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Autoramas lança novo álbum, ‘Autointitulado’

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Sem lançar álbum desde “Libido”, de 2018, Autoramas retorna em grande forma com “Autointitulado” (Foto: Gilbert Spaceh/Divulgação)

Nada pode parar o Autoramas; no máximo, forçar um pit-stop. Pode-se dizer que é com esse espírito que o quarteto formado por Gabriel Thomaz (guitarra e vocais), Érika Martins (vocais, miniguitarra, órgão, percussão e theremin óptico), Fábio Lima (bateria) e Jairo Fajersztain (baixo) voltam à pista com “Autointitulado”, novo álbum da banda. O trabalho é o primeiro a ser lançado pelo selo Maxilar, fundado por Gabriel, que divide a produção com Jairo e Alê Zastrás. O disco também chega à Europa e Japão pela Soundflat Records.
O tal pit-stop forçado tem um motivo: a pandemia de Covid-19. Gabriel conta que o plano era lançar o sucessor de “Libido” (2018) em 2020, mas, como cada integrante precisou ficar em seu canto, não havia como ensaiar, trabalhar as composições e gravar. A situação ficou dramática quando Gabriel Thomas contraiu Covid, tendo que ficar 22 dias internado – sete deles intubado. Das 12 músicas do disco, dez foram gravadas ano passado, com duas outras (“Boneco” e “Dinâmica de bruto”) tendo sido aproveitadas de sessões pré-pandemia.

“Estava praticamente tudo pronto no caderno, mas o problema é que a gente não havia ensaiado as músicas e por isso não sabia tocá-las, então ninguém tinha como fazer sua parte mesmo de casa. Quando conseguimos resolver isso, a coisa toda se abriu”, conta Gabriel. As gravações aconteceram no estúdio que Jairo montou em sua casa, na cidade paulista de Itatiba – com exceção de Érika, que gravou os vocais no Virgun’s Studio -, tomando os cuidados necessários para ninguém se contaminar.
“Gravar um disco é muito bom, uma delícia. É um exercício de criatividade que queremos que comece logo, e ter que esperar foi bem chato. Todo dia alguém perguntava ‘será que mês vem rola?'”, continua. “E a grande loucura é que agora a gente tem esse ‘atraso’ e já estamos pensando em um novo álbum. Já estamos ensaiando, talvez algo saia como single, ainda mais que o compacto é meu formato preferido.”

Nada pode parar as coletâneas

Sem poder se reunir com os outros integrantes da banda, Gabriel Thomaz buscou uma forma de passar o tempo, e a solução foi olhar para a própria discografia do Autoramas, que tem por tradição lançar singles, participar de coletâneas, tributos, o que vier pela frente – o que resulta numa produção pulverizada.
“Toda nossa vida digital estava muito bagunçada, pois não tinha tempo para arrumar, e o tempo veio com a pandemia. Nesse processo fui achando músicas soltas – uma faixa que saiu apenas numa coletânea em Portugal, outra que saiu em um tributo ao Mudhoney, remixes -, então pensei em fazer como o Pixies e lançar um álbum com b-sides e extras. Achei que seriam dez, mas quando vi tinha 30 (risos).” Com tanta música dando sopa, a banda lançou dois volumes de “B-Sides & Extras”, e Gabriel afirma haver material para um terceiro volume. “Foi ainda uma forma para que a frustração não reinasse (por não poderem gravar), e o pessoal curtiu.”
Um projeto que foi abortado, porém, foi a comemoração dos 20 anos de lançamento do álbum de estreia, “Stress, depressão & síndrome do pânico”, que chegou a ter uma regravação de “Carinha triste” na mesma sessão que rendeu “Dinâmica de bruto” e “Boneco”, além de um cover dos Beatles.

