Mesmo que tenho perdido parte de sua força, “Vingadores: Ultimato” continua com o poder de um furacão cinematográfico de categoria 4, cabendo aos outros longas lutarem para encontrar seu espaço entre a tormenta provocada pelo maior quebrador de recordes da época. Desafiantes não faltam: só nesta nesta quinta-feira (16) quatro longas estreiam em Juiz de Fora, com opções variadas para quem já assistiu ao mega blockbuster da Marvel ou queria mesmo fugir do empenho de meia dúzia de heróis para tentar derrotar Thanos.
Para a turma do cinema nacional e adepta do espiritismo, “Kardec” chega para mostrar a vida do educador francês Hypolite Leon Denizard Rivail, reconhecido mais tarde como Allan Kardec; já os pais e mães, tios, primos e padrinhos/madrinhas que gostam de levar a criançada para o cinema têm como opção a animação “Ugly Dolls”, em que um bando de criaturinhas fofinhas porém fora dos padrões de “beleza” querem ser aceitas pelo que são.
E ainda há outros dois lançamentos chegando a Juiz de Fora. Um deles é o reboot de “Hellboy”, adaptação do personagem das HQs criado pelo roteirista e ilustrador Mike Mignola, e “John Wick 3 – Parabellum”, terceira parte da franquia de inesperado sucesso estrelada por Keanu Reeves e seu rosto marmorizado.
O Filho do Demo em apuros (na bilheteria)
O reboot de “Hellboy” tem todo aquele jeitão de filme integrante da categoria “ninguém pediu, ninguém quer assistir, quem vai ser demitido por pensar em fazer um novo filme com o sujeito?” – e ainda por cima com um péssimo timing para o lançamento.
Explicando. O personagem publicado há mais de 25 anos por Mignola na editora americana Dark Horse é um queridinho da turma que acompanha quadrinhos, mas pouco conhecido entre o grande público – ou seja, não é um personagem da Marvel que só por ter um longa pra chamar de seu vai fazer meio bilhão de dólares brincando. Mesmo com a grife de um Guillermo Del Toro na produção e o carisma de Ron Perlman no papel do protagonista, os dois primeiros filmes não são um exemplo de caminhões de dólares, da linhagem de histórias que agradam a crítica mas passam batidas pelo público.
Segundo o Box Office Mojo, o primeiro da série, lançado em 2004, fez US$ 99 milhões para um orçamento de US$ 66 milhões; já “Hellboy II: O Exército Dourado”, de 2008, custou US$ 85 milhões e encerrou a carreira com US$ 160 milhões. Por conta disso, o encerramento da trilogia foi sendo adiada, Del Toro foi ganhar seu Oscar com “A forma da água”, as partes não chegaram a um acordo, e os produtores resolveram começar do zero.
Daí que a escolha foi a pior possível, por vários motivos. Tendo que montar um novo time, com Neil Marshall na direção e David Harbour (“Stranger Things”) como Hellboy, a produção sofreu com trailers mal avaliados, exibições de teste que não agradaram… Resultado? Fracasso retumbante em sua estreia nos Estados Unidos, que aconteceu em 12 de abril. Com um orçamento estimado em pífios US$ 50 milhões, até agora a produção faturou ridículos US$ 21 milhões. Outros motivos contribuíram para o fracasso, entre eles a estreia espremida entre longas de outros dois super-heróis, “Shazam” (5 de abril) e “Vingadores: Ultimato” (26 de abril). Basicamente, um erro de estratégia e marketing ainda mais crasso que o de “De pernas pro ar 3”, no Brasil.
Por motivos que não dá para entender, a distribuição internacional foi adiada pensando justamente nessa concorrência, e agora a esperança de remediar ou reverter o prejuízo reside nos mercados do exterior.
Quanto ao filme, o novo “Hellboy” recomeça do zero e reúne numa mesma história três arcos do personagem nos quadrinhos, mas sem se esquecer de contar novamente (ai, ai) a origem de Hellboy. Ele é, na verdade, o filho do Demônio que os nazistas, em plena Segunda Guerra Mundial, tentam capturar e utilizar para seus interesses através do uso da ciência e magia. Porém, quando estão prestes a tomar posse do guri capeta, na Escócia, os Aliados aparecem e o governo americano leva o pequeno Hellboy, que será treinado e tratado como filho pelo professor Trevor Bruttenholm (Ian McShane, da série “Deuses Americanos”), que comanda o B.P.R.D. (em português, Departamento de Pesquisa e Defesa Paranormal). Já adulto, ele é o principal agente para combater forças sobrenaturais do mal.
E é nos dias atuais que uma ameaça muito maior que as outras está prestes a retornar. Vivien Nimue (Milla Jovovich), a Rainha de Sangue, morta e que foi esquartejada pelo Rei Arthur e o mago Merlin no século VI, tendo seus membros espalhados pelo mundo, está sendo “remontada” pelo porco gigante Gruagach (Stephen Graham, “Rocketman”). E a vilã vai fazer de tudo para convencer Hellboy a fazer parte de suas tropas, enquanto o herói está mais a fim de manter as coisas como estão.
Keanu Reeves mata geral de novo
Poucos filmes surpreenderam tanto nesta década quando “John Wick: De volta ao jogo”. O longa de 2014 estrelado por Keanu Reeves era o tipo de produção em quem ninguém levava fé, ainda mais com a história de um matador profissional que jura vingança quando matam seu cachorro de estimação. Mais aí o filme de US$ 20 milhões faturou US$ 88 milhões, se pagou e deu lucro, e pronto: “John Wick 2: Um novo dia para matar” (2017) colocou Reeves ao lado de Laurence Fishburne, seu companheiro de fé na trilogia “Matrix”, já tinha um público fiel e encerrou sua trajetória com US$ 171 milhões. A confiança era tanta que o longa terminou com um gancho para termos pelo menos uma trilogia da improvável franquia.
E é como uma continuação imediata que temos “John Wick 3: Parabellum”, que além da dobradinha Reeves/Fishburne ainda acrescenta Hale Berry e Anjelica Houston à trama. No longa anterior, John Wick cometeu um pecado mortal e descumpriu a principal regra da Alta Cúpula dos matadores: assassinou um de seus alvos no interior do Hotel Continental, local em que se reúnem os maiores matadores do mundo. E não tem choro nem “peraí, foi mal” que resolva a parada: a cabeça do rapaz é colocada a prêmio, e quem mandar John Wick desta para uma melhor recebera a bolada de US$ 14 milhões.
A promessa, então, é que “Parabellum” entregue ao público aquilo que tanto agradou nos dois longas: cenas de ação inacreditáveis (diríamos até mentirosas), muita pancadaria, tiroteio, frases “espertas”, correria, reviravoltas e outros clichês típicos do bons filmes de ação que só fingem se levar a sério.