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Drama de tribunal ‘Monstro’ chega à Netflix

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Culpado ou inocente? Adolescente com sonho de se tornar cineasta é acusado de participar de homicídio no drama “Monstro” (Foto: Divulgação)

“Monstro”, drama de tribunal que entrou no catálogo da Netflix na última sexta-feira (7), poderia ser uma história que chega à tela tendo perdido o bonde da história. Afinal, o longa teve sua estreia em 2018, no Festival de Sundance, e é adaptação do livro homônimo de Walter Dean Myers, lançado no já distante 1999. A História (essa mesma que tem “H” maiúsculo), entretanto, mostra que sociedades podem demorar décadas, até séculos, para mudar suas posturas em relação a temas como o racismo e como a Justiça, que deveria ser cega e imparcial, mas sempre pode abrir um dos olhos quando os preconceitos estão enraizados, e aí o que poderia ser datado se mantém atual.

Produção que tem como diretor o estreante Anthony Mandler (com experiência na direção de videoclipes de Rihanna, Taylor Swift e Beyoncé), o filme apoia-se no roteiro escrito por Colen C. Wiley e Janece Shaffer para mostrar o drama do adolescente Steve Harmon (Kelvin Harrison Jr.), preso e acusado de participar do assalto a uma loja de conveniência que terminou com a morte de seu proprietário.

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Steve, porém, é o típico adolescente que tem tudo para alcançar um futuro brilhante. Ele estuda em uma escola de elite em Nova York, onde é incentivado a seguir seu sonho de ser cineasta. E o jovem parece ter talento, pelo que se observa nos filmes que ele faz com sua câmera, e a faculdade está no horizonte próximo. A família, de classe média, é estruturada e sempre ofereceu todos os conselhos e oportunidades para não seguir o caminho errado.

Más (e involuntárias) companhias

Entretanto, Steve mora no Harlem, com uma grande concentração de pessoas pretas como ele, e por isso se envolve a contragosto com alguns dos bandidos pé-de-chinelo da comunidade – caso de James King (o rapper A$AP Rocky), que se interessa pelo trabalho audiovisual do garoto e pede para ter seu cotidiano retratado. Essa ligação, porém, não fica apenas na proposta artística: não demora para King cobrar “confiança” por parte do amigo, no esquema “eu te protejo, e você paga essa proteção como eu precisar”.

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Por causa dessa ligação, ele é preso acusado de colaborar com o assalto seguido de assassinato cometido por King e outro bandido (John David Washington), e conhece a dura realidade da prisão apesar de ter apenas 17 anos. Desde antes do julgamento, a defensora pública selecionada para cuidar de seu caso (Jennifer Ehle) deixa claro: ela pode até acreditar na sua inocência, mas terá que enfrentar um júri que – por causa da cor de sua pele – vai enxergá-lo como culpado antes mesmo que o julgamento tenha início.

A postura implacável e até mesmo cruel do sistema judiciário norte-americano – que proporcionalmente condena mais pretos que brancos, indicando um viés racista – é ainda mais explicitada pelo posicionamento do promotor do caso (Paul Ben-Victor), que desde o início tenta desumanizá-los ao olhar do júri ao chamá-los de “monstros” – que justifica o título do filme e também o monólogo inicial do protagonista, quando o julgamento sequer havia sido mostrado: “Monstros não choram no escuro. Era o que eu deveria ter dito a ele quando nos chamou de monstros.”

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Culpado, inocente ou…?

A estrutura narrativa de “Monstro” não é linear, e acompanha o protagonista em três momentos distintos: o desesperador cotidiano da prisão, acrescentado pelos encontros com a defensora e seus pais; os flashbacks que mostram Steve como um jovem estudioso, feliz e apaixonado pelo cinema, mas que aos poucos se vê envolvido pelas más companhias que deseja evitar; e o julgamento em si, com os depoimentos que ora parecem ajudar a inocentá-lo, ora parecem aproximá-lo de uma pena que pode passar dos 20 anos de prisão.

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Essa estrutura, a propósito, serve para deixar em aberto até o final do filme a questão principal do longa: Steve é inocente, um participante involuntário do crime ou realmente conspirou para a realização do assalto seguido de morte? Independente da resposta, que teremos apenas nos minutos finais, “Monstro” é um excelente filme por tratar da questão do racismo na sociedade norte-americana, enraizada a ponto de permear toda a estrutura do judiciário.

É, igualmente, uma oportunidade para o público pensar se uma pessoa pode ser culpada (ou não) quando ela acaba envolvida numa série de eventos que fogem ao seu controle, do qual ela pode participar involuntariamente ou sem noção das consequências de seus atos.

Para ajudar a responder perguntas tão difíceis, “Monstro” conta com a estreia promissora de Anthony Mandler na direção, além das ótimas atuações de Kelvin Harrison Jr. Jeffrey Wright, A$AP Rocky, John David Washington e Nasis “Nas” Jones. Certamente, muita gente vai se identificar com as situações mostradas no filme, ou pelo menos conhecer uma história parecida.

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