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Melodista Popular Brasileiro

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Estreando seu álbum “Cantilenas brasileiras” em Minas, Breno Ruiz faz shows hoje e a amanhã. (Foto: Manu Costa/Divulgação)

Conhecer a música de Breno Ruiz foi surpresa. Impecável, sem ser enfadonho. “Breno conseguiu reinventar o clássico”, é o que dizem. Não me impressiona que o convite para o “marinheiro do mar” estrear suas “Cantilenas brasileiras” em Minas tenha vindo de Diegho Salles, um dos violões da Trinca-Ferro, trio juizforano que dividirá duas noites com o compositor paulista em Juiz de Fora. Diegho é poesia, de dizeres sem querer, que nos dão vontade de anotar e guardar. É bonito o encontro pela música, principalmente aquele que começa emocionando os ouvidos de outro compositor.

As melodias de Breno são intuitivas, ele compõe com uma bagagem de sentimentos sobre ser brasileiro e (re)conhecendo sons. Misteriosa criação, que em 30 anos desde quando descobriu a música na infância, vem sendo regravada por Mônica Salmaso, Renato Braz, Quarteto Maogani e MPB4. Além de parcerias com Tetê Espíndola e Rafael Altério, com quem chegou a ser letrista também. Mas predomina em seu trabalho autoral o melodista, e Paulo César Pinheiro como letrista de suas composições. “Eu me enveredo pela poesia bissextamente, principalmente pela poesia letra de música, até porque tendo um parceiro como o Paulinho Pinheiro, aí você acaba pensando: ‘poxa, para que escrever se tem um cara infinitamente maior, um mestre fazendo isso?'”

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A parceria com um dos maiores letristas brasileiros, com mais de mil composições gravadas, se deu por coragem e aconteceu há mais de uma década. Como relata o jornalista Hugo Sukman no jornal “O Globo”, Breno, 35 anos, ficou em uma saga de dois anos até conseguir contactar com seu maior parceiro de hoje, ligando para o Teatro Clara Nunes quando Paulo César era o diretor do espaço que homenageia a mulher com quem era casado. A partir daí, começaram as trocas. “Quando o procurei pela primeira vez, eu sabia que ele era um compositor consagrado. Mas eu era um moleque ainda, adolescente, e não fazia ideia da importância e da contribuição dele para a música brasileira. Conforme o tempo foi passando, já parceiro e amigo dele, eu fui entendendo o tamanho do Paulinho. E me assustei com aquilo. Ficamos quase dez anos sem compor porque eu não achava que meu trabalho pudesse dialogar com um cara desses; na verdade, eu não me achava à altura. Fui vencer isso há relativamente pouco tempo. E seguimos compondo.”

 

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Um cálice musical dividido com os mestres

Recentemente Breno fez uma participação em um disco de Renato Braz, ainda não lançado, em comemoração aos seus 50 anos. Era um desejo de Breno, Braz, Roberto Leão e Mário Gil, desde o lançamento de “Mar aberto” (2016), regravar “Cálice”, e esta realização veio a se tornar ainda mais grandiosa nos últimos meses. Além do quarteto, o autor da canção de 1978, Chico Buarque, e também Milton Nascimento, que a interpreta primorosamente, foram convidados a gravar os vocais. A faixa especial conta ainda com os sopros do saxofonista norte-americano Paul Winter. “Gravamos em dias diferentes, não tive a oportunidade de conhecê-los (nem Milton, nem Chico). Mas é uma dessas experiências para se guardar num cantinho aconchegante dos afetos e perguntar a Deus, talvez, ou ao oráculo: O que é que eu tô fazendo aqui, entre estas pessoas?”

 

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“Tenho uma vida urbana, mas sou caipira”

Breno Ruiz, apesar de viver hoje em São Paulo, foi criado em Itapetininga. “Tenho uma vida urbana, mas eu sou um caipira, minha infância foi convivendo com pessoas que vivem da terra.” Seu contato com as rodas de sanfona do seu tio, que levantavam a dança e canto da comunidade que vive da economia agrícola e rural, lhe dão chão para revisitar universos que fazem parte de sua história. “Caipira” se tornou faixa-título do último disco de Mônica Salmaso, de 2017, novamente em parceria com Paulo César. “Ele é um conhecedor do Brasil profundo e é um camaleão. Se escuta uma música caipira, ele vai escrever como um, e com conhecimento de causa! Sem ser de forma caricata.” Muito mais do que uma melodia e poesia regional, sua música é universal. “Foi uma felicidade a Mônica ter gravado, e a música ter virado o nome do disco, é um caipira que tem todas as características de uma moda de viola, de uma coisa muito simples, mas ao mesmo tempo tem uma outra nuance de uma pessoa que estudou música, vive uma vida urbana, só que isso é muito mais estético que textual, está na estética musical.”

 

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Um caminho sem mar em direção a Minas

Foto: Manu Costa/Divulgação

É a primeira vez que Breno traz seu trabalho de composições autorais para Minas. Diegho conheceu seu trabalho por conta do disco “Mar aberto”, continuou com ouvidos abertos até o lançamento de “Cantilenas brasileiras” e assim se encantou pela parceria com Paulo César. “E fui arrebatado mesmo, pela densidade, pelo casamento genial das palavras com as melodias, por este outro lugar para onde a música dele nos transporta”, conta Diegho. As apresentações acontecem nesta quinta-feira, 17, no Bananal e na sexta-feira, 18, no Arteria. “Até as apresentações vamos afinando nossas prosas e poemas, preparando duas noites muito especiais de música feita com alma e honestidade e fazendo as amizades que a música nos proporciona, encontrando nossos pares”, complementa.

Enquanto Breno viajava os 500km entre São Paulo e Juiz de Fora, fomos conversando. Ele guarda estes momentos para ler, “abastecer as ideias e o coração”. Naturalmente as melodias começam a abrigar sua imaginação, mas é em casa, em ambiente introspectivo e solitário, que dá desenvolvimento às ideias, embora a música já nasça com uma concepção. “A sonoridade dos acordes, da melodia, para mim, é uma coisa muito imagética. O Paulinho é um mago que entende essas imagens e as traduz em palavras, em poesia. Ele costuma dizer que escreve aquilo que a música pede, não necessariamente aquilo que ele quer escrever. O que eu chamo de imagem não é apenas a fotografia pintada com as palavras, mas todo o clima, todos os afetos e emoções transmitidos através delas e da música propriamente.”

“Cantilenas brasileiras” é essencialmente melódico, são canções que vibram cores e ritmos reunidos em uma música só, predominando o piano tocado por Breno em todas as faixas. No disco, ele também pega o acordeom e grava “Marinheiro do mar”. Seus grandes parceiros neste projeto, embora venha só a Juiz de Fora, são Gabriel e Pedro Alterio, que tocam bateria/percussão e violão, respectivamente, o contrabaixista Igor Pimenta e Neymar Dias, também no contrabaixo, além da viola caipira. Há também as participações de Mônica e Renato. “Considero este um disco sem arranjos (com exceção do ‘Choro bordado’, talvez). Ali existe a contribuição individual de cada músico, a leitura que cada um fez das coisas que a canção transmitiu. Mas todos os climas correspondem ao mesmo embrião criativo, a minha maneira de sentir o mundo e de conversar com ele”, reflete Breno.

Breno Ruiz + Trinca-Ferro
Nesta quinta-feira (17), às 17h, no Bananal (Rua Marechal Setembrino de Carvalho 286 – Ladeira)
Nesta sexta-feira (18), às 20h, no Arteria (Rua Chanceler Oswaldo Aranha 535 – São Mateus)

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