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Livro analisa a fotografia no Instagram

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Pesquisa de Mariana Musse durou anos e se concentrou em universitários brasileiros e espanhóis (Foto: Felipe Hutter/Divulgação)

A disseminação das redes sociais tem gerado uma série de questionamentos, e uma delas é estudar como cada pessoa externa sua(s) personalidade(s) por meio de ferramentas como Facebook, Twitter e Instagram. É sobre esta última rede que a escritora e pesquisadora Mariana Musse se debruçou para a tese de doutorado que resultou no livro “Narrativas fotográficas no Instagram”, que será lançado nesta terça-feira (21), às 20h, no Brauhaus. A publicação apresenta os resultados da pesquisa de Mariana na Universitat Pompeu Fabra, em Barcelona, na Espanha, entre 2012 e 2016.

Segundo Mariana, quem a incentivou a mergulhar no tema foi o professor – e futuro orientador da tese – Frederic Solé, que já estava envolvido com questões ligadas às redes sociais. “Sempre fui usuária das redes sociais, mas nunca havia pensado nesse universo como objeto de estudo. Optei então por investigar o Instagram, pois percebia, observando meus próprios amigos, como a fotografia estava sendo utilizada para falar de si, narrar seu cotidiano, expor visões de mundo”, explica.

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Mariana destaca que tudo é exaustivamente fotografado atualmente, ao contrário de outrora. Da comida ao próprio corpo, passando pelos amigos, os pets, o céu, o trânsito, qualquer tipo de evento cotidiano passou a ser fotografado e compartilhado nas redes sociais e em grupos privados como o WhatsApp. “E esse simples hábito de fotografar momentos do dia a dia e compartilhá-los o tempo todo diz muito sobre como estamos nos relacionando com a tecnologia, com o tempo presente, e mostra como as relações sociais estão sendo construídas no ambiente virtual. O fenômeno das selfies, por exemplo, não é instigante buscar compreendê-lo?”

Durante quatro anos, Mariana Musse desenvolveu a pesquisa com estudantes de Barcelona e do Rio de Janeiro, especificamente os da Universitat Pompeu Fabra e UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O objetivo foi fazer um estudo de caso sobre como esses jovens se representam nas redes sociais e se haveria diferenças motivadas por questões culturais ou de localização. O trabalho foi dividido em duas partes, uma dedicada ao estudo teórico e a outra, ao estudo de caso.

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“Foquei, principalmente, no estudo da construção das identidades dos sujeitos no ambiente da internet e das redes sociais; na investigação das formas de se autorrepresentar e como a tecnologia pode estimular esse protagonismo do “eu” na contemporaneidade, abordando questões como o narcisismo e o exibicionismo; e na pesquisa das transformações do uso da fotografia na sociedade contemporânea. Entendemos que a fotografia deixa de ter uma função primordial de memória (como quando fazíamos álbuns de viagens, aniversários, casamentos) para assumir uma função de conectividade, ou seja, fotografamos para nos conectar com os amigos, com parentes e com desconhecidos não mais fazendo esse registro para olhá-lo semanas mais tarde e, sim, para publicá-los imediatamente após serem fotografados. A relação dos sujeitos com a fotografia e com as formas de fotografar mudou com o avanço da tecnologia.”

Para o estudo de caso, foram analisadas 1.240 fotografias dos alunos das duas instituições de ensino, em três categorias: tipo de foto (que mapeava o que estava sendo fotografado e como), representação social (analisando as poses, as expressões, as roupas etc. nas fotografias) e estética da imagem (análise de enquadramentos, ângulo da imagem, uso da luz natural ou artificial). “Buscamos verificar se havia um padrão criado pelas redes sociais para se representar, independentemente da cultura local, ou se esta influenciaria essas formas de se representar. Em se tratando do que é fotografado e da estética das fotografias, as imagens analisadas, em sua maioria, podem ser consideradas iguais. Quando se trata de representação social, não se pode dizer que existe um padrão para se representar. Podemos observar a interferência dos hábitos da cultura local quando são analisadas formas de vestir, posar, sorrir, nas fotografias.”

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Uma nova forma de socialização

Os smartphones se tornaram pequenos computadores de bolso que utilizamos muito mais para navegar na internet, acessar as redes sociais, que para realizar ligações telefônicas, não importa o lugar. Com isso, as formas de as pessoas se relacionarem mudaram nos últimos anos, criando-se e desfazendo-se laços de amizade e afetividade na velocidade de um clique. “As redes sociais têm uma lógica própria de funcionamento, e fatos que ocorrem no mundo ‘virtual’ podem interferir na nossa vida tanto quanto fatos da vida ‘real’. Muitas pessoas veem o uso que é feito das redes sociais como diversão, perda de tempo. As redes, porém, viraram um espaço de socializar, expor opiniões”, afirma.

“É interessante estar em Juiz de Fora e encontrar um interlocutor com interesses em comum em Tóquio, por exemplo, e poder interagir com ele sem precisar pegar o avião e se deslocar até lá. Podemos falar por vídeos com amigos que vivem distantes, encontrar trabalho buscando vagas apenas pela internet, sem precisar imprimir currículos. As barreiras geográficas não são mais empecilho para que haja comunicação, troca de informação e interação rápida e eficiente através da web.”

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E o que torna o Instagram, em que a imagem vale mais que qualquer palavra, tão popular? “O Instagram tem mais de 700 milhões de usuários cadastrados que, ao contrário de outras, utilizam imagens como forma central de comunicação. Isto possibilitou que tivéssemos acesso a diferentes olhares sobre formas de viajar, se divertir, de ver o próprio corpo; enfim, de viver. Por meio de registros de pessoas comuns que fotografam sem pretensão de se tornarem profissionais, temos acesso irrestrito a lugares e situações que antes só poderíamos conhecer se nos deslocássemos fisicamente até eles. Nesse sentido, o Instagram nos permite viajar e conhecer diferentes culturas pela tela de nosso celular.”

 

Narrativas fotográficas no Instagram
Lançamento nesta terça-feira (21), às 20h, no Brauhaus (R. Tavares Bastos 49 – São Mateus)
Pesquisa de Mariana Musse durou quatro anos e se concentrou em universitários brasileiros e espanhóis

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