Há 35 anos Pão de Canela se tornou o sobrenome de Dona Maria. “Quando minha avó começou a fazer o pão de canela, não fazia para vender. Ela tinha ganhado a receita de uma amiga e fazia para mandar como merenda para a roça e para os filhos comerem em casa. Um dia ela colocou na janela para esfriar e um turista passou e quis comprar. Foi aí que ela percebeu que aquilo poderia dar uma renda”, conta a neta Luana Ribeiro sobre a pioneira no comércio de um quitute hoje considerado sinônimo de Conceição do Ibitipoca, em Lima Duarte.
Há nove anos, já bastante debilitada, Dona Maria deixou de fazer o pão, legando o ofício à nora Elza e à neta Luana. Acompanhava a produção sempre que conseguia. “Todos os conhecimentos foram passados por ela”, reconhece Luana, assegurando seguir à risca a receita e os ensinamentos da matriarca, falecida na primeira meia hora desta terça-feira (19). Dona Maria já sofria com problemas pulmonares desde jovem, mas o quadro se agravou recentemente, tanto que nos últimos tempos dependia de oxigênio.
Em casa, Dona Maria permaneceu até a última sexta-feira (15), quando foi internada em Lima Duarte. Tinha uma paixão pela pequena vila, onde seu corpo foi velado, dentro de casa, e enterrado às 11h desta terça (19). Em Ibitipoca ela nasceu, cresceu, se casou e teve quatro filhos. “Ela que deu início ao pão de canela para o turismo aqui”, pontua Luana, 27 anos, cheia de lembranças da casa da avó sempre perfumada pela canela dos pães. “Cresci em volta da mesa. Eu e meu irmão estávamos sempre sassaricando, esperando o pão ficar pronto”, narra, bastante emocionada.
A receita compartilhada
Muito generosa, Dona Maria não guardou para si a receita que descobriu lucrativa. “Quando começou a fazer sucesso, muita gente vinha e ela dava receita. Mas ela dizia que o toque principal era o carinho com que fazia o pão”, observa a neta, num lugarejo hoje rodeado por placas anunciando pães de canela feito por muitas outras pessoas. “Nunca comi outros pães”, orgulha-se Luana, que no início da pandemia construiu um novo fogão de lenha para assar os quitutes, em substituição a um já antigo e desgastado, usado pela avó desde o início da história.
A renda do pão de canela da Dona Maria hoje é partilhada entre Luana e a mãe. “Meu pai é funcionário do IEF, meus dois irmãos são pedreiros, e o esquema mesmo ficou para nós”, diz ela. A herança maior deixada pela avó, no entanto, é a dos afetos que fazem a voz de Luana embargar: “O conhecimento e o amor que ela tinha foi muito marcante. Era uma avó muito coruja”.
O Pão de Canela de Dona Maria
Tempo de preparo: 2 horas
Rendimento: 6 pães
Ingredientes:
Massa
1 copo de açúcar
1 kg de farinha de trigo
2 ovos
1 copo de água morna
1 copo de leite morno
2 colheres de sopa de margarina
1/2 copo de óleo
50g de fermento biológico
1 colher de chá de sal
Recheio
Margarina
Açúcar refinado
Canela em pó
Modo de preparo:
Em um recipiente, adicione a água morna e o fermento. Dissolva o fermento e, em seguida, adicione os ovos, o óleo, o açúcar, a margarina e o sal. Misture tudo. Acrescente o leite morno e misture novamente. Adicione a farinha e misture bem. Sobe bastante a massa. O ponto da massa é aquele observado quando estiver se soltando facilmente das mãos e do recipiente. Caso a massa não chegue ao ponto, acrescente mais farinha aos poucos, até soltar das mãos. Deixe a massa descansar coberta por 40 minutos. Corte a massa do tamanho de sua mão e abra com um rolo sobre a mesa. Unte a massa aberta com margarina e salpique canela com açúcar. Enrole, feche bem e na forma untada com óleo coloque o pão. Deixe descansar por mais 15 minutos enquanto aquece o forno a 200º. Antes de levar o pão ao forno, bata a clara em neve de um ovo e depois acrescente a gema. Em seguida, pincele sobre o pão. Asse até dourar, por um tempo entre 10 e 15 minutos.