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Tom Holland vale o ingresso no irregular ‘Cherry – Inocência perdida’

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Tom Holland interpreta o protagonista de “Cherry”, um universitário traumatizado pela guerra e viciado em drogas (Foto: Divulgação)

O que fazer depois que se chega ao topo do mundo? Esta talvez tenha sido a pergunta feita entre os irmãos Joe e Anthony Russo após “Vingadores – Ultimato” (2019), que ocupou por cerca de um ano o posto de maior bilheteria da história do cinema, com quase US$ 3 bilhões arrecadados, até “Avatar” (2009) ser relançado na China apenas para retomar o lugar mais alto no pódio.

Já vimos a resposta a essa pergunta em outras ocasiões, com diretores e atores eventualmente marcados por um blockbuster, uma franquia, um personagem, tentarem algo radicalmente diferente. E foi esse o caminho que os Irmãos Russo tomaram ao produzirem e dirigirem o drama barra-pesada “Cherry – Inocência perdida”, que está no catálogo da Apple TV+. O resultado, porém, está aquém do que a dupla pode entregar, e não por falta de material; o problema é que eles perdem a mão ao tentarem fazer praticamente três filmes em um.

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A matéria-prima para o longa era promissor. “Cherry” é adaptação do autobiográfico livro de estreia de Nico Walker, em que ele conta sua conturbada, traumática e autodestrutiva trajetória no início deste século. O protagonista da história é Cherry (Tom Holland), jovem universitário que se alista no Exército e passa uma temporada sangrenta no Iraque, de onde volta com Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Marcado pelos horrores da guerra, não demora para Cherry ser arrastado para o vício das drogas – com a namorada Emily (Ciara Bravo)a reboque – e enveredar pela vida de crimes.

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Se os três arcos da história são necessários para entender a jornada do protagonista, faltaram aos Irmãos Russo os devidos cortes para a história ficar mais concisa. Parece que estamos assistindo a três filmes diferentes, que nem sempre dialogam entre si. Primeiro temos o início do relacionamento entre Cherry e Emily, que mais parece um romance genérico; depois temos o filme de guerra; e, por fim, o drama de quem perde a luta contra as drogas. Além da falta de “diálogo”, é óbvio que os dois primeiros arcos poderiam ter sido enxugados na sala de edição.

Joe e Anthony Russo perdem a mão ao utilizarem – e depois abandonarem – estilos cinematográficos que mais atrapalham do que ajudam o espectador a se interessar pela história, como a narração em off. O excesso do uso da câmera lenta também irrita, e a trilha sonora melodramática torna piegas situações que pedem maior peso emocional.

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Analisado por esses pontos, o leitor pode imaginar que “Cherry – Inocência perdida” não mereça ser assistido. O que podemos dizer é que o filme realmente tem muitos defeitos, mas mesmo assim merece ganhar uma chance do público por três motivos. Uma é a trajetória do protagonista. Outro é o fato de que os Irmãos Russo não desaprenderam a fazer cinema, e os momentos em que acertam são preciosos. E, por fim, o trabalho de Tom Holland. O ator britânico, que se tornou conhecido por interpretar o Homem-Aranha nos filmes da Marvel, entrega uma atuação impecável e sem exageros. Percebe-se a cada cena a seriedade e a dedicação que o protagonista pede e merece, e seu desempenho é fundamental para que “Cherry – Inocência perdida” deixe de ser um filme nota quatro e chegue aos créditos merecendo uma nota seis – ainda que raspando.

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