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Romance ‘Segunda casa’, de Rachel Cusk, chega ao Brasil

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Rachel Cusk também é autora da trilogia “Esboço”, um fenômeno literário (Foto: Siemon Scamell-Katz/Divulgação)

A canadense Rachel Cusk tornou-se um fenômeno literário graças à trilogia iniciada com “Esboço” (2014) e seguida por “Trânsito” (2016) e “Mérito” (2018), publicados no Brasil pela Todavia. E é a mesma editora que traz para os fãs brasileiros seu mais recente trabalho, “Segunda casa”, com sua prosa marcada por divagações sobre o “ser mulher” e em que o enredo é muitas vezes posto de lado para que ela possa se aprofundar nessas reflexões.

Para a trama de “Segunda casa”, Rachel Cusk usou como inspiração uma personagem importante – porém pouco conhecida – da história da arte para construir sua protagonista. No caso, o nome é o da norte-americana Mabel Dodge Luhan (1879-1962), que usou sua herança para servir de mecenas para diversos artistas, entre eles D. W. Lawrence, Georgia O’keeffe e Aldous Huxley.

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Ela é personificada, em parte, na protagonista M, mulher de meia-idade e escritora de pouca expressão que convence seu segundo marido, Tony, a restaurar a segunda casa da propriedade onde vivem, perto de um pântano, em um local que possa abrigar artistas em busca de novos horizontes ou incentivo. Um deles é o artista plástico L, cuja obra conheceu há cerca de 15 anos em Paris, e pelo qual ficou obcecada. Entretanto, quando ele aceita o convite e chega para passar uma temporada, a decepção de M é imensa. L, desde o início, mostra-se arredio à sua presença, quase como se sentisse repugnância dela, e todas as expectativas da protagonista – que ele pinte a paisagem do pântano, além de criar um retrato dela mesma – desabam a cada novo encontro com o pintor.

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A história de “Segunda casa” é narrada em primeira pessoa para um interlocutor chamado apenas como Jeffers, e nos mostra uma personagem que se questiona sobre o que fez de sua vida, sua irrelevância como artista e o desejo de ser reconhecida – e de forma ainda mais obsessiva, por L, que representa, de diversas formas, a figura do homem egocêntrico, misógino, até mesmo perverso. A protagonista, porém, não é imperfeita apenas pela sua fragilidade, mas também porque sua obsessão pelo pintor mostra uma figura controladora, que deseja se intrometer em todas as coisas que acontecem ao seu redor, e não é fácil ter a maior das empatias por ela.

Rachel Cusk, porém, usa dessa imperfeição para criar a impactante história de uma mulher que vê o tempo passar e busca o reconhecimento tardio, a visibilidade como artista, mecenas e de sua feminilidade a partir dos olhos de L, visto, talvez, como última esperança de uma vida que não teria alcançado a plenitude de seu propósito. Para quem ainda não teve contato com a obra da escritora, o seu mais recente livro serve como ótima introdução.

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