A história é bem conhecida: a britânica Joanne Rowling comia o pão que Voldemort amassou lá por meados da década de 1990, quando conseguiu vender os direitos de publicação de “Harry Potter e a Pedra Filosofal”. O primeiro dos livros protagonizados pelo bruxo adolescente iniciou uma série de sete publicações que acumulam 400 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, além de uma franquia de oito filmes no cinema que resvalou nos US$ 8 bilhões. Com o último livro publicado em 2007, e “Harry Potter” encerrando sua carreira na tela grande em 2011, os fãs do personagem sempre continuaram a pedir mais e mais e mais e mais. E mais um pouco. Além de jogos para computador, peças de teatro e outras expansões do universo Potteriano, um dos filões são os livros derivados – e um deles chega aos cinemas quinta-feira, com pré-estreia na quarta: “Animais fantásticos e onde habitam”.
O longa-metragem dirigido por David Yates chega à tela grande com a responsabilidade de inaugurar uma nova franquia, que a Warner planeja desdobrar em cinco partes. É a adaptação do livro lançado em 2001 como um guia para conhecer um pouco mais o mundo de Hogwarts, a escola para onde vão os jovens bruxos britânicos. O guia tem como autor Newt Scamander, um especialista em magizoologia (termo cunhado por Rowling para definir a ciência que estuda os animais dotados de poderes especiais) que lista todas as espécies fantásticas que conheceu e catalogou em suas viagens pelo mundo.
A princípio, é difícil imaginar que um acanhado guia com menos de 100 páginas possa gerar uma pentalogia, mas tanto o produtor Lionel Wigram quanto a própria J. K. Rowling já imaginavam que este universo poderia ser ampliado. A diferença é que o primeiro imaginava produzir um documentário, enquanto Rowling arquitetava algo maior – tanto que ela ficou responsável pelo roteiro do filme (o primeiro escrito por ela) e também teve controle criativo sobre a produção.
Como “Harry Potter” já possuía elementos canônicos a respeito do passado da saga, foi uma questão de desenvolver o roteiro a partir daí – e isso deu muita liberdade para Rowling e Yates. Se grande parte da ação dos livros e filmes se passava na Inglaterra em geral e em Hogwarts em particular, a ação passou para o outro lado do oceano. A trama do primeiro “Animais fantásticos…” se passa no ano de 1926, 70 anos das primeiras aventuras de Harry Potter, em Nova York (Estados Unidos), cidade que deveria receber a breve visita do autor do guia, Newt Scamander (Eddie Redmayne). Ele carrega em sua maleta mágica, daquelas que são muito maiores por dentro, os animais que coletou e protegeu em suas viagens. O problema é que ele inadvertidamente tem sua bagagem trocada com a pertencente a Jocob (Dan Fogler), um “no-maj” (denominação que os americanos dão aos “trouxas”), o que resulta na libertação das criaturas contidas na mala.
O acidente vai provocar uma dor de cabeça daquelas para Scamander. Para recuperar as criaturas, ele terá que contar com a ajuda do Congresso Mágico dos Estados Unidos, que não tem a vida mansa dos seus colegas ingleses. Eles vivem nas sombras desde o infame julgamento das Bruxas de Salem, no século XVII, e têm pavor de qualquer evento que possa denunciar a atividade dos bruxos em solo americano – ainda mais na época em que se passa o filme, em que o Movimento Nova Salem denuncia as “malignas” atividades de magia e o vilão Grindewald (Johnny Depp) está obcecado pelas Relíquias da Morte.
Como já tinha de carregar a fama de ter sido expulso de Hogwarts, Newt Scamander não é visto com bons olhos pelos seus colegas americanos, tão zelosos por sua discrição. Para resgatar os animais fantásticos, ele terá a ajuda de Jacob e das irmãs Queenie (Alison Sudol) e Tina (Katherine Waterston), além dos bruxos Percival Graves (Colin Farrell), Credence (Ezra Miller) e Mary Lou (Samantha Morton).
Esta, aliás, é a grande diferença entre “Animais fantásticos…” e “Harry Potter”: enquanto os filmes com o bruxinho mostravam adolescentes aprendendo a usar seus dons para bruxaria, a nova produção é centrada em adultos já cientes de suas habilidades e com missões a cumprir. Se o lançamento do livro com a transcrição da peça teatral “Harry Potter e a criança amaldiçoada” já causou tamanho burburinho entre a comunidade Potteriana – essa turma que passou da infância para a adolescência e a vida adulta junta com o personagem -, é de se esperar que “Animais fantásticos e onde habitam” tenha efeito midiático ainda maior.