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Outras ideias com Vanderson Supimpa França de Souza

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Simon se divide entre a locução numa loja popular e numa rádio evangélica, além do trabalho na igreja e o curso de teologia (MARCELO RIBEIRO)

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“Tentei abrir meus olhos, comecei a ficar com o corpo fraco e, de repente, apagou tudo. Deitado no chão, com tudo vazio ao meu redor, um redemoinho saiu de dentro da minha barriga, foi subindo, e eu estava dentro dele. Ultrapassei uma camada branca, tipo a desses filmes norte-americanos quando passa de uma galáxia para a outra. Me vi em pé, de frente para uma pessoa com vestes brancas e sandálias trançadas de couro. Só via até a cabeça. Na mesma hora, tudo se apagou, o redemoinho desceu, e eu caí dentro de um presídio imenso, um corredor com grades nos dois lados. No fim, havia um fogaréu que chamuscava tudo. Naquele momento acordei, com uma galera deitada ao meu lado, na mesma situação que eu”, conta o homem de longos cabelos pretos, na mesma cor da calça e da camisa.

Tudo aconteceu, quando resolveu passar o carnaval em um retiro espiritual. “No primeiro dia, eu, sem camisa e de bermudão, fedendo igual a um gambá, estava na fila do banheiro público do Caic de Linhares. Um cara de terno e gravata com um livro, o Paulinho Bang Bang – que matou muita gente e depois de muitos anos aceitou Jesus e foi consagrado a pastor -, estava pregando. Ele dizia: ‘Você que não crê em Deus, ou se sua fé é pequena, faça a sua oração que Ele vai provar a existência dEle para você nesta noite’. Fechei meus olhos e disse: ‘Deus, quebra o galho pai, e, me mostra um pouquinho do seu poder'”.

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Depois da experiência inicial, no outro dia, conta ter ouvido “uma voz saindo do alto” e, no último, começou a falar outra língua. “Saí dali ‘piradaço’ por Jesus”, diz, rindo. A partir de então, Vanderson Supimpa França de Souza diz ter sido “arrebatado”. Começou a pregar o evangelho e conseguiu converter vizinhos envolvidos em diferentes problemas. Tornou-se, naturalmente, um líder religioso. Para isso, não abriu mão da atitude e do gosto por baterias e guitarras. Se o papa é pop, o pastor é rock.

 

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Locutor de rádio e de loja

Filho do radialista Vanor de França, reconhecido no meio sertanejo, Vanderson teve uma infância tranquila, no Bairro Santo Antônio, ao lado da mãe Vilma e dos dois irmãos. Como o pai, o garoto adorava microfones e na adolescência descobriu-se locutor, em uma emissora evangélica, logo após concluir o ensino médio. Surgia, ali, o pseudônimo Simon. Aos 35 anos, trabalha, hoje, como locutor das Lojas Brasil, onde está há 13 anos, narrando promoções e convidando clientes na porta do estabelecimento, além de se dedicar a uma rádio evangélica com transmissão via internet e à igreja. “Aos 5 anos, me lembro de ir à Maranata com minha mãe, e Deus me usava muito. As pessoas iam à minha casa pedir oração, e eu colocava a mão na cabeça delas, orava, e Deus operava. As pessoas se curavam mesmo”, recorda-se ele, que acabou se afastando da religião. Já adolescente, começou a se identificar com os roqueiros evangélicos, até estreitar, definitivamente, os laços, no tal retiro. “O rock ‘pauleira’ veio com a fé”, conta.

 

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Bíblia em shows

Envolvido com a religião, o roqueiro começou a divulgar. “Fui para shows de rock com a bíblia toda grifada. Pregava, e os malucos debochavam da minha cara. Orava, jejuava e ia para lá. Rodopiava no meio daquela galera e depois colocava a mão na cabeça de um por um. Profetizava que um dia eles iriam aceitar Jesus também”, narra. O templo, cuja sede funciona no número 310 da Rua do Monte, no Vitorino Braga, teve seu embrião em uma praça da cidade, onde os convertidos se reuniam para estudar e orar. Ao conhecer o pastor Enok, do carioca Ministério Metanóia, Simon ganhou fôlego. Fez teologia pela Assembleia de Deus e atualmente cursa o ensino superior em teologia, na reconhecida escola Rhema Brasil. A igreja de teto negro, paredes forradas com espuma para isolamento acústico e uma bateria logo atrás do púlpito, surgiu há pouco mais de oito anos. “Nossa igreja não tem corrente nem campanha, pagamos o aluguel e ajudamos as pessoas menos favorecidas com oferta e dízimo”, explica, apontando os muitos shows que acontecem no local. “É rock cristão, tem metal core, punk, trash, black metal, heavy metal, hip-hop, reggae. Todas falam de Deus, mas de uma forma inteligente. Como o punk rock, fala mal do sistema e apresenta uma solução, que, no final da letra, é Jesus.”

 

Balada do louco

Entre os fiéis, estão jovens de cabelos compridos e trajando preto. Piercings e tatuagens são comuns no local. Mas nem tudo é pauleira. “Não nos prendemos a rótulos. Somos roqueiros que amamos Deus e que deixamos de lado as drogas, a bebedeira e o sexo promíscuo, que é o de antes do casamento. Aqui é todo mundo doidão, mas ainda visamos esse lado da santidade”, comenta ele, com sua fala rápida, seus gestos fortes e sua incisividade, própria dos pastores. “Achava que era doido, mas fiquei mais doido quando encontrei alguém mais doido que eu. Esse é Jesus, e ele mudou minha vida. No Coríntios I, versículo 25, fala: ‘Deus usa os loucos para confundir os sábios. E nem os loucos errarão o caminho do céu’. Se ser louco é isso, sem bebida, sem drogas e sem prostituição, a melhor coisa do mundo é ser assim”, diz o Simon que morde, balança e folheia a bíblia enquanto posa, com cara de mau, para as fotos.

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