guardanapos eram dentes de vampiro; as toalhas de mesa tinham por inspiração a série de TV “Twin Peaks”; os vasos que decoravam as mesas eram uma citação a “Os fantasmas se divertem”, de Tim Burton, cada um com um cartaz de filme diferente, como “Eraserhead” (mais uma vez David Lynch). Até as guloseimas remetiam à sétima arte, com os mini hambúrgueres com placas do fictício restaurante Big Kahuna, que aparece nos filmes de Tarantino, e demais delícias com placas homenageando produções como “O Monstro da Lagoa Negra”, “O iluminado”, “Evil Dead”, “Criaturas”, e séries como “Arquivo X”.

Ah, e tinha mais: as lembrancinhas de casamento eram sabonetes com a mesma marca daqueles fabricados pelos personagens de Brad Pitt e Edward Norton em “Clube da Luta”. E o show não teve nada de flashback; quem mandou ver foi o próprio Dignatários do Inferno, com todo o som e a fúria peculiares à banda. No máximo, uma Lana Del Rey e um pouco de pop da hora da discotecagem.

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Para fugir da tradição

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No lugar dos bonequinhos da noiva e do noivo, a Noiva de Frankenstein, Bela Lugosi de Drácula e a Princesa Leia

E como foi que o casal decidiu fazer uma cerimônia fora dos padrões? Thamiris Carvalho explica que a ideia de oficializar a união (eles já moravam juntos) surgiu em maio, entre outros motivos para facilitar a ida da família para a Argentina em breve, onde ela vai estudar astronomia na Universidade de Buenos Aires. “Mas se fosse para casar tinha que ser do meu jeito”, diz a divulgadora científica. “Queria que fosse num clima de filme de terror, com nossas produções preferidas.” Bernardo topou. “Não imaginei que fosse dar tanto trabalho, mas apoiei todas as propostas”, afirma ele, que colocou a mão na massa durante todo o processo, como derreter glicerina e depois embalar os sabonetes distribuídos como lembrança – e que montou e passou o som para o show quase na hora da cerimônia.

Bernardo e Thamiris não encontraram uma empresa na cidade que tivesse a expertise necessária para o casório que planejavam, então fizeram tudo por conta própria, com a ajuda de uma empresa de design, a M2 Revestimentos, responsável pelo projeto e cenografia. “Planejamos tudo, e nisso ajudou o fato de eu ter experiência com a organização de eventos e o Bernardo ser engenheiro de planejamento”, conta Thamiris. Mesmo assim, a preparação que teve início em maio terminou apenas três horas antes da cerimônia, tamanho eram os detalhes. Com isso, não houve tempo para coisas como chá de panela, de lingerie ou mesmo despedida de solteiro.

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Além de visual pouco comum, eles decidiram que o casamento não teria algumas tradições, como o Dia da Noiva (aquela sessão de fotos com a futura esposa se preparando para a cerimônia) ou a troca de alianças. No lugar, eles preferiram oficializar a união com uma fita vermelha ligando os dois. A inspiração veio do Aka Ito, lenda oriental que diz que as almas gêmeas estão ligadas por um fio vermelho invisível. A fita foi levada pelas damas de honra dentro de uma cópia do “Necronomicon” (o famoso livro da série “Evil Dead”) encomendada pelo casal. Os votos feitos pelos convidados foram escritos em uma reprodução do “Livro de Mão dos Recém-mortos”, mais uma referência a “Os fantasmas se divertem”.

Os convidados receberam, ainda, sacos de pipoca com marcas de sangue falso, para dar um clima de cinema ao casório. Para os padrinhos e familiares, um único pedido: irem vestidos de preto. A noiva também dispensou a tradição de jogar o buquê, que era um sabre de luz com flores de papel. A música para a entrada do noivo foi do filme “Cannibal Holocaust”, e da noiva, “Suspiria”.

“A cerimônia foi tradicional no essencial, só o visual que foi diferente”, diz Thamiris. “Nossas famílias acharam legal, eles sabiam que se a gente fosse casar seria assim. E todo mundo ficou emocionado no casamento.” E que sejam felizes para sempre, ora pois.

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