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Exposição ‘Arte do tempo: o relógio na decoração de interiores’ em cartaz na Galeria Maria Amália

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Tempos difíceis são os tempos que vivemos. Até porque é difícil ter tempo, conciliar o tempo, refletir sobre o tempo. Tudo é muito corrido, urgente, para ontem. O tempo e seus grilhões nos cercam, nos prendem, frente a tantos compromissos impostos e que nos impomos no cotidiano. É emprego, estudo, supermercado, cuidar de filho, assistir a seriado, encontrar amigos, fuçar nas redes sociais, respostas tão imediatas exigidas o tempo todo, que nossa vida acaba num eterno fast forward. E o tempo está por todos os lados nos cobrando essa urgência em moto-contínuo, seja no relógio de pulso, no celular, na tela do computador, relógios de parede, nos relógios digitais de rua. Ter tempo é status.

Foto: Leonardo Costa

Mas houve tempo em que o tempo corria mais “devagar”, que os compromissos e distrações não eram tantos. Sob alguns aspectos, tempos mais simples, pois não havia computador, relógio de pulso, relógio digital nas ruas, celular. O tempo, aliás, muitas vezes era marcado pelo apito da fábrica, do trem na estação, o sino da igreja. Os mais abastados costumavam ter, geralmente, apenas um único relógio em toda casa, que marcava o passar das horas quase de forma preguiçosa. E não era um relógio qualquer, dependendo das posses da pessoa. Eram pequenas obras de arte em metal, mármore, porcelana e madeira, e parte dessas relíquias de um tempo que parece tão distante está na exposição “Arte do tempo: O relógio na decoração de interiores”, aberta esta semana no Museu Mariano Procópio como uma das atrações do projeto Primavera de Museus.

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No total, são 21 relógios que devem ficar expostos pelos próximos seis meses na galeria Maria Amália, a maior parte deles há décadas sem ser vistos pelo grande público. A maioria dos relógios foi fabricada no século XIX, mas é possível encontrar peças do início do século XX e também do século XVII. Parte da coleção, que faz parte do acervo do museu, já pertencia a Mariano Procópio Ferreira Lage e foi completada posteriormente por seu filho, Alfredo, por meio de leilões, compras e doações. Muitas das peças são ligadas ao decorativismo, compondo um conjunto que poderia incluir, por exemplo, castiçais.

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Conjunto de relógio e castiçal do século XVIII, que pertenceu a Dom Pedro II, é um dos destaques da exposição (Foto: Leonardo Costa)

Raridades do século XVIII

São vários destaques na coleção, que conta com relógios produzidos na França, Inglaterra e Estados Unidos. Dentre eles, estão dois que pertenceram à família real brasileira e ficavam no antigo Palácio de São Cristóvão — o mesmo que virou o Museu Nacional, destruído em um incêndio no último dia 2. Um, de madeira (também conhecido como relógio de pé), pertenceu a Dom Pedro I e tem o seu monograma e o da imperatriz Leopoldina; outro, em metal e porcelana, foi feito no século XVIII e era de Dom Pedro II. Ambos foram comprados por Alfredo Ferreira Lage após o golpe militar que provocou a queda do Império, uma forma de manter os laços da família com a casa imperial e também preservar a memória do período. Também merecem destaque um conjunto que pertenceu à baronesa de São Joaquim (do século XVIII), um relógio de parede doado pela família Halfeld e outros três que ficavam na mansão dos Ferreira Lage, incluindo aquele que ficava no escritório de Mariano Procópio, de Raingo Frères.

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“O Alfredo montou uma coleção com relógios de vários tipos, sejam eles de pé, mesa ou parede”, explica o auxiliar de conservação e restauração Eduardo de Paula Machado. “Eram produzidos em vários metais, como bronze (conhecido à época também como metal dourado), porcelana pintada, madeira. Muitos tinham em seu acabamento figuras mitológicas ou referências à música, a maioria com inspiração na arte palaciana francesa do século XVIII. O da baronesa de São Joaquim, por exemplo, é no estilo Luís XVI.
O historiador Sérgio Augusto Vicente lembra ainda que a relojoaria da época era influenciada principalmente pelo que era feito na França e Inglaterra. “Os franceses tinham uma preocupação maior com a estética, enquanto os ingleses estavam mais ligados ao funcionamento e à precisão de seus relógios, eram mais práticos.”

União entre escultura e máquina

Para o diretor do Mariano Procópio, Antônio Carlos Duarte, o acervo em exposição é demonstrativo não apenas do ecletismo de Alfredo Ferreira Lage quanto à sua coleção, que inclui, entre outras, pinturas, esculturas, fotografias e mobiliário, mas também reflexo de sua cultura, gostos e do estilo do período. “Esses relógios são uma manifestação artística e mostram como era a cultura na época. Era a união da escultura com a máquina”, analisa.

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“E também serviam como símbolo de status, quem podia comprava os melhores relógios. É como acontece hoje com o avanço da tecnologia, quem pode adquire os melhores relógios de pulso. Mas o mais importante da exposição é mostrar como o relógio sempre teve presença importante na vida das pessoas, dos relógios de sol até os dias atuais.

ARTE DO TEMPO: O RELÓGIO NA DECORAÇÃO DE INTERIORES
Terça a sexta-feira, das 10h às 17h, no Museu Mariano Procópio (Rua Mariano Procópio 1.100 – Mariano Procópio)

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