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O encontro

Ilustração: Monique Oliveira/Riso Leve

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Ilustração: Monique Oliveira/Riso Leve

O animal parecia assustado. Olhava-me fixamente, com a bocarra escancarada, como se quisesse fugir e permanecer ao mesmo tempo. Aparentava ter sido belo, mas a luta pela sobrevivência trazia marcas de embrutecimento comuns aos daquela espécie. Não era forte, mas bolsas de gordura pendiam flácidas de seus membros e me fascinavam.

Apesar de nunca ter pensado em comer tal iguaria, cheguei a fantasiar sobre o sabor. Porém, o cheiro que exalava era nauseante. Nada parecido com o que eu estava acostumado.

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Pensei em convidá-lo para minha refeição, mas desconfiei que meu prato não fosse apetecê-lo. Algo em mim parecia amedrontá-lo, embora eu não compreendesse bem ao certo o quê. O lugar de onde ele vinha fazia barulhos horrendos, mas seus semelhantes não pareciam se incomodar.

Havia uma variedade muito grande de animais como aquele, além de ser vasto o território em que poderiam se espalhar, pois se adaptavam facilmente. Inexplicavelmente, mesmo com tantas vantagens, colocavam em risco a sobrevivência. Seres irracionais, ignorantes de suas habilidades.

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Ilustração: Monique Oliveira/Riso Leve

Não sei precisar ao certo quanto tempo durou nosso encontro, mas seu desespero ficaria gravado em mim até o fim dos meus dias. Embora não tenhamos trocado palavra ele parecia sussurrar: me leve daqui, me salve.

Abaixei minha cabeça e retornei para mata para caçar alguma capivara. Humanos são animais traiçoeiros, pensei comigo. Não é bom para uma onça se demorar diante deles.

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