O cosplay, ato de se fantasiar com figurinos de personagens fictícios, é um dos mais recentes fenômenos da cultura pop e presença frequente em eventos nerds e geeks, inclusive com os concursos para as melhores fantasias, que podem custar milhares de reais ou dólares. Para entender e conhecer um pouco mais esse universo, a Cosmaker JF, Expo Artes Brasil e diversos desenhistas organizam a exposição “Cosplay Art”, que tem inauguração neste sábado (16), às 16h, e prossegue até o próximo dia 31 na Galeria Alternativa I do Centro Cultural Banco do Brasil(CCBM).
A mostra reúne fotografias de diversos cosplayers de Juiz de Fora, que serão acompanhadas por desenhos feitos por ilustradores a partir dos figurinos (e não dos personagens originais), além de desenhos feitos pelos próprios cosplayers. Junto às fotos e ilustrações, textos explicativos sobre os personagens, a composição dos figurinos e dos próprios desenhistas. Também foram convidados dois makers (criadores de réplicas de objetos como espadas e escudos), Luiz Felipe Giácomo e Matheus Mattos, que vão exibir seus trabalhos.
Os cosplayers que toparam o convite de Priscila Montini, uma das organizadoras do evento, aparecem com figurinos de personagens dos mais variados produtos da cultura pop, como Astrid Hofferson (“Como treinar seu dragão”); Arlequina (“Esquadrão Suicida”); Sakura Kinomoto (“Sakura Card Captors”); Goku (“Dragon Ball”); Frida (“Viva – A vida é uma festa”); Padmé Amidala (“Star Wars”); Kiki (“Kiki’s Delivery”); Jinx (“League of Legends”); Meliodas (“Nanatsu no Taizai”); Fiora Diretora (“League of Legends & Daler Mehndi”); e mais um personagem de “La Casa de Papel”. Dentre as réplicas, o elmo de Sonho dos Perpétuos, da série em quadrinhos “Sandman”; e o machado e escudo de Lagertha Lothbrok em “Vikings”.
Segundo Priscila Montini, ela procurou a direção do CCBM para aproveitar uma das datas disponíveis no espaço para a exposição, uma vez que o edital de ocupação ainda não foi lançado. “Queria muito fazer uma exposição este ano e mostrar o trabalho feito pelos cosmakers (que confeccionam os figurinos) e cosplayers. Aí foi questão de fazer os convites para eles e os desenhistas”, explica, acrescentando que no próximo dia 23, às 10h, haverá um evento especial, com os figurinos originais expostos mais feirinha de produtos nerd, geeks, anime e cultura pop em geral (bottons, livros, roupas, miniaturas), e exposição e venda de desenhos e outras réplicas.
Criando o próprio figurino
No universo do cosplay, existem tanto os cosmakers (os criadores dos figurinos) e os cosplayers (que utilizam as peças criadas), e muitas vezes os dois papéis se confundem. Um exemplo é Sarita Paiva (a Padmé na exposição), formada em artes visuais pela UFJF e que usa o aprendizado para criar seus cosplays desde 2008, apesar de participar dos eventos desde 2003. Assim como muitos dos aficionados pela atividade, ela passou a acompanhar a cultura pop com os animes, ainda nos anos 80, e passou a pesquisar esse universo por causa dos Cavaleiros do Zodíaco, um dos grandes sucessos da década seguinte.
“Sempre tive o desejo de me caracterizar, gosto muito do lado lúdico da coisa”, diz Sarita, que já fez cosplay de personagens como a Princesa Jujuba (“Hora de Aventura”), da Frota Estelar de “Star Trek” e Sakura Kinomoto (“Sakura Card Captors”). “Faço os cosplays dos personagens que gosto desde que tenha tempo e dinheiro, pois o problema, muitas vezes, é encontrar os materiais certos em Juiz de Fora. Posso gastar cerca de um mês preparando o figurino, pois é preciso reproduzir por conta própria objetos como um broche”, comenta, acrescentando que a filha Melissa, de quatro anos, segue os passos da mãe.
