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‘Morte no Nilo’ chega ao Star+

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“Morte no Nilo”, segunda adaptação dos livros de Agatha Christie, com direção de Kenneth Branagh – o primeiro foi “Assassinato no Exprtesso do Oriente”, em 2017 -, estreou nos cinemas em fevereiro, e, dois meses depois, já havia entrado no catálogo do Star+. Sorte para os assinantes do serviço de streaming, pois a produção cumpre sua missão de conquistar o espectador com uma ótima nova versão para o livro homônimo (existe uma adaptação produzida em 1978, com Peter Ustinov, Bette Davis, Mia Farrow, David Niven no elenco).

A história de “Morte no Nilo” se passa em 1937, ano em que o livro foi publicado, porém com algumas diferenças – entre elas, o aprofundamento no passado de Hercule Poirot (interpretado pelo próprio Brannagh), mostrado em um flashback nos minutos iniciais em um campo de batalha na Primeira Guerra Mundial e noivo de uma jovem enfermeira, que conhecemos após o futuro detetive sofrer um acidente que justifica o uso do famoso e excêntrico bigode.

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Cerca de duas décadas depois, já um investigador mundialmente famoso, Poirot observa em um clube, em Londres, o casal formado por Simon Doyle (Armie Hammer) e Jacqueline de Bellefort (Emma Mackey), que se encontra com a milionária Linnet Ridgeway (Gal Gadot). Meses adiante, o detetive belga está de férias no Egito e reencontra o amigo Bouc (Tom Bateman, que já havia aparecido em “Assassinato…”), que o convida para a festa que celebra o casamento de Linnet com Simon, que trocou Jacqueline por sua melhor amiga.

O que deveria ser uma jornada de celebração vira um tormento porque Bellefort, inconformada com a traição, persegue o casal por todo o Egito. A fim de evitar o constrangimento, Linnet e Simon levam os convidados (e Poirot) para seguirem com as comemorações em um barco de luxo pelo rio Nilo. Em uma parada, porém, Jacqueline consegue embarcar e volta a atormentar os recém-casados. E o que era apenas um constrangimento daqueles vira tragédia, quando Linnet é encontrada morta em sua cabine com um tiro na cabeça.

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A primeira suspeita, claro, é Jacqueline, porém a moça tem um álibi. Ao mesmo tempo, assim como em “Assassinato no Expresso do Oriente”, todos os passageiros têm algum ressentimento em relação à falecida para desejar ou provocar sua morte: um episódio de racismo, um pedido de casamento negado, uma paixão platônica, um noivado desfeito, ou a pura ambição pela possibilidade de receber uma herança polpuda. Caberá a Poirot, então, usar as famosas células cinzentas do cérebro para desvendar o mistério, que só aumenta quando o caso tem pelo menos duas reviravoltas que deixam o espectador ainda mais confuso.

Com Kenneth Branagh mais uma vez no papel de Hercule Poirot, Morte no Nilo está disponível no Star+ (Foto: Divulgação)

100% “filme de detetive”

Hollywood vive um momento em que a maior parte de seu faturamento vem de todo tipo de adaptações, incluindo quadrinhos, games, séries de TV, jogos de tabuleiro, parque de diversões e livros de todos os gêneros. No caso da literatura, muitas vezes temos adaptações que buscam “atualizar” o personagem, seja pela linguagem cinematográfica (o Sherlock Holmes de Robert Downey Jr.) ou a transposição da trama para os dias atuais (ainda Sherlock Holmes, nas séries estreladas por Benedict Cumberbatch e Jonny Lee Miller). Kenneth Branagh, entretanto, mantém em seus filmes protagonizados por Hercule Poirot a essência de um jeito britânico de ser (e que não existe mais) presente nas obras de Agatha Christie.

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Essa preocupação em ser o mais fiel possível à obra marca presença em praticamente todos os fotogramas de “Morte no Nilo”, incluindo diálogos, cenários, apresentação dos suspeitos, interpretações, num ótimo exercício de direção de Brannagh. Não é difícil ficar com a sensação de que estamos assistindo a uma excelente versão de “teatro filmado”, tamanha a teatralidade de algumas falas ou cenas. Até os cenários, em diversos momentos, têm o clima dos antigos filmes de detetive – em outros, como nas panorâmicas do rio Nilo, fica a desagradável impressão de que o dinheiro para o CGI tinha acabado.

Quanto às interpretações, é evidente o abismo entre alguns personagens. Ator shakespeariano, Kenneth Branagh dá o show habitual ao entregar um Hercule Poirot excêntrico, arrogante, vaidoso e egocêntrico, mas que, ao mesmo tempo, deixa escapar os traumas do passado em situações pontuais. As cenas do interrogatório, por exemplo, são alguns dos melhores momentos do longa. Tom Bateman está excelente como o bon vivant e apaixonado Bouc, e Jennifer Saunders, Annette Benning, Sophie Okonedo, Emma Mackey e Rose Leslie também se destacam quando estão em cena. Por outro lado, Gal Gadot, Armie Hammer e Russell Brand têm atuações decepcionantes – e, no caso dos dois primeiros, o desempenho apagado se torna ainda mais gritante quando precisam encarar Brannagh brilhando como Poirot.

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Se “Entre facas e segredos” (2019) tinha Benoit Blanc (Daniel Craig) como uma divertida versão atualizada de Hercule Poirot, “Assassinato no Expresso do Oriente” e “Morte no Nilo” mostram que os fãs dos “filmes de detetive” estão bem servidos no que diz respeito às possibilidades do subgênero cinematográfico. Agora, é torcer para que a continuação de “Entre facas e segredos”, programada para sair ainda em 2022, mantenha o nível do primeiro longa, e que o Hercule Poirot de Kenneth Branagh não fique apenas com os dois filmes já lançados.

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