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Daniel Meotte fala sobre o monólogo ‘Procura-se’

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Livre da influência e pressão do pai, retratista se vê com a oportunidade de seguir a profissão que sempre sonhou (Foto: Divulgação)

Em vários aspectos da vida, há uma diferença considerável – muitas vezes – entre o que desejamos e podemos, conseguimos, alcançamos, que nos é “permitido”. Por exemplo, o que desejávamos ser na infância/adolescência quando nos tornássemos adultos: jogadores de futebol, cantores, dentistas, pilotos de avião, militares, músicos, médicos, engenheiros, artistas plásticos, agricultores. Mas aí vem a condição financeira, a própria falta de vocação, impossibilidades geográficas, pressão da família ou da sociedade. Essa é a questão tratada pelo monólogo “Procura-se”, da Cia. Teatral Camaleando, com exibição neste sábado (16), às 19h, no CCBM.

Com texto e direção de Daniel Meotte – também intérprete do único personagem em cena -, a peça é passada em 1958 e conta a história de Luís Quintão, retratista da polícia que foi obrigado a seguir a profissão de seu pai, Júlio, tendo que suprimir o seu desejo de ser artista plástico. Quando este morre, Luís se questiona se este é o momento de se libertar.

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Esta é a segunda vez que Daniel apresenta o espetáculo, sendo a primeira em outubro passado no Teatro Paschoal Carlos Magno. Uma terceira apresentação já está agendada para abril, em Tiradentes. Após a primeira experiência, ele diz ter mudado o final por acreditar que não havia conseguido, então, chegar ao ponto de expectativa que queria alcançar no público.

O artista acrescenta que “Procura-se”, aliás, tem muito a ver com sua trajetória. Nascido no Rio de Janeiro, Daniel passou a maior parte da vida em Pequeri, onde chegou a trabalhar em uma peça teatral. Apesar de ter algum apoio da família, o questionamento social a respeito de sua escolha fez com que decidisse tentar o curso de fisioterapia em Juiz de Fora. Com um ano de estudos, porém, resolveu seguir o caminho que tanto desejava. “O texto reproduz um pouco do que passei. Eu já era artista, havia tocado em algumas bandas, mas quando você diz que queria ser artista, as pessoas perguntam ‘mas vai fazer o quê?’. E tem toda aquela cobrança de arrumar emprego… Eu me sentia muito mal fazendo o curso, tive princípio de depressão, então resolvi que deveria fazer o que queria: viver de arte.”

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Por conta disso, Daniel mudou-se para São Paulo a fim de estudar teatro, e em 2017 criou a Cia. Camaleando com Pitágoras Lemos. “Ir para São Paulo me fez bem. A pessoa geralmente não percebe esse processo inicial de depressão, que se torna uma bola de neve. Senti então a necessidade de jogar luz nesse problema, alertar as pessoas, quem sabe elas tenham esse ‘start’ ao assistir a peça”, torce. “Muitas vezes, a família e a sociedade impõem isso, provocam essas situações, sendo que cabe a você decidir. A possibilidade de mostrar que é possível sair desse círculo vicioso é gratificante.”

Trabalho solitário

Depois de atuar em duas peças, Daniel Meotte retornou a Juiz de Fora e começou a trabalhar o texto de “Procura-se”, em meados de 2018. Com Pitágoras continuando seus estudos na capital paulista, ele encarou a dificuldade de ter praticamente contato nenhum com a classe artística local, situação que tem mudado aos poucos.

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Porém, por conta disso, ele teve que mudar a estrutura da peça. Segundo Daniel, ela foi escrita originalmente para dois personagens, um masculino e outro feminino, mas a dupla que topou participar do projeto tinha vários problemas de horário. A solução foi reescrever o texto, transformá-lo num monólogo e dirigir a si mesmo – além de cuidar da trilha sonora e figurino; apenas a iluminação foi pensada por outra pessoa, Marquinhos Black Power. “A direção foi a parte mais complicada, pois o diretor te dá essa visão de fora. No início eu tinha que gravar em vídeo minhas cenas para depois apontar o que tinha que arrumar”, relembra. “Depois da estreia, pedi para um amigo, o Josuan, me ajudar nessa parte.”

Voltando a falar da história, Daniel explica que preferiu situá-la nos anos 50 não apenas por ser um período do qual gosta muito, mas também por se tratar de uma época em que a cobrança por seguir os passos do pai, ter uma profissão fixa, era muito grande. “Era uma época em que ser atriz era sinônimo de prostituta, e músico era considerado vagabundo. Também era o auge do retratismo, e eu queria esse personagem que era desenhista contra a vontade mas que ao mesmo tempo sonhava ser pintor, o que é irônico. Afinal, são profissões muito próximas e distantes ao mesmo tempo.”

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PROCURA-SE
Sábado (16), às 19h, no CCBM (Avenida Getúlio Vargas 200)

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