Site icon Tribuna de Minas

Escola de Artes Pró-Música se prepara para abrir as portas

PUBLICIDADE

 

“Qual animal é esse aqui?”, perguntou a estudante do quarto período da licenciatura em música Sandriana Rodrigues Peron, de apenas 21 anos, enquanto erguia um cartão com a imagem de uma vaca. Rapidamente as quatro crianças de 3 e 4 anos a sua frente responderam acertadamente. Sandriana, a Tia Sand, como se apresenta aos pequenos, fez outro questionamento: “Qual o som que a vaca faz?”. Em coro, uma menina e três meninos emitiram um mugido com direito a biquinho e mãozinhas no rosto para ampliar o som. “Esse som é grave ou agudo?”, interrogou a mais velha da turma. Lemoni Húngaro Rodrigues, de 4 anos, se apressou em defesa do grave. Sandriana apontou para o piano, então, e pediu que a garota de cabelos louros mostrasse nas teclas de um piano onde ficava um som próximo do “muuuuu” que ela e os colegas haviam emitidos segundos antes. Nos minutos que se seguiram, Lemoni, Davi, Miguel, os três de 4 anos, e Luca, de 3, tocaram o pau de chuva, instrumento que simula o som da natureza, também conheceram um ganzá, um xilofone e, cada um em sua vez, regeram os amigos com o balanço das mãos. Alunos da turma das 16h de quinta-feira da oficina de musicalização oferecida numa das salas do Instituto de Artes e Design da UFJF, o quarteto integra o universo de 263 crianças inscritas e frequentes no projeto de maior alcance da Escola de Artes Pró-Música/UFJF, ainda em fase de implantação, mas com algumas atividades já em funcionamento.

PUBLICIDADE
Com fila de espera, oficina de musicalização terá sequência dos trabalhos a abertura da escola. (Foto: Felipe Couri)

De acordo com a coordenadora do projeto, a professora do departamento de música UFJF Luana Roberta Oliveira de Medeiros Pereira, em 2017 eram apenas 20 vagas, que atraíram mais de 100 crianças. “Decidi abrigar todas elas. Num primeiro momento, abrimos 22 turmas”, recorda-se ela, que cuida de cinco das atuais 32 turmas com alunos de 0 a 7 anos e 11 meses, que convivem harmoniosamente com os jovens estudantes do instituto. Durante as tardes no IAD, cujas paredes ostentam coloridas pinturas e das salas saem músicas cantadas ou tocadas, não é raro ver crianças correndo pelos corredores. “Eles alegram o prédio”, comenta Luana, explicando que, a partir dos 3 anos, iniciam os estudos com a flauta doce e, depois, com o violino. “A flauta é um instrumento de fácil acesso, barato e com o qual a criança pode estudar em casa. Escolhemos ele porque é facilitador mesmo.”

Há um ano a assistente social Ana Valéria Rodrigues, de 41 anos, leva o filho Miguel, 4, para a musicalização. “Queria colocá-lo para interagir de alguma maneira com a musicalização e também com outras crianças. Ele não está inserido em creche ou escola e achei que esse contato seria muito interessante. Ele se adaptou bem. Está sendo muito bom para o desenvolvimento dele. Ele canta, fala o que é feito com os colegas, mostra as brincadeiras em casa”, conta a mãe. “São brincadeiras, e através delas conseguimos trazer resultados, sejam eles estímulo para fala, seja da concentração para percepção, ou do ritmo, do andamento, da coletividade. São muito amplos os resultados, e analisamos cada criança particularmente”, explica a bolsista Sandriana.

PUBLICIDADE

Bolsista na oficina de musicalização com violino, a estudante do quarto período de licenciatura em música Adjane Cristina de Oliveira, 20, observa que todas as atividades apresentam um propósito específico que atua na direção de inserir as crianças no universo sonoro. “A musicalização tem sido um ponto de referência cada vez maior no Brasil. Tanto é que muitos pesquisadores de fora têm interesse em estudar o que acontece aqui através da musicalização. As mães estão conhecendo mais e querem que os filhos se desenvolvam de outras formas. Estimulamos as crianças em apresentações no fim do ano, e isso ajuda a dar visibilidade ao projeto”, pontua Adjane.

Aulas de musicalização estão acontecendo em salas do Instituto de Artes e Design no campus da UFJF, com 32 turmas. (Foto: Felipe Couri)

A formação para a formação

Pesquisadora dos efeitos da musicalização, Luana Pereira defende a musicalização não apenas como contato com as artes, mas, principalmente, como oportunidade de formação integral do ser humano. “Nós precisamos não só da matemática e do português, mas da formação artística também. Ter essa oportunidade na escola seria saudável e transformador, já que ela traz concentração, disciplina e experiência de dinâmica de grupo. A música contribui para outras práticas pedagógicas que não só as musicais”, sugere a professora, também coordenadora do bacharelado em música da universidade. Outro aspecto fundamental na proposta é a formação dos próprios alunos do instituto. “Quando vim para a UFJF, logo precisei ministrar as disciplinas de estágio supervisionado. E ali vi a oportunidade de ensinar os alunos a musicalizar, visto que nem todas as escolas básicas possuem música no currículo. Os alunos têm aula de artes, mas não de música. Meus alunos não tinham onde fazer estágio, e criei o projeto também no intuito de atender essa demanda e para que eu ensine meus alunos a dar aula de musicalização”, destaca.

