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Aos 80 anos, Paul McCartney segue arregimentando gerações de fãs

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Juliana Carvalhaes virou fã de Paul McCartney na infância e, por influência do ex-beatle, aprendeu a tocar contrabaixo (Foto: Fernando Priamo)

Parafraseando a famosa manchete: de repente, quando menos se espera, sir Paul McCartney chega aos 80 anos de idade. O músico, cantor e compositor inglês, ex-integrante dos Beatles, a maior banda de rock do século XX – e, até, que se prove o contrário, de todos os tempos – tornou-se um senhorzinho octogenário no último sábado (18). E podemos dizer que com a mesma disposição de garoto de seis décadas atrás, quando o quarteto de Liverpool lançava o single “Love me do”: além de ter lançado seu 18º álbum de estúdio (“McCartney III”) em 2020, em meio à pandemia, o artista voltou a realizar seus tradicionais shows com cerca de duas horas e meia de duração – e não é “turnê de despedida”, vale dizer.
Para celebrar os 80 anos de vida do autor de “Yesterday”, “Eleanor Rigby” (as duas creditadas como parcerias com John Lennon) e “Live and let die”, a Tribuna conversou com fãs de McCartney espalhados pelo Brasil, que contaram como descobriram o artista, histórias que marcaram os shows que assistiram, e também falaram sobre as coleções de álbuns, camisas, ingressos, bonecos, além do que levou o ex-beatle a se manter como um dos artistas mais queridos e relevantes do mundo da música.

Com Paul em Floripa

De Juiz de Fora, a estudante Juliana Macuco Leite Carvalhaes, 23 anos, conheceu Paul McCartney – e se tornou fã do inglês – em 2010, quando o cantor voltou ao Brasil para mais uma turnê. Ela conta que uma das apresentações foi transmitida pela TV Globo e que sua mãe, Jacqueline, fez questão que ela assistisse, mesmo que ninguém em casa fosse fã do ex-beatle.
“Assisti ao show e fiquei encantadíssima, obcecada, e fiz toda a família a se tornar fã”, relembra, acrescentando que aprendeu a tocar baixo e violão – principalmente o primeiro instrumento, durante a pandemia – por causa de McCartney. “Foi quando pude comprar meu primeiro baixo, mas sempre que encontrava um baixista tentava tocar uma música do Paul. A primeira que aprendi foi ‘All my lovin’ (do álbum ‘With The Beatles’).”
Juliana conseguiu assistir a dois shows de Paul McCartney, sendo o mais recente o realizado em 2014 no Rio de Janeiro. O primeiro foi bem longe: em Florianópolis, há dez anos. “Ele tinha tocado no Rio em 2011 e não pude ir, mas minha mãe prometeu que iríamos ao próximo, não importando onde fosse. E o próximo foi em Florianópolis, aonde fui com meu pai. Foi meu primeiro show internacional, e o Paul respondeu o cartaz que levei para o show. Nele estava escrito ‘Hold me tight tonight’ (‘Me abrace forte esta noite’, em alusão a uma música dos Beatles), ele viu, deu um sorriso e se abraçou como se estivesse me abraçando. Ele foi fofo demais.”
Um mês depois, com a autorização dos pais, ela fez uma tatuagem com a assinatura de Paul McCartney. Além de levar o artista na pele, a estudante tem vários álbuns de McCartney e dos Beatles em CD, além de camisas e ingressos dos shows, uma miniatura do famoso contrabaixo do cantor, uma pasta com várias matérias e artigos tirados de jornais e revistas, até mesmo o papel picado e um dos corações que eram distribuídos na turnê.

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Paul McCartney está na estrada com a “Got back tour” e deve passar pelo Brasil em 2023 (Foto: Instagram/Paul McCartney)

McCartney acima do Gre-Nal

Descendo até Porto Alegre (RS), o professor de história Christian Ordoque, 49 anos, é mais um que conheceu Paul McCartney na infância. No caso dele, porém, não foi graças a um show, e muito menos por causa dos Beatles. Seus pais tinham um álbum do Wings – banda formada por McCartney após a dissolução dos Beatles -, que foi seu primeiro contato com o artista. Depois vieram os álbuns solo de Paul, e só então foi ouvir os discos dos quatro rapazes de Liverpool.
“Meu pai tinha poucos discos dos Beatles, e eram mais coletâneas. Depois comecei minha discografia do grupo, e desde o início sempre gostei muito das melodias e canções dos Beatles cantadas pelo Paul. Ele sempre foi mais melódico, delicado e sutil em relação ao John Lennon, que era mais visceral”, analisa. “Só depois fui perceber que as primeiras músicas dos discos dos Beatles sempre eram cantadas pelo Paul.”
Atualmente, Christian tem toda a discografia dos Beatles, e aos poucos vai completando a carreira solo de Paul McCartney, tanto em CD quanto em vinil. “Sempre que encontro um disco num preço razoável, eu compro”, diz, mas sua coleção vai além, como ingressos, bonecos e outras memorabílias.
O show a que Christian e a esposa Iris assistiram na capital gaúcha tem detalhes que merecem a frase “senta que lá vem história”. Para começar, ele tinha feito uma cirurgia de estômago há cerca de 20 dias quando foi para a fila, de madrugada, a fim de comprar os ingressos, apesar da dor. No dia da apresentação, o segurança estranhou a garrafinha com um líquido que ele carregava na hora da revista, e ficou surpreso quando ele explicou que ainda estava se recuperando da cirurgia, e que o líquido era analgésico.
Mas o nível de admiração em relação a Paul McCartney sobe ainda mais quando se descobre o que ele fez para ter prioridade na hora de comprar os ingressos. “O show era no Estádio Beira-Rio, do Internacional, e, apesar de ser gremista, me associei ao clube só para ter prioridade na hora da compra dos ingressos”, conta. “Meus amigos gremistas ficaram chateados, mas o Paul McCartney está acima da rivalidade do Gre-Nal. Como a minha esposa é colorado, continuamos sócios por um tempo.”

