Com integrantes espalhados por Juiz de Fora e pela Suíça, a Alles Club prepara novos voos musicais para os próximos meses. Porém, é preciso antes fazer a última viagem sonora do álbum que colocou o grupo no mapa do shoegaze, post-rock e demais rótulos musicais. E o pouso derradeiro de “Décollage”, disco lançado em 2018, acontece nesta quarta-feira (17) com a chegada nos serviços de streaming de “Décollage ao vivo”, com registros de algumas das apresentações da banda pela cidade. O trabalho tem produção de André Medeiros e da própria banda, e a capa recebeu a arte de Rodrigo Baumgratz.
No total, o trabalho entrega oito músicas para fãs com milhas acumuladas e novos passageiros: as seis que entraram em “Décollage”, uma introdução com texto da escritora e jornalista Maria Bitarello e “Imersa”, que foi lado B do single “Quanto tempo” – que também fez parte do primeiro álbum da Alles Club.
Os registros ao vivo mostram a banda em quatro momentos distintos: no show de lançamento de “Décollage”, no Museu Ferroviário de Juiz de Fora; no estúdio caseiro do grupo no bairro Graminha; no Maquinaria; e na Necessaire, local do último show da Alles Club antes de Mr. Lopes (guitarras, loops e samples) e Nina Hübscher (vocais) se mudarem para a Suíça. Os shows no Museu e da Graminha Sessions, ambos registrados pelo Inhamis Studio, podem ser assistidos na íntegra .
“O álbum encerra dois ciclos. O primeiro é o ciclo do ‘Décollage’, que tem sido um disco muito importante para nós. A partir dele a gente se afinou musicalmente, concretizou algumas ideias do que queremos fazer com a nossa música e abriu algumas possibilidades futuras. A partir dele, criamos uma rede de colaboradores que nos ajuda a fazer a nossa música chegar a diferentes olhos e ouvidos”, analisa Mr. Lopes.
“O ‘Décollage ao vivo’ é também documento de um momento específico da banda, em que estávamos todos morando na mesma cidade e podíamos tocar juntos sempre. Esse ciclo se encerrou, e agora moramos em diferentes lugares, a frequência de encontros é outra. A gente adorou tocar essas músicas juntos, e achamos que seria legal que todo esse empenho de levar as músicas para o palco ficasse registrado. Eu particularmente acho que o disco ao vivo está mais envolvente e mais pulsante do que o álbum de estúdio.”
Em cada palco, uma viagem diferente
Segundo o guitarrista, a proposta inicial era lançar em álbum o show de lançamento de “Décollage” realizado no Museu Ferroviário, mas dois fatores colaboraram para decidir fazer uma compilação de apresentações: o fato de a íntegra dessa apresentação já estar disponível no YouTube e o feeling de que versões ao vivo de outras apresentações “funcionaram melhor” sem o vídeo. “Além disso, a gente resolveu incluir a versão ao vivo de ‘Imersa’, que vínhamos tocando na turnê do ‘Décollage’ e que achamos que pertencia ao disco”, explica.
“Também achamos bacana selecionar versões de diferentes lugares da cidade. No Maquinaria e na Necessaire tivemos um ambiente muito intimista e próximo ao público, quase um ensaio. Já no Museu Ferroviário temos mais o sentimento de um show, por estarmos em palco. Gostamos muito também das versões do nosso próprio estúdio no Graminha”, acrescenta Mr. Lopes.
Dentre esses momentos que são especiais em suas particularidades, vale perguntar a respeito do show na Necessaire, em março de 2019, que marcou a despedida temporária do grupo dos palcos. Esta foi a apresentação em que a Alles Club tocou atrás de um pano que serviu de tela para as projeções interativas de Rafael Ski, com música e vídeo se complementando num espetáculo marcante para quem assistiu.
“Esse foi o último show da turnê e do ciclo de morarmos todos em Juiz de Fora. Estávamos muito ansiosos também por fazer um show atrás dos panos, em que não seríamos vistos, somente nossas silhuetas. De fato, algumas pessoas acharam esquisito, mas ficamos felizes de termos testado isso e queremos trabalhar mais nesse formato”, anima-se. Para quem perdeu, o grupo disponibilizou em seu canal no YouTube a versão de “Canção da volta”.
Voos ainda mais altos
Quanto ao futuro, a Alles Club tem muitas viagens sonoras em planejamento. Mr. Lopes comenta que tem trabalhado em material novo com os integrantes que ficaram no Brasil (o baterista Fred Mendes, o baixista Pedro Baapz, o guitarrista Ruan Lustosa e a vocalista Stéphanie Fernandes). O próximo projeto, todavia, deve ser um disco com versões (“pouco óbvias”, ressalta) que fizeram ao longo dos últimos tempos.
“Há um disco que queremos lançar no ano que vem, que já está muito claro como vai ser. O conceito musical e filosófico está muito delimitado e tem uma narrativa das músicas. Já temos muito material gravado”, antecipa. “E ainda temos um outro disco que está menos claro, mas com algumas ideias musicais e conceituais. Nesse álbum, trabalharemos com mais música ambiente, músicas menos intensas, mais intimistas.”