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Sandra Pêra lança álbum com releituras de clássicos de Belchior

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Sandra Pêra, ex-Frenéticas, volta ao estúdio para homenagear o bardo cearense (Foto: Jorge Bispo/Divulgação)

Houve uma época, mais exatamente entre o final dos anos 70 e início da década de 1980, que era fácil ouvir a voz de Sandra Pêra nas rádios, na TV, nas festas. Como integrante do sexteto As Frenéticas, ela fez parte de um dos maiores fenômenos da música pop brasileira. Depois que saiu do grupo, em 1982, ela chegou a lançar um álbum solo no ano seguinte, e depois… Bem, foram 38 anos em que a artista se dedicou ao teatro, cinema e televisão, e só agora, quase quatro décadas depois, ela deixa um pouco (mas nem tanto) em segundo plano seu lado atriz para dar à sua persona cantora – que seguiu firme e forte nos palcos – o espaço que merece. Ela lançou no último dia 4 o álbum “Sandra Pêra em Belchior” (Biscoito Fino), com um repertório totalmente dedicado ao cantor cearense, morto em 2017 na cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul, aos 70 anos.

Com produção de José Milton e da filha Amora Pêra, o disco traz reinterpretações de músicas como “Sujeito de sorte”, “A palo seco”, “Velha roupa colorida”, “Mucuripe” e “Medo de avião”. Para o projeto, ela contou com participações especiais de outros grandes nomes da MPB, como Ney Matogrosso, Zeca Baleiro, Juliana Linhares e o grupo Chicas.

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Depois de lançar seu primeiro e – até agora – único álbum solo, em 1983, Sandra Pêra ficou todo esse período sem gravar um projeto pessoal. De acordo com ela, material nunca faltou, mas Sandra afirma que transformar essas ideias em um novo álbum se tornou muito difícil, por mais que tenha paixão por cantar. “A música sempre esteve presente na minha vida. Fizemos um trabalho intenso com As Frenéticas, e quando saí do grupo tinha muita coisa escrita, músicas feitas em parceria com o Guilherme Lamounier. Estava muito próxima do (produtor) Liminha na época, mostrei o material e ele enviou para a gravadora Warner. Eles acharam que ia ser um sucesso retumbante, e não foi (risos)”, conta.

“Era só um começo de carreira solo, mas as pessoas têm pressa, e como eu estava com uma filha pequena (Amora), tinha que trabalhar, então fui fazer teatro. Mas sempre continuei cantando, há poucos anos fiz o show ‘Duas feras perigosas’ com a Dhu Moraes, que rendeu um DVD e só paramos por causa da pandemia. Não tinha parado, só não gravava um disco.”

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‘Vai lembrar disso amanhã?’

Talvez tudo continuasse assim se não fosse um jantar no segundo semestre do ano passado na casa de Kati de Almeida Braga, uma das fundadoras da Biscoito Fino, e a audição de “Serenata”, mais recente álbum de Fagner. “Uma das músicas era ‘Mucuripe’ (parceria de Fagner com Berlchior), que achei linda, aí a Kati vira pra mim e pergunta: ‘por que você não grava um disco só de Belchior?’. Meu coração veio na boca, mas fiquei quieta, esperei um pouco e perguntei: ‘você vai lembrar disso amanhã?’ (risos).”

A partir dali, elas começaram a planejar. “Tive a sorte de pegar o José Milton, que é um produtor maravilhoso que trabalha com o Fagner. Eu o conheci quando a Marília (Pêra, atriz e cantora, irmã de Sandra, que morreu em 2015) estava com ele gravando um álbum que ela não conseguiu terminar antes de morrer”, conta, lembrando que pediu ainda que a filha Amora dividisse a direção artística do projeto com ele.

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E da ideia à ação foi tudo muito rápido, com as gravações acontecendo entre outubro e dezembro de 2020. “Conseguimos a união da experiência do Zé Milton com a juventude dela. Foi um trabalho que agarrei com todas as minhas forças, muito bonito e tão feliz que não queria que terminasse. Estar num estúdio é mágico; estar no aquário, ouvir a sua voz, regravar… adoro essa dinâmica. Ainda mais poder sair de casa durante essa pandemia, entrar num estúdio com cuidado e realizar meu trabalho foi maravilhoso.”

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Repertório a jato

A escolha do repertório, segundo ela, foi muito rápida. “Assim que a Kati fez a proposta, eu mergulhei no Belchior. No mesmo dia fui pra casa e comecei a ouvir. A escolha do repertório foi rápida, não quebrei cabeça, fui escolhendo pelas letras e melodias”, explica. “Além de ser um poeta genial, é muito prazeroso cantá-lo.”

No meio do processo de escolha, Sandra sabia que não iria cantar duas músicas: ‘Coração selvagem’, que Ana Carolina tinha regravado, e ‘Como nossos pais’. “A única que escolhi e não entrou foi ‘Balada de Madame Frigidaire’; enquanto estávamos gravando ela foi ficando por último, e a Amora falou que achava melhor não gravarmos, e no final me convenceu que não era hora de cantar. Tinha escolhido por ser muito teatral, mas é uma música que fala de uma mulher, mas mesmo que fosse uma brincadeira temos que tomar cuidado hoje em dia.”

Dentre as músicas que entraram no álbum, uma delas tem história entre Sandra Pêra e Belchior. Ela relembra um episódio acontecido em 1977, quando ela e As Frenéticas estavam em um avião que ia para Fortaleza e ninguém menos que Belchior senta ao lado dela. Segundo Sandra, era seu aniversário e ela contou ao cantor que morria de medo de avião e, durante uma turbulência forte, ele disse que havia feito “Medo de avião” para ela. A cantora levou na brincadeira, porque a música já existia, mas durante bons anos ela sempre encontrava alguém que vinha dizer que Belchior havia contado que a canção havia sido feita para artista.

Menino Ney

Quanto às participações, uma que sempre esteve na cabeça de Sandra Pêra desde o início foi a de Ney Matogrosso, amigo de décadas e com quem chegou a dividir apartamento com Regina Chaves, outra integrante d’As Frenéticas, nos anos 70. “O Ney sempre fez parte da minha vida. Éramos irmãos morando juntos, depois virou meu vizinho de porta, foram momentos de muita alegria. Eu queria cantar ‘Velha roupa colorida’ com ele, e no dia da gravação foi todo bonitinho, de máscara, mas estava preocupado porque era a primeira vez que estava cantando desde o início da pandemia”, comenta. “Tenho planos de fazer um show do álbum, quero muito. Sou mulher de palco, gosto de palco, de ver o público, mas chegaremos lá. O sonho está aí, sim.”

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