PUBLICIDADE

Segundo o professor do Departamento de Educação da UFJF e diretor do Centro Cultural Pró-Música/UFJF, Marcus Vinícius Medeiros Pereira, as oficinas de musicalização serão um primeiro passo no aprendizado proposto pela Escola de Artes Pró-Música/UFJF. “A oferta de vagas da musicalização será ampliada com mais bolsistas, e pretendemos oferecer algumas turmas no Centro, porque o espaço do IAD não comporta mais a grande demanda que tem existido”, comemora, explicando a diretriz pedagógica do novo centro. “Pretendemos atingir o maior número de pessoas possível. A princípio, a iniciação musical que vamos oferecer será feita em grupo. Haverá aulas individuais, mas pretendemos fazer a aproximação inicial do aluno com o instrumento musical na metodologia do ensino coletivo. Assim conseguiremos formar grandes grupos, e os alunos, além da técnica do instrumento, que vão aprimorar em aulas individuais, terão contato com a prática coletiva.”


Com a placa nova instalada na fachada, casarão que abrigou a Casa de Cultura já recebe oficinas este mês. (Foto: Fernando Priamo)

Casa prestes a abrir como escola

Anteriormente denominado Casa de Cultura, o casarão de número 3.372 da Avenida Rio Branco, num passado um pouco mais distante, também serviu ao Centro de Estudos Murilo Mendes, sendo a primeira casa juiz-forana do acervo do poeta Murilo Mendes. Hoje ostenta na fachada a placa com o nome Escola de Artes Pró-Música/UFJF. Os pianos já se mudaram para o local, mas ainda faltam mobílias, além de uma pintura geral no imóvel. “Falta uma infraestrutura burocrática de secretaria, para que tenhamos um controle dos alunos. Precisamos de um impressora para impressão de material, de partituras, e também reforçar a internet. Atrasa sempre um pouco, porque é um imóvel histórico e não é qualquer alteração que pode ser feita, mas está bem próxima de ser concluída”, diz Marcus Medeiros, sem citar datas. Os cursos de instrumentos, segundo o diretor do Centro Cultural Pró-Música/UFJF, vão depender da disponibilidade de bolsistas do curso de música da UFJF, que hoje possui formações em violino, violoncelo, piano, flauta transversal, canto, além da licenciatura, com alunos que dominam instrumentos de sopro como trompete, trombone e trompa.

PUBLICIDADE

“Como vamos trabalhar com bolsistas e alguns professores e técnicos do curso de música, o projeto acaba tendo um aspecto formativo muito importante para os alunos da graduação, que terão a experiência de trabalhar de uma maneira supervisionada dando aula, uma das ações muito presentes na vida dos músicos. Observamos que muitos de nossos alunos já dão aulas em outros espaços e, na escola que estamos criando, eles vão ter o suporte da universidade, seja na orientação da escolha de repertório, seja na orientação da prática pedagógica. Esperamos que a escola esteja articulada ao curso de licenciatura como um local para prática de ensino, e, posteriormente, servindo a algumas das horas do estágio supervisionado”, observa Marcus, ressaltando a relevância dos cursos livres, que durante décadas foram os responsáveis pelo legado de produção e de profissionais deixados pelo centro cultural criado pela família Sousa Santos. “Os cursos livres têm sua importância, principalmente, no caráter voluntário do aluno, que se dispõe a aprender, configurando, assim, um dos principais espaços de formação para futuros profissionais da música.”

Oficina “Laboratório Poéticas do Corpo” começou na última quinta-feira com 15 vagas. (Foto: Fernando Priamo)

Oficinas começam esta semana

Ainda que as portas não estejam totalmente abertas, não estão de todo fechadas, já que nesta semana começam no endereço da Rio Branco três oficinas de artes gratuitas e cuja inscrição pode ser feita por formulário digital disponível no site da Pró-Reitoria de Cultura (ufjf.br/procult), responsável pela Escola de Artes Pró-Música/UFJF. Na última quinta (17), foi iniciado o “Laboratório Poéticas do Corpo” (15 vagas). Na próxima quarta-feira (23), começam a “Oficina vetorização básica e mockups” (10 vagas) e o “Laboratório de histórias em quadrinhos” (16 vagas). Já na sexta-feira (25), tem início a oficina “A imagem e o imaginário” (20 vagas). Todas as turmas integram as mediações artísticas do Programa de Bolsas de Iniciação Artística. A escola, atualmente, reúne 26 bolsistas, quadro que deve ser renovado para 2020.

Exit mobile version