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Conectado com o presente e os algoritmos

Antes de “Autointitulado” ter lançamento oficial, o Autoramas lançou alguns singles, entre eles “A cara do Brasil”, parceria com Rodrigo Lima, da Dead Fish. Sobre as letras com temas mais conectados aos tempos atuais, o vocalista diz que essa sempre foi uma preocupação da banda, mas que essas questões eram tratadas de forma mais subjetiva – como exemplo, ele cita “Autodestruição”, do primeiro álbum.
“Achei que não era para ter sutileza dessa vez, que tinha que mandar brasa mesmo. Antes do Little Quail and The Mad Birds eu tive uma banda em que todas as letras que eu escrevia eram de protesto, imitando bandas como Cólera, Ratos de Porão, Lobotomia. Foi questão de buscar nas minhas raízes”, explica.
“Em nossa última turnê internacional antes da pandemia, em 2019, me deu uma certa vergonha, pois o público dos shows sabia que éramos brasileiros e eles gritavam ‘Forrrrra Bolsonarrrrrro’. Eram protestos muito legais, mas eu também lembrava das turnês em que dava muito orgulho ser brasileiro”, prossegue. Gabriel cita, ainda, outra música que está na mesma vibe de “A cara do Brasil”. “Acho que ‘Dinâmica de bruto’ também tem tudo a ver com a situação sociopolítica do país, ‘O ritmo do algoritmo’ é bem atual também. Já ‘Dia da Marmota’ e ‘Estupefaciante’ têm mais a ver com os tempos de Covid.”

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“Você sabe que quase morreu, né?”

Com mais de 600 mil mortos pela Covid, o Brasil tem uma longa lista de pessoas que, contaminadas, estiveram à beira da morte por causa da pandemia, e Gabriel faz parte da lista de quem passou pelo drama de ser intubado e não saber se conseguiria escapar.
“A Covid bateu muito forte em mim. Tive que ser internado rapidamente, deu complicação na internação e fui intubado. Fiquei uma semana apagado e 22 dias no hospital, quase morri. O médico que cuidou de mim falou depois: ‘Você sabe que quase morreu, né?’ Não lembro de nada, estava completamente apagado, o corpo já não estava rolando mais. Eles me salvaram”, relembra. “Acho que as pessoas esperam que eu fale da valorização da vida, mas está tudo tão duro (risos) que não dá para acionar esse romantismo todo, pois as coisas não passaram ainda. Foi uma batalha antes da guerra.”
Durante o tempo em que esteve consciente no hospital, a opção era trabalhar a criatividade. “Eu já fico 24 horas por dia pensando na banda, imagine deitado. Não tinha como anotar as coisas na UTI, mas ia decorando tudo, pensando nas letras, cantando para mim mesmo, tirando uma sílaba daqui e ali, e isso permitiu chegar em estúdio com o trabalho mais lapidado. Mas as letras sobre a Covid já estavam prontas desde antes da internação.”

Novo selo

Antes da internação, porém, Gabriel Thomaz ainda teve tempo de aproveitar o tempo que surgiu com a pandemia para realizar outro projeto: o selo Maxilar, que está a todo vapor. “O primeiro lançamento foi do Dionisio Dazul (guitarrista do Forgotten Boys), em fevereiro do ano passado. Lançamos 22 artistas em 2021, entre eles Edu K, RetroMorcego e Bruxas Exorcistas, que tem a Virginie Boutaud (ex-Metrô), Apolonia Alexandrina (anvil FX), Camila Costa, Érika Martins, Luísa Matsushita (a Lovefoxxx do Cansei de Ser Sexy) e a Maria Paraguaya (Escambau e Banda Cigarras). Dá um trabalho muito grande, mas as pessoas estão comentando. E queremos fazer mais coisas, como shows, festivais.”
Quanto ao Autoramas, a banda já voltou ao seu habitat natural – os palcos – no final de 2021, com apresentações em Jundiaí, Piracicaba e Americana. Este ano, o grupo fez mais uma apresentação em Jundiaí – onde Gabriel mora atualmente – e duas em São Paulo. “A nova variante (Ômicron) fechou tudo de novo, e por isso estamos com apenas um show marcado em 18 de março, em Santo André. Seguimos aguardando, pois estamos doidos para voltar com as turnês.”

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