Refúgios: segunda matéria da série mostra JF como refúgio temporário
Mauro Morais
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Não era um passo ou dois. A travessia era longa. Aura Coromoto Fonseca, de 54 anos, tomou os quatro netos nos braços e saiu de casa. Levava algumas mochilas com poucas peças de roupas, documentos e alguns remédios. Nada comeram, para deixar para o marido e avô que ficariam na residência. Da rodoviária de San Carlos, capital do estado de Cojedes, no Centro-Oeste da Venezuela, a família seguiu com o projeto de chegar a Pacaraima, em Roraima. A princípio, cruzariam a fronteira num táxi, mas o veículo foi impedido de prosseguir. Naquele 10 de março de 2019, Carlotta tinha apenas 5 anos, o irmão Carlos Daniel, 7, Luis Fernando, 9, e Ruben Daniel, 10. O trajeto durou um dia e meio de barrigas vazias. “O pouco dinheiro que trazíamos ficaram com os guardas da Venezuela”, narra Aura, a avó, referindo-se aos homens que sorrateiramente escondiam-se entre as folhagens e, estrategicamente, aguardavam aqueles que decidiam imigrar do país em crise. Naquele momento, os 15 mil bolívares que a mulher carregava equivaliam a apenas R$ 17,38. “Ficamos apenas com os US$ 20 para pagar os moços que nos traziam até a Polícia Federal. Ele carregou ela (Carlotta), carregou as mochilas, me ajudou muito”, conta ela, que junto dos netos enfrentou montanhas e trilhas abertas a foice. Ao atravessarem um rio, o pé de Aura atolou no barro e ela abandonou a sandália. Restando menos de 3km para pisarem em território brasileiro, já avistando o país vizinho, o guia comprou um biscoito e ofereceu à família. Carlotta, de tanta fome, engoliu a bolacha e logo levou a mão à barriga. Sentia dores. Minutos depois chegaram à Polícia Federal. “Nos deram um copo com sopa”, recorda-se Aura. Continue lendo aqui.