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Ronaldo Werneck lança seus novos livros em Juiz de Fora

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Além de livro com panorama histórico sobre Cataguases, Ronaldo Werneck reúne antigos e novos poemas em antologia (Foto: Pury/Divulgação)

É difícil saber por onde começar quando uma figura como o poeta, cronista e ensaísta Ronaldo Werneck promove o lançamento simultâneo de seus mais recentes livros – principalmente porque, a princípio, parecem tão diferentes entre si. Porém, logo percebe-se o que os aproxima: Cataguases, terra natal do artista, que está presente em diversos momentos de “Momento vivo”, antologia com poemas inéditos e outros já publicados, e “Cataguases século XX/antes & depois”, em que reúne diversos textos e fotografias não apenas para contar a história da cidade, mas revelar ao público sua relação com ela. Em Juiz de Fora, o lançamento acontece nesta terça-feira (14), às 19h, na Planet. A editora responsável pela publicação é a Tipografia Musical.

O lançamento em dose dupla acontece por causa da pandemia de Covid-19. “Momento vivo” saiu em 2019 e Ronaldo chegou a realizar algumas sessões de lançamento, porém precisou interromper a promoção do trabalho no início de 2020. Juiz de Fora, uma das cidades que estavam no mapa, agora recebe o evento também com “Cataguases século XX/antes & depois”, publicado este ano.

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E foi sobre seu mais recente lançamento – que tem o apoio da Lei Aldir Blanc de Minas Gerais – que Ronaldo conversou inicialmente com a Tribuna, na última sexta-feira. Para ele, escrever sobre Cataguases é uma “obsessão” que começou em 1977, no centenário da cidade, quando publicou o poema-livro “pomba poema”. Seu mais recente trabalho é um projeto que tem, aproximadamente, duas décadas de elaboração, surgido ao retornar a sua terra natal no final dos anos 90, após morar no Rio de Janeiro por 30 anos.

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“Alguns alunos da Escola Estadual Francisco Inácio Peixoto vieram me entrevistar, e aproveitei para perguntar a eles quem havia sido Francisco Inácio. Nenhum deles soube responder, sendo que ele foi uma figura importante na história da cidade (escritor e um dos idealizadores da “Revista Verde”), incentivou a chegada da arquitetura moderna quando contratou o Oscar Niemeyer para projetar sua casa”, conta. “Pensei que alguém precisava escrever essa história para que esses meninos, os professores, saibam em que cidade estão vivendo, pois Cataguases é um caso atípico no interior. É um museu vivo a céu aberto, que pode ser comparada em termos de modernismo ao que Ouro Preto tem de barroco; tem o cinema de Humberto Mauro (um dos pioneiros da sétima arte no Brasil), de quem, apesar de mais velho, tive a oportunidade de ser amigo.”

“Cataguases…”, porém, seguiu sua própria cadência. Com outros projetos em paralelo, Werneck foi escrevendo os textos que oferecem, em pouco mais de 300 páginas, um panorama histórico da sua terra, acrescido de vasto material iconográfico, entrevistas, antigos textos do próprio escritor e também de outras personalidades da cidade da Zona da Mata, além de nomes como Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava.

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“Agreguei vários textos que escrevi para a Fundação Cultural Ormeo Junqueira Botelho e passei a montá-los com todo o material que tinha até formar o livro, que lembra a fundação da cidade por (Guido Thomaz) Marlière, sua evolução, fatos históricos, mas também as personalidades, os artistas (além dos já citados Francisco Inácio Peixoto e Humberto Mauro, estão presentes Ascânio Lopes, Rosário Fusco, Luiz Ruffato, Lina Tâmega Peixoto), movimentos culturais como o que resultaram na ‘Revista Verde'”.

