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As críticas e expectativas que rondam ‘Game of Thrones’

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Preparem-se, pois o fim está próximo. Pelo menos quando o assunto é “Game of Thrones”, uma das maiores e mais populares séries da TV americana em todos os tempos. A produção da HBO, que adaptou para a telinha a série de livros do norte-americano George R. R. Martin, chega ao fim neste domingo (19), às 22h, após oito temporadas – em nove anos – de muitas mortes, assassinatos, sexo, massacres, traições, sexo, dragões, gente andando por toda Westeros, castrações, sexo, conchavos para assassinato, ardis, revelações bombásticas, assassinatos com sexo, episódios em que nada acontecia, “Valar Morghulis”, zumbis, sexo com assassinato, gente pelada por causa do sexo, sacrifícios, torturas, dragões zumbis, gente que anda no fogo sem se queimar, bastardos e… mais um cadinho de sexo, sendo que este diminuiu com o passar das temporadas.
Este universo fantástico em um mundo imaginário estreou na HBO em 2011, e não demorou para conquistar legiões de fãs, tanto entre leitores da saga quanto neófitos, e, assim como aconteceu em tempos idos com “Lost” e “Arquivo X”, passou a reunir milhões de espectadores para acompanhar todas as semanas as histórias envolvendo personagens tão diferentes quanto Eddard Stark (Sean Bean), Cersei Lannister (Lena Headey), Jon Snow (Kit Harington), Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), Khal Drogo (Jason Momoa). Alguns eventos da série estão entre os mais marcantes e chocantes da história da TV, pois, assim como nos livros em que se inspirou, “GoT” não teve pena de eliminar sistematicamente alguns dos personagens preferidos dos fãs, além de atos que provocaram aversão em igual proporção.

 

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Criticada, mas ainda muito assistida

O caminho até o último e derradeiro episódio – o sexto da oitava temporada – acabou sendo repleto de percalços não só pelos plot twists, as mortes chocantes e eventos revoltantes. Além de muitos episódios em que nada parecia acontecer, a produção de “Game of Thrones” precisou lidar com a ira de quem leu os livros e reclamava das mudanças na história. E tudo ficou pior quando a série ultrapassou os livros, a partir da sexta temporada, pois George R. R. Martin está procrastinando há anos para lançar o próximo volume.
E aí a saraivada de críticas cresceu inclusive entre aqueles que só conhecem a saga pela TV, por conta de uma queda de qualidade na trama, diálogos e desenvolvimento dos personagens, apontada por telespectadores e crítica – algo que se tornou crônico na sétima e – principalmente – oitava temporadas. Dentre as reclamações, as resoluções rápidas e sem maiores consequências de vários conflitos, incluindo aí a decisiva batalha contra os Caminhantes Brancos do Rei da Noite, sempre apontado como o maior vilão da série. Mas que, apesar de ter eventualmente aparecido em um episódio ou outro, foi derrotado e destruído na primeira grande batalha que encarou. Tudo isso serviu para deixar as redes sociais em polvorosa nas últimas semanas.
Mas não vai ter jeito: todo mundo estará ligado neste domingo para ver quem vai assumir o Trono de Ferro em definitivo – se é que ainda existe algum trono após Daenerys Targaryen transformar Porto Real em cinzas com o único dragão que restou. E outras dúvidas também pairam no ar, mas são tantas que esta matéria poderia virar um caderno especial – o que não é caso. Seja no Brasil ou pelo mundo, milhões e milhões estarão ligados na TV (o episódio será transmitido simultaneamente por todo o planeta), caçando links piratas na internet e comentando freneticamente nas redes sociais. Quem deixar para depois corre o risco de tropeçar em toda sorte de spoilers.

Depois de uma trajetória em que conquistou reinos e corações, Daenerys pode se tornar a grande vilã ao final da série (Foto: Divulgação)

Fãs na expectativa

De norte a sul do país, os fãs de “Game of Thrones” preparam-se para se despedir da série. Em Juiz de Fora, o estudante de jornalismo Max Honório está com a expectativa lá em cima e acredita em uma conclusão provavelmente inesperada, seguindo o modus operandi da trama nos anos anteriores. Mesmo ansioso, faz parte da turma que critica o rumo tomado nas duas últimas temporadas. “Houve uma grande perda de ritmo no aprofundamento das tramas, diálogos, surpresas de acontecimentos. Aquilo que havia se tornado normal, construído em todas as temporadas anteriores, considerado o típico episódio ‘épico’, desapareceu rapidamente. As cenas e acontecimentos que faziam você não acreditar que o episódio acabou daquele jeito, dando a sensação que a série iria acabar naquele momento, foi se perdendo e os personagens passaram a ser ‘carregados’ pela história.”
“Todo conteúdo que já existia era citado, mas não havia nada além disso. Um exemplo foi a Daenerys, que cresceu muito ao longo das seis primeiras temporadas. Nas duas últimas ela só carregou o nome que já tinha, não houve notícias das outras localizações em que havia deixado sua marca. Esse foi só um exemplo, mas no final houve um desenvolvimento arrastado na trama dos personagens que tiveram excelentes caracterizações, roteiros etc.”
De Porto Alegre, a publicitária Ana Bandeira, autora dos livros “Spoiler” e “Spolier Season 2” e ex-colaboradora do site “Ligado em série”, chega ao series finale com a expectativa em baixa. Ainda que tenha consciência de que é impossível agradar todos, ela aponta que a questão não é exclusivamente de gosto pessoal. “A oitava temporada tem sido muito problemática por não conseguir desenvolver satisfatoriamente alguns arcos e motivações de personagens, além de claramente trazer roteiros mais rasos e preguiçosos. É uma transformação muito grande no andamento e clima da série, que dá até uma sensação de que está sendo escrita por outras pessoas de tão diferente que parece das temporadas anteriores”, critica, dando como exemplo a evolução da chamada Mãe dos Dragões.
“Em termos de acontecimentos, tudo indica que Daenerys, que foi construída como uma heroína e rebaixada a vilã no episódio anterior, será morta no series finale. É difícil dizer se alguém sentará no Trono de Ferro – ou se ele ainda existirá, mas parece que nem isso importa agora, não existe mais muito pelo que torcer que aconteça na série (as principais ameaças já foram controladas, vilões mortos etc.).”
Também morando na capital gaúcha, o publicitário e bibliotecário Társis Salvatore é um dos que acompanham a série desde seu início e espera que o desfecho seja mais benfeito que a temporada em si, acompanhando o coro dos críticos em relação às duas últimas temporadas. “Foi tudo corrido, jogado, incompleto. Deu a sensação de que enquanto os roteiristas e produtores tinham os livros para se basear, as temporadas foram interessantes. Por mais que não se compare livros com série ficou essa impressão”, opina.

