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Luigi Carneiro retorna ao universo musical de ‘Yu Yu Hakusho’

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Cantor (segundo da esquerda para a direita) se reuniu com outros músicos para a gravação do álbum (Foto: Felipe Turbian/Divulgação)

“Yu Yu Hakusho” foi um dos animes mais populares no Brasil nos anos 90, numa leva que tinha produções como “Cavaleiros do Zodíaco”, “Dragon Ball” e tantos outros. Exibida pela extinta TV Manchete a partir de 1997, a adaptação do Studio Pierrot para o mangá de Yoshihiro Togashi foi um sucesso não somente pela sua história, mas também pelos temas adaptados para o português pelo cantor e compositor juiz-forano Luigi Carneiro. Este ano, ele e o produtor Hans Zeh e a cantora Carla Castro conseguiram engajar fãs para uma campanha de crowdfunding que permitiu lançar um álbum (em CD e vinil) com as versões originais dos temas, regravações ampliadas e atualizadas, além de algumas inéditas. Quem apoiou por meio da compra dos compact discs, inclusive, já começou a receber suas cópias.

Luigi conta que o retorno ao universo musical do anime teve início em 2017 com o projeto “YuYu20”, em que o trio começou a regravar a trilha com versões mais extensas e trechos inéditos em português, além das faixas nunca antes gravadas, sendo que algumas foram lançadas em singles e lyric videos produzidos em parceria com o site JBox.

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Animados com o retorno por parte dos fãs, eles partiram em junho para a campanha de financiamento coletivo que garantiria a prensagem de 300 CDs e 300 LPs com as adaptações originais e suas releituras. De acordo com Luigi, a meta de R$ 30 mil foi alcançada em menos de uma semana, tendo chegado ao seu final, em agosto, com a arrecadação de invejáveis R$ 93 mil. Graças ao apoio dos fãs, o músico _ que mora nos Estados Unidos há mais de 20 anos – teve os custos de viagem pagos para poder retornar ao Brasil a fim de participar da live _ uma das recompensas para os apoiadores _ realizada pelo canal do JBox no YouTube em 25 de setembro. Uma segunda ocorreu na última quarta-feira (13), dois dias antes do retorno de Luigi para os States, na sexta (15). O músico aproveitou para passar alguns dias em Juiz de Fora e rever parentes, o que não acontecia desde 2016. “O objetivo é retornar em 2022 para mais shows.” O álbum deverá chegar às plataformas de streaming entre fevereiro e março do próximo ano.

“Os LPs têm o problema sério de fornecimento de acetato, que é a matéria-prima para os discos. No Brasil, as duas empresas que procuramos pediram prazo para junho ou julho de 2022, mas o Hans descobriu uma empresa na Bélgica que vai entregar antes, e ainda vai sair mais barato”, explica Luigi. “Teve gente que comprou os dois como item de colecionador, principalmente o LP.”

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Luigi Carneiro escreveu as versões em português da trilha de “Yu Yu Hakusho”, que se tornou popular entre os fãs do anime (Foto: Gabriella Carneiro/Divulgação)

Tradição japonesa e “alma” brasileira

Assim como boa parte da turma que já passou dos 40, Luis Henrique Carneiro (nome de batismo do cantor, que passou a usar o “Luigi” nos Estados Unidos) curtia na infância séries de tokusatsu como “Ultraman” e “Ultraseven”, além do clássico anime “Speed Racer”, mas nem imaginava que a cultura pop japonesa faria parte da sua vida profissional e artística. Ele se mudou para São Paulo com os pais aos 10 anos de idade, e lá chegou a gravar em 1990 um álbum com a banda Alderan, produzida pelo tecladista do RPM, Luiz Schiavon.

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Com o fim do grupo, ele passou a trabalhar com a gravação de jingles _ de acordo com ele, já foram cerca de 330 -, e em 1992 foi contratado para gravar a versão em português do tema da série de ação “Solbrain”, que logo de cara provocou estranhamento. “Perguntei se era para cantar daquele jeito que foi traduzido, pois vi que a métrica não estava legal. Aquilo me incomodou muito”, relembra.

Cinco anos depois, Luis Henrique seguia fazendo gravações de jingles e produzindo músicas para artistas como Rodrigo Faro quando surgiu a oportunidade de trabalhar com versões para a trilha de “Yu Yu Hakusho”. “Eu disse que tinha interesse se pudesse escrever as letras não como uma tradução literal, que não deixaria de respeitar as tradições japonesas, mas que teriam também a ver com a nossa capacidade de superar as adversidades. Queria algo que fosse correto dentro do contexto das duas línguas”, explica, Luigi. “As músicas tiveram uma resposta muito grande do público na época, e depois que a série saiu do ar entrou no circuito de redes sociais como o Orkut e Myspace, além do YouTube.”

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Luigi explica que as composições para a trilha tinham entre 30 e 45 segundos de duração, o necessário para os temas de abertura e encerramento, e que para baixar os custos de gravação muitas delas foram gravadas com bateria e baixo eletrônicos _ desde o início, Hans Zeh não queria apenas fazer playback a partir das bases originais. Mais para frente, o cantor e compositor passou a encontrar na internet pessoas que fizeram versões ampliadas da música, e resolveu voltar a mergulhar mais profundamente nesse universo.

“Eu sentia que algumas versões não estavam dentro do formato da poética que usei para as versões originais, e topei na hora quando o Hans sugeriu regravarmos as músicas do ‘Yu Yu Hakusho’ com outros músicos, com uma roupagem contemporânea mas que respeitasse os arranjos originais. Começamos a gravar novas versões, produzir vídeos com o pessoal da JBox, e isso teve uma repercussão que nos animou a fazer o crowdfunding”, diz.

Projeto teve início em 2017 e foi concretizado após campanha de financiamento coletivo (Foto: Reprodução)

Reconhecimento dos fãs

A entrada de “Yu Yu Hakusho” na vida de Luis Henrique é repleta de boas lembranças. “Com os comerciais que fazia para rádio e TV, eram trabalhos que entregava e seguia em frente. Porém, quando me chamaram em 1998 para me apresentar na Mangá Con, a resposta foi impressionante quando subi no palco. A gente ouvia o pessoal cantando todas as músicas, percebi ali que havia uma resposta. Mas aí me mudei para os Estados Unidos, e por volta de 2004 ou 2005 descobri que ainda havia fãs da trilha quando me contaram que havia uma comunidade no Orkut com quase 50 mil pessoas. Não era fácil me achar porque havia mudado o nome artístico, mas desde então mantenho contato com os fãs, converso com vários deles todos os dias. Muitas mensagens são emocionantes, de gente que diz que as letras mudaram suas vidas e ajudaram em momentos difíceis, a ter forçar para progredir. Era o objetivo que tinha com as letras.” A Netflix está produzindo uma versão “live action” de “Yu Yu Hakusho”.

Há 21 nos morando nos Estados Unidos, Luigi passou a gravar para estúdios locais e também para clientes do Brasil, além de trabalhar como produtor para artistas do estado de Utah, onde vive. Ele lançou seu primeiro álbum solo, “Staring at paradise in times of chaos”, em 2019, produzido pelo amigo Marcelo Lima _ com quem já trabalha em novo projeto. “Fiquei alguns dias na casa dele, em São Paulo, nessa temporada aqui no Brasil, e começamos a trabalhar em novas composições. Acredito que daqui a um ano, mais ou menos, ele seja lançado”.

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