Gilbert Salles gostava de música, mas não pensar em ser cantor e compositor. Ele até escrevia suas letras, mas não pensava em ir além. Depois começou a arriscar no violão, mas era para ficar por aí. Mas aí a compulsão foi mais forte – como se, ao invés de escolher, fosse “escolhido” pela música, e aos poucos ele virou músico, cantor, compositor. E agora lança neste sábado (22), às 20h, na Sociedade Filarmônica de Juiz de Fora, “Desabafo”, seu álbum de estreia. Com dez canções, sendo nove delas autorias e em parceria, o trabalho produzido por meio da Lei Murilo Mendes ainda tem uma releitura de “Viola violar”, de Milton Nascimento, uma das principais referências do artista.
Para a apresentação deste sábado, Gilbert será acompanhado por Guto Gomes (guitarra), Lula Ricardo (baixo), Gustavo Paraná (violão), Estêvão Teixeira (flautas) e Cacáudio (teclado), além de Rick Guilhem como convidado especial. No repertório, todas as músicas do álbum, duas releituras e mais algumas músicas de autorias dos integrantes da banda.
“Desabafo” foi produzido entre 2017 e 2018 no Nave Studio, com produção de Lula Ricardo e Cristina Nunes, que Gilbert diz serem os grandes incentivadores para que ele decidisse tentar a aprovação pela Lei Murilo Mendes. “Foi difícil escolher o repertório, mas quis privilegiar as parcerias (com Cleber Carvalho, Eduardo Cintra e Zema da Silva, entre outros), e mesmo assim não deu para entrar tudo, pois queria que o álbum tivesse uma coesão em seu tema”, explica.
O resultado do trabalho, garante, foi mais que satisfatório. “Todo o processo de gravação foi muito intuitivo. Cada um foi reconhecendo a ‘coisa’ e agregando valores. De repente ganhou uma dimensão que não imaginava, o resultado foi surpreendente e me deixou muito feliz.
O cantor que não pensava em cantar
Apesar de não ter nenhum músico na família, Gilbert Salles ressalta que a música sempre se fazia presente. Ele lembra, por exemplo, de sua tia limpando a casa ao som de Paulinho da Viola, Michael Jackson e do grupo Earth, Wind and Fire. Sua avó, dona Glorinha (já falecida), foi a primeira a perceber que ali poderia haver um artista. Só que a primeira investida não deu certo. “Quando eu tinha 9 anos, ela perguntou se eu não queria ganhar um violão. Eu disse que não, pedi uma chuteira (risos). Todo garoto sonha em ser jogador de futebol, né?”
A medida que o tempo passava, ele passou a escrever algumas letras, mas sem compor. O violão só foi aprender depois dos 20 anos, mas ainda sem achar que poderia ser cantor ou compositor, às vezes cantando em rodas de viola. Somente em 2008 assumiu de vez as duas personas, participando da banda Trem de Doido. Depois, em 2011, foi o idealizador do grupo KBEÇA, de releituras de músicas pouco conhecidas da MPB. Em 2013 formou-se em canto pela Bituca e fez seu primeiro show autoral em 2014. Além de apresentar algumas composições próprias no Encontro de Compositores, também participou com outros quatro músicos do espetáculo Reverso.
Inspiração com os ‘faixa pretas’
“Desabafo”, o álbum, é o resultado dessa trajetória, em que Gilbert expõe seus sentimentos e sua visão de mundo. “É um pedaço do que tenho a dizer, dessa ansiedade que temos de colocar algumas coisas para fora depois de tantos ‘sapos’ que engolimos. É o que penso, sinto e como vejo a vida, e a forma que encontrei de fazer isso é pela música.” Como inspiração, ele não tem dúvidas em apontar a MPB clássica e a música mineira em particular, os tambores e rituais religiosos, e artistas como Milton Nascimento, João Bosco e Nana Caymmi. “Só gente faixa preta (risos).”
Segundo Gibert Salles, essa trajetória de dez anos apresentada no disco está mais relacionada à questão do músico que passa a se reconhecer como tal, que no início apenas saía para tocar algumas composições sem compromisso. “Demorei a me aceitar como músico. Achava que era apenas mais um cara que gostava de música, mas fui sendo incentivado pelos amigos e fui caminhando. Tenho que agradecer a eles e a todos que me ajudaram na gravação do álbum.”
E agora é a hora de mostrar seu trabalho, que ele chama de “primogênito”, a um maior número de pessoas. “É um prazer enorme ver esse resultado, uma sensação diferente. Não sei qual será a receptividade em relação à minha arte, espero que todos estejam em sintonia para que minha música possa chegar aos corações. Estou tranquilo por fora, mas ansioso por dentro (risos).”
GILBERT SALLES
Lançamento do álbum “desabafo” neste sábado (22), às 20h, na Sociedade Filarmônica de Juiz de Fora (Rua Oscar Vidal 134)