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Apesar de soterrada nas profundezas do castelo real, destino de Cersei Lannister ainda é colocado em dúvida (Foto: Divulgação)

‘Com livros’ versus ‘sem livros’

Se comparar a série com os livros era recorrente para alguns, e portanto possível imaginar o que aconteceria, isso mudou a partir da sexta temporada, quando o “Game of Thrones” da TV precisou caminhar com os próprios passos, uma vez que a série ultrapassou os livros já publicados. Aí, todo mundo ficou no escuro: os leitores, quem só acompanhava a adaptação, e principalmente produtores, roteiristas, elenco… Para muitos, foi o início de uma profunda queda de qualidade, e as temporadas sete e oito foram as que mais sofreram com as críticas.

Para Ana Bandeira, essa queda de qualidade não foi notada, em especial na sexta temporada. “Mas agora vemos como o material base e o envolvimento do G.R.R. Martin está fazendo falta. A série não perdeu qualidade em termos de produção, por exemplo, muito pelo contrário. Visualmente só melhorou, mas parece que houve um foco maior no espetáculo do que no roteiro, que era um grande forte da série”, diz ela, acrescentando que a penúltima temporada ainda “sobreviveu”, mas depois…

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“Na sétima temporada isso ainda não foi tão evidente, mas agora com a oitava vemos claramente que as duas últimas deveriam ter tido mais episódios. Mesmo mais longos, não deram o tempo necessário para desenvolver alguns arcos e transformações de personagens, tudo ficou muito atropelado e corrido para chegar em um ponto final determinado, parecendo um acontecimento manipulado, e não orgânico.”

“Sim, perdeu (em qualidade ao ultrapassar os livros). Já era algo que eu esperava por conta da saída do George R. R. Martin, e era de se imaginar que traria essa queda de qualidade nos acontecimentos, por não ser o final planejado pelo autor”, acrescenta Max Honório. Társis Salvatore vai pelo mesmo calminho, porém com ressalvas. “Mas não deveria (perder). Série é ‘baseada em’ – ou seja, deveria trilhar seu caminho sem depender dos livros para ser coesa e empolgante”, critica.

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Jon Snow é cotado como um dos favoritos a ocupar o Trono de Ferro (Foto: Divulgação)

Imperfeita, porém fundamental

Críticas à parte, Ana e Társis não deixam de salientar o quanto “Game of Thrones” se tornou um dos marcos da história da televisão.
“Acredito que a maior importância de ‘Game of Thrones’ para a história da TV foi ter elevado a fantasia, mostrando que é um gênero viável e muito rentável para a indústria televisiva”, destaca Ana Bandeira. “A série será lembrada pela grandeza da produção, o número de locações, o tamanho da equipe envolvida, mas também terá sua importância reconhecida em termos de mobilizar as pessoas, criar uma base de fãs fiel e obcecada, oferecer uma experiência coletiva marcante e se transformar em um assunto do qual todos querem fazer parte e comentar, até mesmo marcas. É um grande expoente atual da cultura pop, citado em diversos programas e séries, transformado em conteúdo, que será lembrado e terá o seu lugar na história da televisão e da cultura pop em si, mesmo com uma temporada final que não está agradando.”
“Mesmo que decepcione a todos no final, ela tem méritos”, argumenta Társis Salvatore. “Foi impactante para a TV por conta dos valores gastos na produção, que renderam momentos excelentes, por conta de seu conteúdo adulto (contrastando com conteúdos cada vez mais pasteurizados e propositalmente leves). Também por ter ótimos atores e por ter atraído pessoas poucas afeitas ao universo das séries de TV. E claro, por ter gerado vários debates, controvérsias, memes, spoilers, haters etc. Estava na boca do povo em nível global.”
Quanto a esse ponto, por conta de ter assistido às oito temporadas com a esposa, a professora Adriana Amaral, Társis destaca como importante o fato de “Game of Thrones” ter “obrigado” as pessoas a voltarem a um antigo hábito do século passado: parar diante de uma TV em um horário determinado, em um canal determinado, para ver uma série televisiva. “Era uma coisa comum quando era criança e que se perdeu com o conteúdo on demand. Em parte por medo dos spoilers, é verdade, mas em maior parte por pura empolgação e curiosidade.”

 

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