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Kamila Weber lança a animação ‘Entre azuis’

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“Entre azuis” é baseado em uma história da família de Kamila Weber e foi finalizado em junho (Foto: Reprodução)

As memórias da família costumam resultar em ótimas histórias para as mais variadas expressões artísticas, e este é o caso de “Entre azuis”, primeira animação em curta-metragem da capixaba Kamila Weber, que está disponível no canal da diretora no YouTube desde o último dia 4. Iniciado como uma proposta de atividade no Instituto Politécnico de Portalegre, em Portugal, onde Kamila realizou intercâmbio pela UFJF entre 2019 e 2020, o curta foi finalizado este ano após ser aprovado no edital da Lei Aldir Blanc de Minas Gerais. A produção contou com a participação de Guilherme Barbosa na animação na parte realizada ainda em solo europeu, e de estudantes da UFJF na sua finalização.

Com pouco mais de quatro minutos de duração, “Entre azuis” é inspirado em uma história da família de Kamila, acontecida na década de 1970, mas que ainda é muito comum no país: as crianças mais velhas em famílias numerosas que precisam tomar conta dos irmãos e irmãs mais novos, como se fossem adultos, mesmo que ainda sejam crianças que desejam apenas brincar e se divertir.

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“Uma das atividades no intercâmbio era fazer um curta-metragem animado, mas nada mirabolante, então sugeriram uma história de infância. Eu e o Guilherme (Barbosa) pensamos a princípio em algo da nossa própria infância, mas achamos que ficaria muito parecido com as que os outros iriam fazer”, conta. “Então decidimos perguntar aos nossos tios. Os dele são do interior de Minas, os meus do Espírito Santo, mas o que percebemos é que em muitas dessas histórias eles que precisavam cuidar dos irmãos mais novos, e foi de uma dessas histórias que criamos a animação.”

A história escolhida foi uma contada por sua tia Marina (“Ela é uma ótima contadora de histórias”, afirma) e que se passa em uma praia do Espírito Santo nos anos 70, que por pouco não terminou em tragédia. Como era normal na época (assim como viajar sem cinto de segurança, com as crianças soltas no porta-malas da Variant…), os irmãos mais velhos cuidavam dos mais novos, e, à medida que novos caçulas surgiam, a tarefa passava para aqueles que já haviam crescido um pouco. Quando chegou a vez de Marina, que era uma entre nove irmãos, a responsabilidade foi ainda maior.

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“Ela teve que cuidar da tia Marta, que teve paralisia infantil, e por isso foi mais difícil para ela que para os mais velhos. E quando ela tinha entre dez ou onze anos estava na praia com a Marta, que quase se afogou e foi salva por outro irmão. Minha tia lembra que tomou uma surra da mãe por causa disso, e jamais se esqueceu da história. Como ela contou tão bem essa história e seria divertido animar toda essa parte da praia, decidimos que seria essa a história da animação.”

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Volta antecipada ao Brasil

Kamila Weber foi uma dentre vários estudantes da UFJF que conseguiram ser selecionados para o intercâmbio no Instituto Politécnico de Portalegre, tendo chegado a Portugal para iniciar o intercâmbio no segundo semestre de 2019. Os desafios foram muitos, pois estava sozinha em outro país e a bolsa do intercâmbio contemplava apenas a mensalidade da instituição. Passagens aéreas, alimentação, aluguel do alojamento do Instituo e gastos gerais ficaram por conta dela, que teve o apoio da família. A UFJF ajudou, ainda, a resolver questões burocráticas relativas ao visto e a fazer com que os estudantes criassem laços antes mesmo da viagem.

“Estava em outro continente tendo que resolver muitas coisas sozinha, mas também foi divertido conhecer outras pessoas, pois havia alunos da UFJF de outros cursos, além dos portugueses, africanos…”, relembra Kamila. “E a oportunidade do intercâmbio foi valiosa porque desejo me especializar em animação, e esse curso numa instituição especializada ajudou a expandir minhas habilidades”, acrescenta a jovem diretora, que se formou em arte pela UFJF e agora faz especialização em cinema.

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O que deveria ser um ano de estudos em terras portuguesas, porém, teve seus planos alterados com a chegada da pandemia. Com a situação crítica na Europa, Kamila retornou ao Brasil em abril de 2020 – quatro meses antes do previsto -, em um dos voos de repatriação. “Foi bem difícil, desde março Portugal já estava em lockdown. Terminei o intercâmbio em casa, e certamente teria aprendido mais se estivesse lá”, lamenta. “Mas aqui, pelo menos, estava com minha família.”

Outro contratempo foi não terminar o curta antes do retorno ao Brasil. Ela e Guilherme seguiram trabalhando nele a partir de suas casas, e por isso foram reprovados na matéria. Guilherme acabou desistindo do projeto, mas Kamila Weber seguiu a guardando a oportunidade de finalizá-lo e assim poder fazer a apresentação para os portugueses. Ela surgiu com o lançamento do edital da Lei Aldir Blanc de Minas Gerais, e com a aprovação ela voltou à produção no início de 2021.

“Já estávamos com pouco mais da metade da animação concluída, então mostrei um pouco das cenas para o edital, apresentei o projeto e consegui ser aprovada. Voltei a trabalhar no curta em fevereiro e terminamos no começo do mês. No próprio dia 4, quando lançamos, ainda tinha coisa de montagem para concluir, mas a animação em si já tinha concluída no final de junho.”

Reação da família

Por se tratar de um curta baseado em memórias da família da diretora, a Tribuna perguntou a Kamila como foi a reação de todos, em especial da tia Marina. “Não pude vê-la assistindo por causa da pandemia, mas ela me contou que chorou, que adorou, ainda mais porque jamais imaginou que uma história dela poderia virar uma animação. Meu pai, que é o irmão pequeno que aparece no curta, também gostou, assim como toda a família”, diz Kamila, que planeja tentar inscrever “Entre azuis” nos futuros festivais de cinema. “Já pensamos no Primeiro Plano de 2022, pois para este ano as inscrições já estavam encerradas.”

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