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M. Night Shyamalan encerra “trilogia de super-heróis” com “Vidro”

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Kevin Wendell Crumb (James McAvoy), Elijah Price (Samuel L. Jackson) e David Dunn (Bruce Willis) medem forças em ‘Vidro’, longa de M. Night Shyamalan’ (Foto: Reprodução)

Para o bem ou mal, alguns cineastas são reconhecidos pela assinatura que conseguem imprimir em suas obras. É uma lista que pode incluir um Steven Spielberg, Wes Anderson, Quentin Tarantino, Martin Scorsese, Tim Burton, para ficar apenas entre os que estão vivos. M. Night Shyamalan não poderia faltar nessa lista. Entre os altos e baixos de sua carreira, fãs ardorosos e detratores implacáveis, o realizador indiano é reconhecido por uma filmografia que vai além do (leviano) lugar-comum dos filmes com plot twists surpreendentes em seu final, casos de seu primeiro grande sucesso, “Sexto sentido” (1999), e “Sinais” (2002), “A vila” (2004), “A visita” (2015). E que inclui “Corpo fechado” (2000) e “Fragmentado” (2017), dois atos de uma inesperada trilogia que se encerra com “Vidro”, principal estreia desta quinta-feira (17) no Brasil.

E aqui vale citar o quanto o diretor é muitas vezes subestimado, tanto quanto é capaz de criar as mais surpreendentes reviravoltas – afinal, nada melhor que assombrar o público com o absolutamente inesperado. Por isso, para falar do pouco que se sabe sobre “Vidro” e entender o agora chamado “Shyamalanverso” é preciso revisitar suas duas primeiras partes. Quando foi lançado, em novembro de 2000, “Corpo fechado” chegou com a expectativa de pelo menos igualar a reviravolta de “Sexto sentido”, lançado um ano antes e que fez muitos incensarem Shyamalan como o novo gênio da sétima arte – e escravo (in)voluntário das histórias com final surpreendente.

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Apesar da bilheteria satisfatória (US$ 248 milhões) para uma produção de US$ 75 milhões, o longa foi uma balde de água fria para boa parte do público, surpreendido com a história de um homem comum que não podia ser ferido ou morrer que, ao final, descobre-se ser a prova de que super-heróis existiam no mundo real, como tanto acreditava o vilão Elijah Price (Samuel L. Jackson), fanático por quadrinhos de inteligência acima da média mas com ossos frágeis feito vidro. Com o passar dos anos, porém, “Corpo fechado” passou a ser visto como um dos melhores trabalhos de M. Night Shyamalan, que nesse período continuou a fazer seus bons filmes e também se meter em furadas para as quais foi contratado (“Depois da Terra”, “O último Mestre do Ar”). Com o passar dos anos, os boatos sobre uma possível continuação de “Unbreakable” (no original) foram se tornando mais raros.

‘Os perturbados ganharão uma trilogia’
Mestre na arte de surpreender o público, Shyamalan preparou a melhor delas para “Fragmentado”. Coisa rara no cinema atual, em que os trailers entregam alguns dos mais importantes spoilers dos filmes, Shyamalan conseguiu guardar o maior deles para a cena pós-créditos – e que serviu para enlouquecer os fãs do diretor e quem ainda se lembrava de “Corpo fechado”, além de subverter a associação da história a apenas um gênero.

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A princípio, “Fragmentado” era vendido como um suspense em que James McAvoy interpretava Kevin Wendell Crumb, personagem que o diretor revelou posteriormente que estava no roteiro de “Corpo fechado” mas ficou de fora por estar “sobrando”. Crumb sofre de transtorno dissociativo de identidade e é atormentado por mais de 20 personalidades, e por isso sequestra três adolescentes para oferecê-la ao que ele chama de A Fera, a última e ainda não revelada de suas personalidades. Ao final, a história também se mostrava uma trama de horror quando Crumb consegue libertar A Fera para vingar todos os “quebrados” como ele, caso de Casey Cooke (Anna Taylor-Joy), única sobrevivente e para quem, ao poupá-la, diz a já clássica frase “os perturbados são os mais evoluídos”.

Só então vem o plot twist para acabar com todos os plot twists. Ao mostrar David Dunn (Bruce Willis) na cena pós-créditos, M. Night Shyamalan transformou “Fragmentado” em um “filme de super-herói”, colocou-o no mesmo universo de “Corpo fechado” e continuação direta deste. A um custo de míseros US$ 9 milhões, o longa encerrou sua carreira com uma bilheteria de US$ 278 milhões.

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A hora do confronto final – mais verbal que físico
Mas o cinema de M. Night Shyamalan, apesar de todas as reviravoltas, o mistério, o sobrenatural, o fantasioso, é baseado na fé, na crença nos espíritos que voltam dos mortos, de criaturas demoníacas, alienígenas, do perigo invisível, de que é possível existir super-heróis – por consequência, sua nêmese, os super vilões. Por isso, mais que cenas de batalhas arrasadoras de quarteirão, “Vidro” promete ser uma discussão sobre crença e o poder que dela advém. Ou, talvez, o quanto essa fé ajuda a libertar o poder dentro de si.

A história se passa poucas semanas após os eventos de “Fragmentado”, com David Dunn (uma aliteração bem aos moldes dos alter egos de super-heróis de Stan Lee, como Peter Parker) à caça de Kevin Wendell Crumb, dominado pel’A Fera e que volta a sequestrar mocinhas inocentes. Os dois, ao serem presos, vão parar na mesma instituição psiquiátrica em que se encontra Elijah Price, o Sr. Vidro. Os três ficam aos cuidados da Dra. Ellie Staple (Sarah Poulson), para quem Dunn e Crumb sofrem de delírios de grandeza, sendo na verdade pessoas comuns que realizam feitos extraordinários por acreditarem demais em suas supostas capacidades.

Esse confronto entre fé e racionalidade (científica ou não); do homem comum frente ao extraordinário; de pessoas que encaram quadrinhos como ficção escapista ou um guia para entender o potencial oculto da humanidade; sanidade e loucura; a ideia de um grande confronto entre o bem e o mal; a suspensão da descrença; e a necessidade de acreditar no incomum para explicar seu lugar no mundo; são o material que, desde “Corpo fechado”, tem interessado a M. Night Shyamalan e que ele desenvolveu nos dois primeiros capítulos da trilogia. Por isso, ao invés do superlativo visto em “Vingadores: Guerra Infinita”, que o público espere mais um confronto de ideias e crenças do que grandes batalhas arrasando cidades. Não foi assim antes, e não haveria por que mudar agora. Shyamalan continua tendo fé no seu cinema e nos seus improváveis heróis e vilões.

VIDRO

UCI 5 (dub): 14h10, 19h45. UCI 5 (leg): 17h, 22h30. Cinemais Alameda 2 (dub): 19h, 21h40. Cinemais Jardim Norte 1 (dub): 13h20, 18h30, 21h10.
Classificação: 14 anos

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