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Frevo animal

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Folia antecipada: da esquerda ara a direita, Ângelo, Roger, Lula, Fernando e Aldo compõem e interpretam canções do gênero para animar as noites da cidade até o carnaval (Foto: Divulgação)

Na distante década de 1930, o jovem ritmo do frevo partiu de Pernambuco para se espalhar pelo país. Misturando capoeira, marcha e outros gêneros, o tal do frevo ganhou os salões cariocas e influenciou diferentes gerações de compositores do carnaval. Lamartine Babo foi um dos que se encantaram com o ritmo ao ouvir “Mulata”, dos pernambucanos Irmãos Valença. Com a pretensão da originalidade, mudou pouco o texto e logo lançou uma das mais famosas marchinhas brasileiras, “O teu cabelo não nega”. Não demorou, e a justiça compartilhou os direitos da canção com os irmãos. Ironicamente, quando o ritmo tornou-se, segundo a Unesco, patrimônio cultural imaterial da humanidade perdeu espaço para outros gêneros num carnaval que agora comporta até mesmo funk e sertanejo. Manteve-se, contudo, em seu Recife natal e em todo o Nordeste.

Resgatando uma produção histórica e esteticamente relevante para a compreensão da música popular brasileira, um grupo de experientes músicos da cidade se voltam para o frevo. Tocam, a partir desta quinta e até o dia 23 de fevereiro de 2017, às 21h, no Café Muzik, o ritmo que combina perfeitamente com as coloridas sombrinhas que adornam a dança. “O carnaval foi feito para tocar músicas de carnaval. Em muitos momentos, vemos outros gêneros invadindo a folia, sendo que a gente associa a festa ao samba-enredo, às marchinhas e ao frevo”, comenta Roger Resende, que, ao lado de Ângelo Goulart, Lula Ricardo, Aldo Torres e Fernando Drummond, compõe o Capivaras Endiabradas.

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O clássico e o inédito

O animal que circula pelas bordas do Rio Paraibuna e vez ou outra é encontrado em casas representa não só a cidade como faz troça com essa própria representação. Envolve a leveza de observar a natureza com a irreverência de buscar nela um símbolo. Subversões próprias da folia de Momo. “Não temos intenção histórica, mas o desejo de tocar o frevo”, pontua Roger, destacando a despretensão de uma formação que não espera ocupar as ruas e se tornar um agigantado movimento de carnaval. “Não queremos virar bloco, somos um grupo musical que toca frevo”, ri o músico, destacando a irreverência, a alegria e o alto astral que circundam o ritmo.

De “Bloco do prazer”, de Moraes Moreira e Fausto Nilo, e “Pombo correio”, de Dodô, Osmar e Moraes Moreira, as duas composições do bloco local Parangolé Valvulado, passando por três concorrentes das edições passadas do concurso de marchinhas realizado pela Funalfa, o repertório inclui revisão de clássicos e também autorais da própria banda, como “Capivara endiabrada”, que abre o show anunciando a festa, seguida por “Endiabradinha” e “Capivariando”. Para refrescar o ritmo acelerado, o grupo apresenta o ijexá “Haverá axé”, de Roger e Carlos Fernando Cunha.

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“Nossa ideia é tentar delinear, também, um repertório do carnaval de Juiz de Fora”, propõe Roger, que, ironicamente, conheceu o ritmo em terras mineiras. Nascido em São João Nepomuceno, cidade reconhecida por seu animado carnaval de rua, Roger tinha 14 anos quando foi à folia e encontrou diversas barracas, cada uma tocando um gênero diferente. Escolheu a barraca intitulada “Bar da Massa”, onde estava sua turma. O som que embalava os amigos, todos mais velhos? Frevo. “Foi ali, no interior, que me envolvi com o ritmo de Pernambuco.”

Para fisgar jovens como Roger, o projeto “Frevo, suor e cerveja”, que já embala a festa que só começa no dia 25 de fevereiro, inclui músicas inéditas sem deixar de fora tradicionais criações de Armandinho, Dodô e Osmar, Moraes Moreira, Alceu Valença e até Caetano Veloso, com seu contagiante “Atrás do trio elétrico”. “O público mais jovem não tem muito acesso ao ritmo por aqui, alguns nem conhecem”, comenta Roger. Por isso a importância de fazer noites para reverenciar uma tradição que é referencial para a ideia de carnaval no país. E que não se limita ao gingado dos pés e ao suingue dos braços agitando as sombrinhas. “O frevo exige muita articulação para cantar, é muito rápido e não dá tempo para pensar. É preciso entender a métrica do frevo para dominar o gênero, cantando as melodias de forma correta e encaixando bem as letras e as palavras para que as pessoas entendam”, conta Roger.

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Capivara Endiabrada

Shows às quintas-feiras, às 21h, no Café Muzik (Rua Espírito Santo 1081 – Centro). Até 23 de fevereiro.

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