No cenário antes repleto por mesas, brindes e risos, hoje está uma porta de metal cerrada. Na porta, algumas motocicletas. A paisagem da maioria dos restaurantes de Juiz de Fora mudou radicalmente esta semana. Em decreto assinado pelo prefeito Antônio Almas na noite da última quarta-feira (18), estabelecimentos do gênero podem funcionar respeitando a distância mínima de dois metros entre as mesas, mas devem priorizar a entrega em domicílio. O movimento de fechamento de bares e restaurantes e a adesão ao delivery já vinha se fazendo realidade na cidade desde o início da semana.
Antes mesmo da determinação municipal, o restaurante Poleiro do Galo, em São Mateus, cerrou as portas e decidiu-se pelo funcionamento exclusivo por delivery, fato inédito na história da casa. “Delivery nunca foi uma realidade e um desejo nossos, mas pelas circunstâncias nos vimos obrigados a fazer isso. A gente tomou essa decisão por que a situação é muito crítica. Não sabemos das consequências e decidimos fechar para preservar os funcionários e os clientes. Seguimos as orientações do isolamento social para evitar a disseminação desse vírus”, justifica o empresário Yoshio Shubo, um dos sócios do local.
As reuniões constantes no tradicional restaurante focam novos protocolos e, principalmente, novas atuações. “Os garçons vão nos ajudar a fazer as entregas em um raio de 300m, o que pode ser feito a pé. Quem tem moto vai fazer a entrega nas demais distância”, diz o empresário, citando ainda, estar fechando contrato com empresa de moto-entrega para auxiliar na demanda. O serviço, no entanto, já pratica outros valores atualmente, segundo Yoshio. “Aumentou mais de 50%, por isso ainda estamos negociando.”
No restaurante Sushi2You, no Alto dos Passos, toda a dinâmica foi alterada, já que funcionários enquadrados no grupo de risco da doença foram dispensados, afim de que façam isolamento social. O salão foi fechado, e o serviço de delivery funcionará, portanto, apenas no turno noturno. “Com a equipe reduzida, concentramos em apenas um turno. Então também teremos esse impacto no faturamento”, lamenta o proprietário Caio Schubert. “Essa foi a forma que encontramos de proteger nossos funcionários, nossos clientes e também incentivar outros empresários a fazerem o mesmo.”
Abrindo apenas para entregas em domicílio e para clientes que preferem retirar no local, a cervejaria e restaurante Bravo Beer inicialmente cancelou seus eventos de finais de semana, e depois fechou as portas, dispensando parte dos colaboradores. “Esperamos que o fortalecimento do delivery ajude as pessoas que estão em casa, dando alternativas de alimentação e evitando que precisem sair para comer”, aponta Jhonny Franco, um dos sócios do estabelecimento. Para ele, o serviço de entrega apenas minimiza o problema do fechamento. “O volume é muito menor.”
O hábito será alterado? As mesas cairão em desuso?
Passado esse período de isolamento social, o que restará na noite juiz-forana? À pergunta, não existem respostas. Apenas prognósticos entre o realismo e o otimismo. “Nosso compromisso hoje é pagar o salário de nossos funcionários”, assegura Yoshio Shubo, sócio do restaurante Poleiro do Galo. “Há uma tendência em aumentar o consumo do delivery, mas ainda não percebemos esse aumento. Está recente, então pode ser que isso aconteça nos próximos dias. Mas nossa prioridade não está em atender uma quantidade ainda maior de pedidos, e sim, atender da forma mais segura a demanda que já temos”, afirma Caio Schubert, do Sushi2You.
“O delivery não supre a venda de loja”, concorda Paulo Oliveira, da Rellicário “É um momento de muitas incertezas, muita insegurança. Se a gente tivesse uma data para saber quando vai acabar tudo isso. Mas não temos. Não existe essa data. Não existe esse tempo”, lamenta. “A rotina é totalmente nova. Fechamos as portas e estamos nos reestruturando. Temos uma equipe muito unida e estamos preparados para passar por esse momento”, garante Shubo. “Nossa aposta é ser o delivery mais rápido da cidade. Nossa expectativa é fazer a entrega em, no máximo, 30 minutos. Vamos nos diferenciar nesse quesito”, conta o empresário, certo de que a concorrência no delivery se acirrará a partir de agora.
Segundo Jhonny Franco, da Bravo Beer, a onipresença do delivery é um paliativo para o isolamento social. “Espero que algumas que não tinham o hábito possam passar a tê-lo. De qualquer forma, prezamos muito pelas relações pessoais e torcemos para que o quanto antes possamos retornar às atividades normais”, diz. “Acredito que vai gerar um novo hábito de consumo, mas as pessoas voltarão aos estabelecimentos assim que a situação estiver controlada”, concorda o proprietário do Poleiro do Galo. “O ser humano precisa de um contato social. Esse hábito está sendo imposto, mas não será perene”, acrescenta.