Um dos expoentes da viola caipira, Chico Lobo está de volta a Juiz de Fora. O cantor e compositor se apresenta nesta sexta-feira (22), às 20h, na Biblioteca Redentorista, com o show, gratuito “Um tributo à viola”, no esquema voz e violão. Chico apresenta canções dos seus três trabalhos mais recentes, “Viola de Mutirão”, “Louvação” e “Tempo de paz”, além de clássicos como “Disparada” e “Trenzinho Caipira”, no que define como uma homenagem à tradição do instrumento. O artista também vai falar das tradições da viola e explicar por que ela – na sua visão – “é o instrumento que carrega a alma do Brasil”.
Para Chico Lobo, o show será a oportunidade de retornar a uma cidade especial em sua vida e carreira, onde suas apresentações mais recentes foram em um festival ligado à cultura caipira nos anos de 2016 e 2017, no Cultural, dividindo o palco com Almir Sater e Renato Teixeira. “É muito marcante voltar a Juiz de Fora, cidade que absorve diversas formas de cultura. A viola está na minha vida desde que me entendo por pessoa. Papai recebia as folias de reis na nossa casa em São João del-Rei, o mestre sempre tocava a viola, e desde então eu quis tocar o instrumento. Com 12 anos, ganhei de meu meu pai minha primeira viola, comprada em uma loja na Rua Halfeld. Aos 14 anos, participei dos primeiros festivais, inclusive em Juiz de Fora, e tive a oportunidade de retornar várias vezes com minha vida de artista caminhando.”
Gênero em alta, mesmo que no seu nicho
Com uma carreira que já ultrapassou os 35 anos de estrada (“A viola ajudou a criar meus três filhos”), Chico Lobo acredita que a viola está na contramão da visão pessimista em relação à música em geral. “Estamos no nosso melhor momento, os festivais de viola estão se multiplicando, como o que acontece em Piacatuba (distrito de Leopoldina) há anos, assim como o número de violeiros, as orquestras de viola”, afirma, lembrando que o instrumento foi reconhecido como bem cultural imaterial de Minas Gerais em 14 de junho de 2018.
“A viola recuperou seu espaço com muita força, temos visto uma nova geração que quer conhecer o instrumento, que carrega uma cultura rural, interiorana, que tem chegado à cidade grande. Eu mesmo tive a oportunidade de me apresentar no exterior (China, Portugal, Colômbia) com o apoio dos governos federal e estadual. É preciso saber encontrar nosso nicho, criar nosso público e viver dignamente da nossa arte.”
Quanto a encontrar seu nicho e criar um público fiel, Chico Lobo ressalta um ponto que aprendeu durante sua trajetória: é preciso ser mais que apenas artista, buscando formas de se expressar, ter contato direto com o público, ir à luta e também assumir o lado produtor do processo. “Hoje sou muito ativo nas redes sociais, tentando uma comunicação direta com as novas gerações. Tenho um programa de TV que já tem 14 anos, um programa de rádio; são formas de fomentar o universo da viola. Tenho ainda o Instituto Cultural Chico Lobo, em São João del-Rei, onde ensinamos o aprendizado da viola. Estamos agora com um projeto em Santa Cruz de Minas com 40 alunos. São formas de o artista poder estar em evidência, mostrar seu trabalho. Isso inclui procurar a imprensa. Ter contato com a mídia e artistas locais é fundamental para encontrar seu nicho de mercado.”
Levando a viola para novos públicos
Em um momento em que a classe artística em geral tem enfrentado o descrédito de parte da população, muito em razão do atual panorama político, o violeiro diz observar um movimento no sentido contrário, com essa descrença ligada à cultura do entretenimento e massificação da arte. “Temos visto o retorno de artistas como Almir Sater, Alceu Valença, Renato Teixeira… Ao lado desses artistas, vem a minha geração, que bebeu dessa fonte e desde a década de 90 busca seu espaço”, observa.
Para ele, entre os frutos desse trabalho está toda uma nova geração de artistas surgidos há pouco mais de duas décadas que vão além dos violeiros que ligam o tradicional ao contemporâneo, como Zeca Baleiro, Lenine e Chico César, além de uma turma mais recente a despontar com força. “Busco dialogar com esses artistas. Lancei em 2015 um álbum em que fiz belas parcerias com Arnaldo Antunes, Chico César, Zeca Baleiro, que enviaram letras e ajudaram a enriquecer o universo da moda de viola. A pessoa compreende que a viola não é só para o sertão, o público do interior.”
Essa vontade de expandir os horizontes do gênero é um dos motivos que levaram Chico Lobo a gravar seu próximo trabalho. “Sagração” deve ser lançado em março e terá a obra de Guimarães Rosa como inspiração, marcando o encontro da viola caipira com o violino e violoncelo. O trabalho também rende uma nova parceria, desta vez com Wander Lourenço, de Niterói (RJ). “É um trabalho tecido no encontro da minha viola e voz com instrumentos eruditos. É a minha menina dos olhos”, afirma, animado com o mais novo projeto que pretende levar o sertão de Guimarães Rosa para o grande público.
CHICO LOBO
Nesta sexta-feira (22), às 20h, na Biblioteca Redentorista (Avenida dos Andradas 855 – Morro da Glória)