Justamente no ano em que completaria três décadas, o Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga não ocupará os palcos e as igrejas de Juiz de Fora. O evento, iniciado em 1990 pelo Centro Cultural Pró-Música, que tradicionalmente acontece em julho, teve sua edição presencial inviabilizada pela pandemia. “Não está descartada a possibilidade de ele acontecer on-line”, indica a pró-reitora de Cultura da UFJF, Valéria Faria. “Se acontecer, será no final do ano, mas não temos previsão. Investigamos a capacidade técnica por parte dos artistas para que ele aconteça no formato virtual”, acrescenta.
O cachê das apresentações on-line é igualmente alto, e um concerto virtual exigiria um aparato tecnológico ainda desconhecido, o que dificulta a transposição do evento para outro formato. Optar por gravações, por sua vez, é uma saída também custosa. E o próprio Centro Cultural Pró-Música/UFJF sabe disso. Desde março deste ano, a Orquestra Sinfônica Pró-Música mantém os trabalhos à distância e já publicou em suas redes sociais um vídeo com alguns dos integrantes executando trechos de “Hallelujah”, de Leonard Cohen.
Em outros dois vídeos, a formação toca os temas dos filmes “Rei Leão” e “Forrest Gump”. Ainda, em curtas gravações, alguns dos músicos explicam sobre seus instrumentos e executam pequenas peças, tudo direto de suas casas. “Além do trabalho de as pessoas tocarem, tem todo um trabalho de produção e montagem muito complexo”, ressalta a pró-reitora de Cultura, sobre uma produção que pouco a pouco tem sido explorada por outros conjuntos, mas ainda de forma bastante precária, devido à sofisticação técnica que a sincronia e a afinação próprias de uma orquestra exige.
Oficinas para quem?
As oficinas do festival, que envolvem tanto instrumentos antigos como teorias e até mesmo dança, replicam a discussão feita pela própria UFJF acerca da viabilidade de aulas virtuais. De acordo com Valéria Faria, caso o festival aconteça no ambiente on-line, suas oficinas deixariam de fora o público que não tem acesso à internet e aos instrumentos, restrição incoerente com o próprio legado do evento. “O festival sempre estendeu o braço a essa parte da população que não tem acesso, que não pode pagar por um curso de violino. Vamos criar oficinas gratuitas, mas para atender qual público? Debatemos essas questões, que considero difíceis, para pensar o festival”, pontua a pró-reitora.
Interrupção histórica
Patrimônio imaterial de Juiz de Fora, o Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga chegaria, em 2020, à sua 31ª edição, numa trajetória de realizações anuais ininterruptas. Há cinco anos, em 2015, o Centro Cultural Pró-Música/UFJF chegou a anunciar o cancelamento de sua 25ª edição, mas voltou atrás dias depois e realizou o evento em novembro. À época, a universidade alegava ter sido afetada pela duradoura greve dos técnico-administrativos e cortes orçamentários, que comprometiam uma realização de reconhecido orçamento robusto. Antes da incorporação ao órgão federal, em 2011, a instituição fundada pela família Sousa Santos tinha entre seus patrocinadores a gigante Petrobrás.
Desde então, o festival mantém um formato menor, mas ainda com atrações internacionais em sua programação, como a flautista de origem israelense Rotem Gilbert, especialista nas músicas dos séculos XV e XVI, que abriu a edição de 2019. A pandemia, no entanto, não atinge apenas o festival juiz-forano, mas outros igualmente renomados eventos, como o Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, que chega à sua 51ª edição adiado de julho para janeiro, durante o verão, como anunciado na última quinta-feira (16) pelo secretário estadual de Cultura de São Paulo, Sérgio Sá Leitão. Em Minas Gerais, o Inverno Cultural da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e o Festival de Inverno da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) já anunciaram o cancelamento de suas edições deste ano.