O cotidiano das grandes cidades é tão corrido que muitas vezes não pensamos no entorno dos espaços urbanos por onde passamos, trabalhamos ou vivemos. Que falta arborização para tornar a rua menos abrasiva, um banco para descansarmos por cinco minutos, acessibilidade para cadeirantes, idosos, espaços dedicados às bicicletas, para os pedestres, meios de transporte coletivo, até mesmo a racionalização dos espaços comerciais, de ambulantes etc. Pois foi pensando no quanto a cidade pode ser mais acolhedora que alunos do curso de arquitetura e urbanismo da UFJF desenvolveram projetos que podem ser conferidos na exposição “Juiz de Fora para as pessoas: Marechal Deodoro e Batista de Oliveira na lógica das ruas completas”, que pode ser visitada até o próximo dia 30 no Espaço Cultural Correios.
A mostra apresenta quatro projetos desenvolvidos pelos universitários durante 2018 para as ruas Marechal Deodoro e Batista de Oliveira a partir da lógica das “ruas completas”, que tem o objetivo de tornar a cidade com maior qualidade para a população, como algo verdadeiramente público, proporcionando ainda opções de transporte e acesso, sejam eles a pé, de bicicleta, com cadeira de rodas, de transporte público coletivo ou carros particulares.
Trabalhos a partir de pesquisas e entrevistas
A iniciativa foi desenvolvida na UFJF pelos professores Fernando Lima e José Gustavo Francis Abdalla, contando ainda com o auxílio da mestranda em ambiente construído Ashiley Adelaide Rosa, que pesquisa para sua tese justamente sobre ruas completas. Fernando conta que tudo começou em abril de 2017, quando houve o lançamento da Rede Nacional para Mobilidade de Baixo Carbono na cidade, seguido de um workshop, realizado em junho, quando surgiu a proposta de fazer um trabalho mais amplo. O acordo de cooperação foi assinado em novembro do mesmo ano, envolvendo a UFJF, Prefeitura de Juiz de Fora, a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), e o World Resources Institute (WRI Brasil). O objetivo era fazer um estudo de readequação da Marechal Deodoro e Batista de Oliveira com os alunos de arquitetura e urbanismo. Cerca de 40 alunos participaram de pesquisa, sendo que 19 deles fazem parte dos quatro projetos que podem ser conferidos na exposição.
“Nós trabalhamos durante o período a partir do conceito de ruas completas, com os alunos realizando pesquisas de campo, entrevistando pedestres, camelôs, comerciantes, fotografando as vias, participando de palestras”, explica Fernando Lima. “O resultado foram quatro propostas de como as ruas poderiam ser organizadas quanto a mobiliário urbano (bancos, bicicletário), drenagem, arborização, calçadão total ou parcial, espaço para camelôs, quiosques, conexão entre as galerias, postes, bancas de jornais, entre outras. São propostas com suas semelhanças e diferenças, que poderiam muito bem ser aplicadas individualmente ou incorporando parte delas”.
Entendendo a ‘vocação’ de cada rua
Apesar de ser, a princípio, um trabalho acadêmico e de viés técnico, os projetos são uma oportunidade, acredita o professor, de levar esse conhecimento técnico da universidade para a população em geral, uma vez que cada trabalho é detalhado de forma que pessoas leigas possam entender as propostas. Inclusive, a mostra conta com uma urna em que os visitantes podem apresentar ideias para as vias – uma delas, destaca Fernando, seria a de tornar a Marechal Deodoro uma rua coberta, a exemplo do que já foi feito em Curitiba. É possível também votar nas melhores propostas, que, independentemente da aplicabilidade a curto prazo, poderão ser utilizadas, se consideradas viáveis urbana e economicamente, pelo Governo Municipal.
Uma das alunas que participou da iniciativa foi Jacqueline Motta, do oitavo período de arquitetura e urbanismo. Para ela, um dos principais objetivos do projeto desenvolvido pela sua equipe era melhorar a caminhabilidade da rua, priorizando o pedestre. “Pensamos em priorizar o fluxo de pessoas a pé, além de idealizar uma via mais arborizada, com mais bancos. Propusemos uma área de permanência para o PAM da Marechal, oferecendo maior conforto para pessoas de outras cidades que se deslocam até lá e muitas vezes precisam aguardar a condução para o retorno”, explica. Ela diz, ainda, que durante as pesquisas, percebeu que as pessoas não estavam atentas a fatores importantes, como a falta de arborização das duas vias. “Nossa maior dificuldade foi avaliar todos que a rua precisa atender: trabalhadores, moradores, pedestres.”
“Buscamos uma maior acessibilidade para as duas vias”, acrescenta Maria Luíza Lomeu, também do oitavo período e do mesmo grupo de Jacqueline. “É importante pensar em espaços adequados para os camelôs, priorizar a arborização, a segurança. Também apresentamos a proposta de um quiosque de uso diverso, inclusive noturno. Vimos que podemos apresentar ideias para melhorar o ambiente pelo qual as pessoas circulam.”
Fernando Lima acrescenta que o conceito de ruas completas busca, entre outras questões, que as pessoas permaneçam por mais tempo nas vias. “São propostas plenamente viáveis. Se pegarmos a ideia básica de ruas completas e as melhores ideias apresentadas, teríamos um custo-benefício considerável”, argumenta. “É preciso se preocupar com a lógica de urbanização da cidade, priorizar o pedestre, o transporte coletivo, buscar a ‘vocação’ de cada rua, que nem sempre deve priorizar os veículos. Acredito que a principal contribuição da exposição é apresentar propostas de qualidade para Juiz de Fora e trazer a população para o debate.”
Espaços urbanos
Exposição “Juiz de Fora para as pessoas: Marechal Deodoro e Batista de Oliveira na lógica das ruas completas”. Visitação e votação de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h30, no Espaço Cultural Correios (Rua Marechal Deodoro 470). 3690-5715. Até 30 de abril.