Dezesseis shows, e contando

Moradora de São Paulo, a jornalista Giullia Gusman é a recordista do trio de fãs quando o assunto é shows de Paul McCartney. Ela assistiu a nada menos que 16 apresentações; a última, inclusive, foi a primeira no exterior, na cidade norte-americana de Los Angeles, no dia 12 de maio deste ano. “É a primeira turnê dele depois da pandemia, e foi engraçado porque tem uma vibe diferente, mais tranquila. O público não vibra tanto, e percebemos que os fãs de lá são bem mais velhos que os daqui; tem mais senhores e senhoras, e aqui a gente vê um pessoal mais jovem.”
O primeiro show de McCartney a que Giullia assistiu foi em 2010, em São Paulo, no Estádio do Morumbi. Para assistir à apresentação, ela conta que precisou contar com o famoso “paitrocínio”. “Enchi o saco para comprar o ingresso, e acabou que fui com minha mãe e irmã. Como ficamos longe, só vi um pouquinho dele, foi como um Playmobil, mas valeu a pena.”
A partir de 2014, já trabalhando como estagiária, passou a juntar o próprio dinheiro para acompanhar o ex-beatle em suas passagens pelo Brasil. Foi assim que, além de assistir aos shows, conheceu cidades como Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Salvador e Curitiba. “No show de Brasília, em 2014, fomos em seis para dormir na fila, em apenas uma barraca, para conseguir ficar na grade. Dormimos quase um em cima do outro, mas valeu a pena.” A apresentação preferida, entretanto, é a da capital mineira, no ano anterior.
“Meu sonho era assistir à abertura de turnê dele, mas geralmente começam nos Estados Unidos ou em algum país da Europa. Mas essa turnê começou em Belo Horizonte e ele tocou muita coisa diferente no setlist, ouvimos muita coisa em primeira mão. A música de abertura foi ‘Eight days a week’, que ele não tocava desde a época dos Beatles, e teve muita coisa que ele nunca tinha tocado ao vivo, como ‘Another day'”.
E como Giullia se tornou fã dos Beatles em geral, e de Paul McCartney em particular? Ela conta que foi por acaso, ao encontrar em casa a coletânea “#1”, do grupo de Liverpool, que pertencia a seu pai. “Comecei a ouvir e não parei mais, até decorar tudo. Passei a procurar pelos álbuns deles, criei uma conta de fã-clube no Twitter para compartilhar curiosidades, e calhou com a época que o Paul anunciou os shows no Brasil, e isso intensificou o amor pelos Beatles”, relembra. “Mas o Paul é o meu favorito desde o início.”
A coleção de Giullia conta com todos CDs dos álbuns lançados por McCartney, e sempre que possível compra as versões em vinil (“Já tenho 80% dos discos do Paul”). Das turnês, sempre compra as camisas dos shows, além do livro de cada tour, mais livros e biografias sobre o artista.

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Velho demais para o rock and roll?

Com uma carreira que ultrapassa as seis décadas, Paul McCartney segue querido e seguido por uma legião de fãs. Para Christian Ordoque, a carreira do ex-beatle teve seus altos e baixos – principalmente, na sua opinião, na década de 1980 -, mas ele vê no cantor o “último cara que é um gênio da música”. “O Bob Dylan pode ser considerado um gênio também, mas o Paul é o cara que sabe se comunicar com a massa, que meu pai gosta, as crianças também, que até a minha avó de 94 anos conhece. E sempre pregando uma coisa que precisamos muito, que é a ‘good vibe’, espalhando coisas boas para as pessoas que estão em volta. É assim que mudamos o mundo, na relação entre as pessoas. Geralmente, quando você ouve um álbum dele, fica melhor do que estava antes.”
“Acho que, tanto nos Beatles quanto na carreira solo, a mensagem que ele passa é atemporal. Independentemente da idade, a pessoa vai ouvir os Beatles ou o Paul na carreira solo e se identificar”, opina Giullia Gusman. “Com certeza é o beatle mais carismático, que melhor soube lidar com a fama e tem muito carinho com os fãs. É um gentleman”, afirma Juliana Carvalhaes, que comenta ainda o fato de o artista chegar aos 80 anos lançando álbuns e fazendo suas turnês. “Fico muito orgulhosa. Ele parece estar rejuvenescendo, parece sempre mais cheio de energia, o Paul realmente se supera todo ano.”
Por ter assistido recentemente a um show do ex-beatle, Giullia destaca a energia de McCartney no palco. “É impressionante. Fui para Los Angeles com dois amigos, e a gente achou que por conta dos dois anos de pandemia ele reduziria a duração do show, pois ele fazia apresentações de duas horas e meia, 30 músicas. E ele segue com o show da mesma forma; até bate uma preocupação, pois são 80 anos de idade, mas fico feliz por vê-lo assim, tão ativo.”
“Se pararmos para pensar, é uma baita geração: McCartney, os Rolling Stones, Roberto Carlos, Caetano Veloso. Ele faz parte de uma geração muito poderosa, nesse sentido”, pontua Christian. “Agora ele está voando em velocidade de cruzeiro, com uma saúde maravilhosa, shows de quase três horas e tocando de fato. Se você for ver, só o McCartney e os Stones fazem isso hoje em dia.”

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