“A cidade é feita pelo homem, mas pertence ao tempo. Somos apenas passageiros em sua história.” É a partir dessa visão que o artista plástico Gerson Guedes apresenta Juiz de Fora em seus marcos urbanos, arquitetônicos e históricos, além da gente que ajuda a compor a alma da cidade, na exposição “Juiz de Fora / Recortes urbanos”, que pode ser conferida até 6 de julho em um espaço montado para servir de galeria de arte no segundo piso do Independência Shopping.
O trabalho, num total de 16 pinturas de acrílica sobre tela, pôde ser conferido inicialmente, em sua maioria, no calendário 2018 da Tribuna, distribuído no final de 2017, e deveria ter sido exposto na galeria do Teatro Paschoal Carlos Magno na sua inauguração, em março, o que não aconteceu porque o espaço ainda não foi aberto por conta da necessidade de instalação do elevador para acesso à galeria.
Um dos objetivos de Gerson é homenagear a cidade, o que acabou ocorrendo por vias diferentes. Ele foi procurado pela direção do Independência Shopping, que completa dez anos de inauguração e, de acordo com ele, viu em seu trabalho uma forma de celebrar a data também como uma homenagem a Juiz de Fora. Por isso, a pretensão inicial era abrir a mostra no aniversário da cidade, em 31 de maio, mas isso se tornou impossível por conta da greve dos caminhoneiros, que “prendeu” o artista em Ibitipoca. A solução foi aproveitar a proximidade com outra data importante: o 13 de junho, em que se comemora o dia de Santo Antônio, padroeiro de Juiz de Fora, para que a série não perdesse – de acordo com ele – “a razão de existir”. “Falei para alguns amigos: ‘entre a paralisação e a seleção, por que não uma exposição?'”.
Apresentar os quadros em um espaço novo e diferente, diz ele, também acaba por ter a ver com a inspiração para a série e a necessidade de buscar o público além das galerias tradicionais. “A exposição tem um pé na tradição e outro na modernidade, aborda a mudança dos tempos. E por isso foi muito oportuno o interesse do Independência Shopping, que vejo como o nosso novo Calçadão”, explica. “E eles ofereceram um ambiente de galeria mesmo, com iluminação especial, com espaço para as pessoas contemplarem as obras. Quem sabe não é o primeiro passo para termos uma galeria no shopping? Afinal, temos muitos espaços fechados por aí, e a arte precisa do público. Precisamos encontrar novos espaços e nos preocupar com a formação de público, ainda mais num tempo de acesso tão fácil e rápido à informação.”
Gerson Guedes lembra que seu trabalho como artista plástico sempre esteve ligado a Juiz de Fora e à Zona da Mata. “Elas sempre foram meu foco e desafio, e desta vez me desafiaram a fazer sobre a cidade hoje. Decidi então unir a arquitetura, as pessoas, as formas de convívio social. Por conta disso, a série tem cores mais vivas, não ficamos presos ao concreto e ao cinza. O que importa é o espírito da cidade, até porque as pessoas passam, mas Juiz de Fora continua a mesma em sua essência.”
Para acompanhar cada quadro, Gerson escreveu um poema, que serviu como inspiração para seu trabalho – um diálogo entre expressões diferentes que estimulam a criação. É a partir daí que surgem cenários conhecidos, como o Calçadão da Halfeld, a linha férrea, a Igreja da Glória, a feira dominical da Avenida Brasil, o Forum da Cultura, a Praça da Estação, o Rio Paraibuna, entre outros. Nas pinturas, há desde figuras arquetípicas, como a multidão de pessoas ao celular, como outras anônimas mas sempre presentes, tal como o engraxate, a varredora de rua. Além do fator humano, há espaço também para a crítica, como na especulação imobiliária ao redor da Igreja da Glória.
“Nós refletimos, assim, sobre a mudança dos tempos, de hábitos. A cidade é feita pelo homem, mas ela pertence ao tempo. Somos apenas passageiros em sua história”, filosofa o artista, que costuma sair ainda pela manhã, bem cedo, quando a cidade começa a acordar, para registrar com papel e caneta os esboços das construções que farão parte de seus quadros. Ele também se vale de fotos antigas para servir de referência para construções que não mais existem ou foram alteradas pelo tempo, criando assim um retrato de uma Juiz de Fora que se foi e que ao mesmo tempo resiste nos dias atuais.
Como a mente do artista é inquieta, Gerson Guedes tem outros projetos. Um deles é uma releitura da obra do arquiteto Rafael Arcuri, tanto do que ainda resiste ao tempo quanto do que deu espaço para o progresso. “A cidade tem temas infinitos para se trabalhar. Comecei a desenhar os esboços de uma série em que quero fazer composições visuais da produção literária de escritores juiz-foranos, e para o segundo semestre espero lançar o livro ‘Juiz de Fora: Linhas e cores da história’, contando a trajetória da cidade a partir dos meus quadros. E para o final do ano, início de 2019, espero abrir uma exposição em Belo Horizonte inspirada no trabalho de um artista nacionalmente conhecido, mas que não posso revelar o nome ainda”, antecipa.
“Juiz de Fora / Recortes urbanos”
Exposição de Gerson Guedes. Segunda a sexta-feira, das 10h às 22h, domingos e feriados do meio-dia às 21h, no segundo piso do Independência Shopping (Avenida Presidente Itamar Franco 3.600). Até 6 de julho