Site icon Tribuna de Minas

‘Sou misturada mesmo’: Mart’nália faz show em Juiz de Fora neste sábado

PUBLICIDADE
‘Sou assim até mudar’ é o mais recente trabalho da artista (Foto: Nil Caniné/ Divulgação)

Mart’nália já traz no nome uma mistura: a junção do nome do pai, Martinho da Vila, com a mãe, Anália Mendonça. E é ela, pois, a verdadeira mistura – coisa que ela nunca negou. Pelo contrário: fez disso sua forma de fazer música, de viver. A alegria também é coisa que corre solta por ela. Tanto que são sua risada e seu sorriso as suas marcas registradas. Mas é mesmo na música que ela se mostra por completo: seja como cantora, como compositora, produtora, instrumentista ou intérprete. A cantora carioca nasceu para isso. “Foi o que me sobrou”, ela brinca, seguido, é claro, de uma risada – tão presente na entrevista que concedeu por telefone e, parece, em tantos outros momentos. Mart’nália canta rindo porque é na música que encontra a liberdade de ser feliz.

E é assim que ela chega a Juiz de Fora neste sábado (21) para fazer uma apresentação no Sensorial, a partir das 21, com o show “Só sucesso”. A promessa é que ela traga algumas homenagens a músicos que morreram nesse tempo, como Gal Costa, Erasmo Carlos e Marília Mendonça. “Tudo com o meu jeitinho.” Mais um pouco do disco mais recente, o “Sou assim até mudar”. “E um pouco de tudo que me traz e que as pessoas querem ouvir, e canções que eu também tenho saudade de cantar. Não é só o público que tem saudade não, a gente também tem. Eu espero que todo mundo goste, saia levezinho e ‘deixe a tristeza para lá’.”

PUBLICIDADE

Mulher da Vila, do carnaval

Claro que Mart’nália teve influência de Martinho da Vila nesse processo de se entender e perceber enquanto cantora, percussionista e por aí vai. Mas talvez (e também por causa do pai) seja o carnaval a síntese de tudo: dessa ânsia de mistura. “O carnaval é uma alegria que tem. É uma coisa muito importante dentro da minha alegria. E minha alegria é importante para eu soltar a minha arte.” Tanto que a cadência de Vila Isabel está toda ali, passando pelos seus 13 discos e presente onde quer que esteja. “Tem toda essa alegria de se soltar e viver na folia. É dessa alegria e dessa folia que eu tento concentrar na minha música”, explica. E ela afirma: “Não sei ser de outro jeito”.

“Carnaval é misturado. Muita gente junto.” E tanto nos palcos quanto nos estúdios, Mart’nália quer estar envolta dessa gente. Foram, de acordo com ela, outras pessoas que a ajudaram a encontrar seu caminho na música. “Eu acho que eles me levaram diretamente para mim mesma. Dessa forma mais artística, de maneira profissional, e dentro dessa alegria. E foi por aí que eu fui indo e que eu estou indo: me cercando de pessoas, e com os amigos musicais do lado, que são essenciais.” E é essa gente que ajuda, inclusive, a pensar nas misturas que estão presentes em todos os álbuns. Como, por exemplo, neste processo: “Pegar uma galera da bateria da Vila (escola de samba), juntar com não sei quem lá, e pegar a guitarra de não sei quem”. Ou seja: estúdio sempre foi um ambiente de confraternização. De encontros e, claro, misturas. No entanto, essa realidade não era compatível com a pandemia.

PUBLICIDADE

“Sou assim, quem quiser gostar de mim”

“Sou assim até mudar” é mais um dos discos reflexo desse período de gravação em isolamento. Isso, no entanto, não significa que ele seja “para baixo”. É, na verdade, um disco de esperança. “A intenção era fazer uma coisa sobre como foi viver dentro de casa naquele momento. Como foi a minha música dentro de mim. As coisas que eu estava sentindo ali: esperança, medo. E o que a gente mais fez dentro de casa foi conviver com a arte, com a música principalmente. E eu quis trazer um pouco da minha memória musical. Dos bailes do subúrbio do Rio, do samba enredo, que é carnaval e é esperança.” Tudo isso está presente nas músicas escolhidas para compor o álbum: em “Novo normal”, de Serginho Meriti e Xande de Pilares, que fala sobre como era viver na pandemia; nos amores esperançoso de “Sou assim até mudar”, de Tom Karabachian, ou na versão que ela, Zé Ricardo e Nelson Motta fizeram de “Rock bottom”, chamada “Tocando a vida”; e na esperança do samba enredo de 1980 da Vila Isabel, composta por Martinho da Vila, Rodolpho da Vila e Tião Graúna, “Sonho de um sonho”.

Pela primeira vez, Zé Ricardo produziu um disco inteiro de Mart’nália. Ela conseguiu estar ao lado de um amigo, o que foi essencial para as misturas, apesar de não ter conseguido reunir tantos músicos como de costume, e para a alegria que, mesmo em tempos difíceis, ela conseguiu transmitir. “Zé Ricardo me deu confiança por ter partido do subúrbio, da coisa black que eu gosto, de misturar, porque eu sou misturada mesmo, nós somos, e mais ainda com a coisa do Rio de Janeiro, e naquele momento de pandemia. Era uma forma de assinatura carioca.” A alergia? Tirou de onde pode: “Todo mundo tem uma energia que não sabe nem de onde vem, mas vem. E para fazer isso, na pandemia, fazer chegar a energia na casa das pessoas, precisou de mais alegria ainda. E a alegria é essa que eu tenho, não tem jeito. O lance é ficar à vontade com as coisas que a gente está fazendo, aí não tem como não passar um pouco de alegria pelo menos”.

PUBLICIDADE

Apesar dessa certeza, em alguns momentos ela confessa ter pensado: “Estou fazendo isso aqui pra que? Tem ninguém pra ouvir”. Mas foi fácil encontrar a resposta: “É uma coisa de uma necessidade quase fisiológica de tentar fazer essa alegria dentro de casa, de alguma forma”. Foi um período que ela não conseguiu compor tanto. “Eu já não paro muito para compor sozinha, não gosto. E é difícil ver tudo vazio. Então, eu tentei preencher de música e alegria a casa das pessoas que iriam me ouvir, para ficar próximo, mesmo sem poder ficar. E eu me nutri da música de muitas pessoas. E foi dessa forma que eu consegui fazer esse CD: ‘Sou assim até mudar’. Por que quando vai mudar? Eu não sabia. Por enquanto eu sou assim: tento seguir com essa alegria assim, a energia assim. Até eu mudar”, ri.

Exit mobile version