O processo de pesquisa, prossegue Ronaldo, fez com que ele revisitasse textos esquecidos, como o de Pedro Nava sobre Ascânio Lopes, e o poema que ele escreveu em homenagem a Ascânio, um dos mais conhecidos poetas do modernismo mineiro, morto em 1929. Foi, ainda, a oportunidade de perceber que Cataguases não é feita apenas dos monumentos, da arquitetura, da arte e as personalidades que construíram sua história, mas também da “gente da cidade”: o índio, o colonizador, os coronéis, os operários, os empresários. “A cidade é a soma de seus cidadãos. O que passa nas entrelinhas dessas personalidades é a vida da cidade nos séculos por elas povoados. São peças de um mosaico, um fascinante caleidoscópio chamado Cataguases”, cita o escritor.

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Poesia revisitada e ampliada

“Momento vivo”, por sua vez, é uma antologia poética em que Ronaldo Werneck seleciona 71 poemas de seus vários livros _ começando por sua estreia literária, “Selva selvaggia” (1976), até “Mar de outrora & poemas de agora”, de 2014 _ e mais 21 novos poemas escritos entre 2014 e 2018, relembrando e atualizando uma trajetória de mais de cinco décadas dedicadas à arte.

Um dos motivos para o projeto é o fato de que alguns de seus livros encontram-se fora de catálogo, e a antologia é uma forma de mostrar um resumo de sua obra e apresentar sua mais recente produção. Mas o principal motivo de “Momento vivo” existir é um projeto do qual Werneck se lembrou quando já era tarde.

“O poeta Waldir Ribeiro do Val, diretor das Edições Galo Branco, me convidou em 2009 para participar de um projeto inspirado em um semelhante, da década de 1950, promovido pelo Ministério da Educação, em que poetas selecionavam 50 poemas para pequenos volumes, e que teve Manuel Bandeira, Drummond, Lêdo Ivo. Eu aceitei o convite, mas estava com outros projetos na época e acabei esquecendo. Quando lembrei e procurei por ele, fiquei sabendo que a série havia acabado, mas resolvi continuar a partir do que já havia selecionado”, explica. “Há poemas da mocidade do Ronaldo, presentes em ‘Selva selvaggia’, e acredito que eles resistiram ao tempo, são poemas que ligam a vida e a obra do artista.”

Por isso mesmo, terminar a seleção dos 71 poemas foi uma tarefa difícil. “Eles são como filhos, você acaba gostando de todos”, diz o poeta, que acabou colocando um poema a mais por conta de sua cisma com os números pares, dos quais “não gosta”. “É um negócio meio maluco. Como os 71 poemas antigos, somados aos novos, dariam 92, escolhi uma foto antiga de Cataguases sobre a qual havia escrito um haikai e coloquei esse poema na capa para ficar com 93.”

Reencontros

Por fim, o tema pandemia não poderia deixar de entrar na conversa, uma vez que ela interrompeu a divulgação presencial da antologia poética. As sessões de autógrafos foram retomadas há pouco tempo, e ele cita a emoção de poder reencontrar Mônica Botelho, uma das maiores incentivadoras da cultura em Cataguases nas últimas décadas, que esteve no mais recente evento realizado no Rio de Janeiro.

“Ela estava sem sair de casa há cerca de dois anos por problemas de saúde, e são coisas que emocionam a gente. Cheguei a lançar ‘Momento vivo’ na Livraria Travessa, no Rio, em 2019, e depois em Cataguases, várias cidades no Chile, em Lisboa (Portugal), mas aí veio a pandemia e tivemos que suspender todos os eventos, inclusive em Juiz de Fora”, conta.

“É realmente um prazer poder reencontrar o público, pois o escritor é solitário, ficamos sozinhos com o computador – antigamente, no meu caso, com a (máquina de escrever) Lettera, da Olivetti”, prossegue. “Costumamos, muitas vezes, encontrar com os amigos apenas nos lançamentos. Atualmente, tenho feito palestras em escolas, por conta da Lei Aldir Blanc, onde busco passar a história de Cataguases para alunos e professores; hoje mesmo (sexta-feira) estive na Secretaria de Educação para conversar com professores. É muito gratificante ter esse contato com o público, pois tira um pouco da solidão do poeta e do escritor.”

Ronaldo Werneck
Lançamento dos livros “Momento vivo” e “Cataguases século XX/antes & depois”
Nesta terça-feira (14), às 19h, na Planet (Rua Morais e Castro 218 – Alto dos Passos)

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