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Poeta Italo Diblasi lança o livro “A morte não é magrinha”

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Italo Diblasi experimenta novos caminhos para sua poesia em “A morte não é magrinha” (Foto: Divulgação)

É difícil medir a força da passagem do tempo. Para quem se lembra de eventos há 30 ou 40 anos atrás, a sensação é de que aconteceram semana passada. A verdade é que o tempo, em sua relatividade, pode acumular tal volume de experiências num período tão curto que, ao olharmos para trás, veremos que podemos passar por tanto em tão pouco, e sermos pessoas substancialmente diferentes. Observar a vida de forma mais positiva ou negativa, menos inocente, romântica.

Talvez esta seja a melhor forma de entender “A morte não é magrinha”, segundo livro do poeta e historiador carioca Italo Diblasi, lançado pela Editora Garupa. A publicação reúne poemas escritos pelo artista a partir de 2016, ano de sua estreia literária com “O limite da navalha”, até 2021. Tempo suficiente para acontecimentos políticos, sociais e econômicos – sem esquecer a maior pandemia dos últimos cem anos – afetarem nossas vidas, além do lado pessoal: amigos, relacionamentos, entre outros.

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No material de divulgação, “A morte não é magrinha” é apresentado como um livro de “poemas densos e desesperados”. Italo, porém, vê sua produção recente por outro prisma, ao pensar em tudo que viveu na última meia década.

“Esse período me marcou bastante, tanto que o cerne desse livro é marcado por uma vontade de violência. Eu vinha pensando a relação entre poesia e violência, e com esse livro novo acabei indo para esse lugar”, filosofa. “Ele descambou de um romantismo talvez tardio, visto no meu primeiro livro, para essa coisa da violência, que é fruto disso tudo, gostaria que fosse lido dessa forma. Não é (um livro) para as pessoas acharem bonito. Tenho certeza que, numa outra realidade coletiva, talvez estivesse escrevendo sobre outras coisas.”

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Segundo Italo, a construção de “A morte não é magrinha” se deve, em grande parte, ao trabalho da editora Juliana Travassos. Ele conta que entregou a ela os poemas e textos que acreditava que poderiam entrar no livro, e coube à editora selecionar os textos e criar a coesão que pode ser encontrada em suas páginas.

“Eu me considero muito sortudo em termos de edição, porque a Juliana fez um trabalho quase que de coautoria. Ela que me deu o livro na questão de elaborar a narrativa. Tenho muita confiança nela, pois não é alguém que pega o livro, agradece e manda para a gráfica, ela de fato ‘construiu’ o livro. Foi um processo de edição distante do que se vê por aí, em que é tudo mercadoria. Sem a Juliana, o livro não sairia dessa forma.”

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Em sua análise, Italo Diblasi acredita que seu segundo livro foge da fórmula que tem observado nos livros mais recentes do gênero, que surgem a partir de um tema específico. “Ele é uma reunião de textos que vão se adensando e dando conta de uma subjetividade vivida nos últimos anos, de você se perguntar onde pode se amparar, e a escrita desses poemas serviram de amparo para mim, são um respiro desses anos duros que vivemos”, afirma.

Inventado, mas não falso

Retornando à comparação com seu primeiro livro, Italo Diblasi lembra que “O limite da navalha” reuniu textos escritos nos dois anos anteriores, e que a “duração” maior para a elaboração de “A morte não é magrinha” não indica que o público encontrará um escritor mais maduro, mas certamente alguém que encarou um “percurso” mais longo. “A gente fica mais velho, mas não sei se fiquei mais maduro”, diz, preferindo observar as mudanças em termos de estilo.

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“Do ponto de vista da linguagem, comecei a fazer uma investigação maior, a buscar novos recursos. Não queria seguir com minha poesia dentro de uma fórmula que tinha encontrado no primeiro livro; fui explorar universos mais longos. Ele tem muita prosa poética, por exemplo, que o primeiro não tinha, e antes havia um purismo da forma do poema, e hoje aceito incluir essa prosa poética, arrisco mais no formato. Não sei se o poeta amadureceu, mas a vontade de experimentar expandiu.”

Por fim, Italo comenta sobre o processo de expor perante ao público por meio da poesia, que no caso de “A morte não é magrinha” é feito de forma visceral, ainda que não necessariamente direta ao escrever sobre suas experiências. “Você lembra quando o Fernando Pessoa disse que o poeta é um grande mentiroso? Ele estava mentindo, ou será que não?”, propõe. “Se eu for me preocupar com a reação das pessoas, não conseguiria escrever, porque o que escrevo é muito pessoal. Mas eu quero borrar essa barreira entre o que é pessoal e o que é invenção, o que não quer dizer que o que invento seja falso. Não é um falso de oposição à verdade, mas uma fabricação. Não existe, para mim, o dilema de me sentir exposto, pois minha poesia está no limite do artifício. É tudo perfeitamente real, e por isso mesmo forjado, gosto de trabalhar com essa contradição.”

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