A história guardada porta adentro do imóvel de número 109 da Rua Marechal Deodoro reforça a narrativa que caracterizou toda a rua. Filippe Coury Jabour era um jovem de 17 anos quando chegou ao Brasil e fixou-se, junto de parentes distantes, na Juiz de Fora de 1924. Deixava para trás seu Líbano natal para montar uma pequena colônia libanesa no Centro da cidade que o acolheu. Primeira família a ocupar o casarão em estilo art déco, os Coury Jabour, como seus conterrâneos, viviam do comércio, que executavam no primeiro pavimento, enquanto a casa ficava no segundo andar da casa. Tombado em publicação desta quarta, 13, o prédio passa a integrar o núcleo histórico, contribuindo para a narrativa da Rua Marechal Deodoro.
Erguida pelo engenheiro civil Ermelindo Spigolon, a pedido de Filippe, o imóvel chama atenção por suas linhas retas em sua fachada com dois painéis laterais delimitados por faixa dupla vertical e alinhados com a varanda. Cada um dos painéis abriga uma única janela de abrir em madeira, com fechamento em veneziana e vidro. Os peitoris salientes e escalonados prolongam-se por todo o painel. Na parte de baixo, como a tradição da região, funcionava a loja da família, que comercializava todo tipo de coisas, de remédios a aviamentos, além de peculiaridades como alças para caixões. “Esse imóvel compõe o conjunto de outros prédios que também são art déco e correspondem a esse passado comercial que caracterizou aquela rua e aquela região. É uma volumetria muito característica daquele período. Ele conserva certa imponência, que é importante para a história da preservação da cidade”, avalia Carine Muguet, historiadora da Divisão de Patrimônio Cultural (Dipac) da PJF.
De acordo com Carine, “inicialmente o prédio tinha acabamento em pó de pedra, que é uma estrutura muito comum aos prédios art déco”, e que, inclusive, ainda é a realidade de imóveis vizinhos. Quando sua fachada ainda ostentava o cinza do material, viveu ali Wilson Couri Jabour, vereador de Juiz de Fora de 1955 a 1966 e de 1973 a 1988. O político integrava, em 2002, a Comissão Permanente Técnico-Cultural, que avaliava os tombamentos na cidade em 2002, quando o processo aberto em 1997 teve sequência, ainda que seu desfecho tenha levado ainda quase duas décadas. “Nesse período foi aberto uma série de processos. Alguns deles já foram encerrados, mas ainda existem casos em aberto”, aponta a historiadora da Dipac.
“Sua preservação nos permite contar a história do comércio na cidade que cresceu em volta das estações ferroviárias Central do Brasil e Leopoldina. Esteticamente, os imóveis que compõe o Conjunto Arquitetônico Halfeld e Marechal constituem a primeira visão que se tinha de Juiz de Fora, uma vez que a ferrovia era a principal porta de chegada à cidade”, pontua o dossiê do processo, que finaliza com a seguinte inscrição: “História é a combinação da memória individual com a coletiva, são os indivíduos que constroem a história e a partir da vida de cada um podemos remontar e preservar a nossa história enquanto coletividade.”