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Cantor e compositor Fred Fonseca lança série de videoclipes

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Primeiro videoclipe do projeto, “O segredo do Sol” tem imagens captadas em 2018 na localidade fluminense de Sossego (Foto: Reprodução)

Está lá no perfil de Fred Fonseca no Facebook: “A cor amarela pode causar náuseas; por isso, é evitada em aviões. (…) Na Idade Média, o amarelo era a cor discriminatória das prostitutas, mães solteiras, mendigos e judeus.” E ainda: “Tem significado de poder riqueza e prosperidade. Representa o ouro, a luz, os raios brilhantes do Sol, a juventude, a energia e o esclarecimento. (…) É a cor do declínio e da velhice. Em alguns países está atrelada a inveja e a covardia. (…) O amarelo tem o efeito que ajuda a aumentar a fome e é a cor de tinta mais vendida no mundo. (…) É o tom predileto de apenas 6% de homens e mulheres do mundo todo.”

Pois é a partir dessa cor, com seus mais diversos aspectos culturais, sociológicos, psicológicos etc e tal que o cantor e compositor criou o seu mais novo projeto audiovisual, “O Homem de Amarelo”. O primeiro videoclipe, da canção “O segredo do Sol”, foi lançado na última quarta-feira (15), ), às 15h15, no canal do artista no YouTube. O próximo vídeo, “Falha no sistema”, será lançado nesta quarta-feira (22), às 22h22, e a série será encerrada com “Ácida cidade”, no próximo dia 29, às 00h29. Todos os vídeos têm direção da mulher de Fred, a artista visual, fotógrafa, documentarista e produtora audiovisual (haja fôlego) francesa Celine Billard, que tem no currículo videoclipes do argentino Julian Sanches, da cantora e compositora Clara Castro e de Nathan Itaborahy.

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Projeto criado a partir de fragmentos

“O Homem de Amarelo” não é um projeto pensado a partir dos acontecimentos decorrentes da pandemia de Covid-19, mesmo que o visual e a música possam causar essa impressão. As três canções, por exemplo, são anteriores a 2020; de acordo com Fred, o coronavírus serviu mais para reunir fragmentos de ideias em uma nova aventura audiovisual.

“A ideia veio de um acaso, pois em 2018 registramos as imagens que entraram em ‘O segredo do Sol’ e deixamos em stand-by para lançar com outros materiais que estão na fila. Porém, quando entrou a pandemia, começamos a olhar para esse material de outra forma. Peguei mais duas canções que criavam a linha que gostaria de seguir e desenvolvemos os dois outros vídeos, gerando assim essa websérie musical”, explica, acrescentando que as imagens do segundo videoclipe foram captadas em junho nos fundos da casa de Fred e Celine em Conceição de Ibitipoca, e o terceiro foi gravado semana passada no Centro de Juiz de Fora.

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A sequência dos lançamentos segue o que Fred chama de “uma ordenação para contemplar o contexto com as reflexões que trazem um homem de amarelo”. “O conceito vem da ideia de desconstruir o rótulo das coisas. Um homem de amarelo representa muitas coisas, inclusive nada. É um símbolo aberto a mil interpretações”, filosofa. “Nas redes sociais, trabalho com informações positivas e negativas sobre a cor amarela, a fim de dar material para que o espectador procure relações ou coerências. A ideia é trabalhar a informação para influenciar na interpretação, que sempre é subjetiva, mesmo com uma concepção coletiva sobre algum rótulo.”

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Do cinza para o amarelo

Sobre a escolha da cor amarela, o motivo é prosaico e tem a ver com uma composição feita por ele e Celine para a Primeira Mostra de Marchinhas Carnavalescas. O nome? “50 tons de cinza”. “Ela apontava para a multicor poluída do Rio Paraibuna e uma distopia onde haveria pernilongos anormais viciados em remédio e capivaras mutantes fosforescentes invadindo a avenida”, relembra. “Utilizamos como figurino um EPI (Equipamento de Proteção Individual) como proteção de uma ameaça dessa fictícia distopia, que nem imaginava que estava tão perto assim. Não digo da surrealidade das mutações, mas de como a realidade se transmutou nos dias de hoje.”

Calhou então que Fred e Celine puderam, no mesmo ano (2018), captar as imagens vistas em “O segredo do Sol” na praia da localidade de Sossego (RJ). “Utilizamos essas vestes pois, por mais que o videoclipe revele um lugar agradável, havia muito lixo no entorno.” Por conta disso, eis que surge uma relação entre o artista e a cor. “O amarelo me encanta por sua polissemia, que fui descobrindo a partir de pesquisas para fundamentar a confusão interpretativa que proponho. Afinal de contas, qual seria a proposta de um Homem de Amarelo nos contextos apresentados? Qual a sensação que isso te traz?”, especula.