A busca por materiais é desafio enfrentado também por Simone Marques Felício (a Fiora Diretora), formada em design de moda na UFJF e que no dia a dia trabalha na parte técnica de modelagem e vestuário. “O mais complicado que já fiz foi uma raposa com nove caudas, a Ahri de ‘League of Legends’, que tinham de ser de veludo. É um trabalho artesanal, como os vestidos de festa e de noiva, muita gente gasta até $ 3 mil. Cada detalhe importa, é preciso ser bem fiel ao personagem, até porque muitas vezes os cosplays são para concursos.”
Ela começou como cosmaker preparando o figurino de uma amiga e que serviu como avaliação para poder dar aulas. O universo cosplayer foi descoberto com um namorado que fazia parte da cena cosplayer. “Acho que roupa não é só para vestir; deve mostrar a personalidade da pessoa. Vi que poderia juntar as duas coisas”, argumenta Simone, que trabalha como cosmaker para complementar sua renda, uma vez que também dá aulas de modelagem, corte e costura num ateliê. Depois de criar cosplays de personagens como Catarina Noite Feliz (“Lol”) e Anko Miratachi (“Naruto”), atualmente ela prepara o cosplay de um sonho antigo: a onipresente Sakura Kinomoto.
Peças originais com materiais reciclados
Para ser cosmaker, não precisa ter necessariamente aprendizado em moda, corte e costura e afins. Pode ser gente de exatas também, basta ter criatividade. É o caso da professora de matemática Hignes Silva, que participa da exposição com os figurinos de Astrid Hofferson e Sakura Kinomoto (sempre ela!), e que nas fotos feitas para a Tribuna estava com a roupa da guerreira de “Como treinar seu dragão 2”, Astrid.
Também conhecida como Hia-Chan, é uma apaixonada desde a infância pela cultura japonesa; sem dinheiro na adolescência para fazer seus cosplays, decidiu utilizar materiais reciclados para os figurinos e réplicas, como papelão, plástico, rolo de papel higiênico, cabo de vassoura e o que mais surgir pela frente. Deu tão certo que hoje ela produz figurinos sob encomenda e tem um perfil no Instagram (@Hia-Chan) em que ensina o passo a passo de suas criações.
“Meu conhecimento vem da época em que estudei no Colégio Boas Novas, no Rio de Janeiro, quando tive uma professora de artes que me ensinou muita coisa; e também quando criança aprendi com o programa ‘Art Attack’. Eu tinha essa vontade insana de fazer cosplay desde o início”, diz Hignes, que começou a fazer cosplay há oito anos. “Espero evoluir, buscando novas técnicas, mas sempre com material reciclado. É dessa forma que ela vem desenvolvendo um “casal de Predadores” para ela e o marido, Felipe Braz, um dos desenhistas que participam da mostra.
Por paixão e diversão
Convidados a participar da exposição, Lucas da Fonseca e Luiz Felipe Giácomo estarão presentes, respectivamente, com um desenho técnico (que esmiúça o projeto de um figurino) e o machado e escudo de Lagertha (“Vikings”). Para Lucas, que é artista plástico de ofício e cosmaker por diversão, o interesse é desenvolver o figurino e os adereços, desperto por sua experiência nos barracões das escolas de samba de Juiz de Fora. “É preciso ter criatividade para criar os figurinos, esse trabalho de transformação me atrai”, diz ele, que já criou três armaduras de personagens dos Cavaleiros do Zodíaco.
“Em uma semana, me adapto à situação financeira do cliente e entrego o projeto. Busco explorar ao máximo a ideia da pessoa ao mesmo tempo em que ela gasta o mínimo”, explica, acrescentando que gasta cerca de um mês em todo o processo, desde que a pessoa se encontre com ele pelo menos uma vez por semana para fazer as provas.
Luiz Felipe começou a montar escudos e espadas, entre outras réplicas, há dois anos. Formado em história e com pós-graduação em artes, ele planeja seguir na área de forma profissional, e inclusive tem uma página no Facebook (Castelo Medieval) para mostrar seu trabalho. “Sou grande fã de história medieval, que é minha área de estudo. Sempre quis ter esse ambiente medieval em casa, tanto que tenho 50 espadas e depois confeccionei os elmos e escudos, que são mais difíceis de encontrar.”
Com mais de cem peças no acervo, ele tem o projeto do Museu Medieval Itinerante, que planeja levar para as escolas da cidade exibindo réplicas de objetos de personagens históricos e de seriados e filmes.