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“Falha do sistema” será lançado nesta quarta no canal de Fred Fonseca no YouTube (Foto: Reprodução)

Casando música e imagens

Passando da cor para a música, Fred Fonseca conta um pouco sobre as cançõs que, compostas em períodos diferentes, combinaram-se em uma nova proposta artística. “O segredo do Sol”, por exemplo, foi composta por volta de 2010 mas teve seu registro apenas em 2018. Para a finalização da produção, ele teve o apoio de seu parceiro no projeto 4zero4, Robert Anthony, que também deu uma força em “Falha no sistema”, de 2017. “Contei com a colaboração de Robert não só na mixagem e masterização, mas também na desconstrução da música e alguns efeitos inseridos. ‘Ácida cidade’ é uma canção de minha autoria apenas com contrabaixo fretless com efeito de delay e voz. Compus em 2016, quando me mudei de Juiz de Fora para a vila de Conceição de Ibitipoca.”

Sobre os videoclipes em particular, Fred Fonseca aponta o quanto a parceria com a esposa é importante para o resultado final. “Eu tenho uma visão muito cênica das músicas. Ficava sempre matutando algumas coisas para criar e penso em coisas sempre mais mirabolantes que, quando passo para a Celine, tomam uma dimensão mais cabível no orçamento e nas viabilidades. Ela materializa minhas abstrações e compreende meu universo criativo a ponto de potencializá-lo. É uma parceria que deu certo; a visão dela traz a complementação ideal, pois materializa a obra na forma visual e dá mais um elemento para que o espectador possa somar na sua interpretação sobre a obra.”

Terceiro videoclipe do projeto “O Homem de Amarelo”, “Ácida cidade” foi gravado na última semana no Centro de JF (Foto: Divulgação/Rodrigo Bão)

Projetos na pandemia

Além d’O Homem Amarelo, Fred Fonseca tem realizado outros projetos artísticos no período de pandemia. Um deles foi o retorno de Alfredo Braga, “o cantor brega romântico internacionalmente desconhecido” surgido em 2015 e que marcou presença em duas lives. “Em breve vou trazer o show ‘Versão brasileira Alfredo Braga’, em que a personagem interpreta canções internacionais consagradas com letras traduzidas literalmente para o português”, adianta.

Mas a principal experiência de Fred Fonseca nesse período foi fazer uma live por dia por mais de três meses desde o início da quarentena. “Parei quando completei cem lives, e elas podem ser conferidas nas minhas redes sociais. Ali trabalhava a música como entretenimento para trazer um alento através do que chamamos de memória afetiva; buscava atender a pedidos, na hora ou no dia seguinte, cativando pessoas de forma que nem imaginava. Recebi mensagens do público dizendo que essas lives do pôr do sol eram o único momento em que a pessoa tinha companhia.”

Fred Fonseca encontrou tempo ainda para retomar com Roger Resende o espetáculo “Vida de músico”, que estreou em 2018. “Elaborarmos o roteiro on-line, adequamos uma apresentação musical teatral para esse universo. Vamos realizar nossa sexta edição no meu perfil do Facebook no dia 7 de agosto, às 20h”, adianta.

‘Um trio comigo mesmo’

O músico acredita que o isolamento social chegou para reinventar as relações do homem com os produtos, e também dos produtos com o meio. “Na condição de artista, me vejo como um produto que precisa se adequar aos meios. No início da pandemia, compus uma série de minicanções aleatórias sobre o contexto, com pessoas aleatórias que aceitaram a chamada aberta que fiz on-line, além de postar os grooves experimentais que tenho produzido especialmente para as redes. A pandemia me fez antecipar os planos de expor tudo que estava organizando para ir apresentando ao poucos.” O momento agora, segundo reflete Fred, é de alimentar as redes com material para se fazer presente – e como boa companhia – para pessoas que cumprem o isolamento social.

Para depois de “O Homem Amarelo”, o cantor e compositor planeja voltar com as lives, mas por enquanto tem estudado as formas de retomá-las. De acordo com ele, live “sozinho” não rolará. “Estou montando um trio comigo mesmo e vou lançar em breve as lives de sextas e sábados à noite. Será com violão e voz, contrabaixo, segunda voz e tocando cajón. Será feito através de plataformas de edição on-line, trazendo a fidelidade de um trio ao vivo, e com uma dinâmica para entreter o público com canções que eles também poderão escolher”, anuncia.

Praticamente incansável, Fred Fonseca também tem em seus planos retomar o espetáculo “Não é nada disso que você está pensando”, de 2018, para quando chegar a mil inscritos em seu canal do YouTube. “É um show autoral com canções inusitadas e com texturas entre violão, sintetizadores, contrabaixo, banjo americano e voz.”

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