Em sua nova obra, a autora juiz-forana conta que trouxe a história de mulheres determinadas, “que encontraram no amor um caminho para continuar seguindo mesmo diante das diversas adversidades que tiveram na vida”. As personagens do seu novo livro são diversas, assim como suas vivências, mas as histórias funcionam como continuação uma da outra, como se houvesse um fio invisível que liga todas essas experiências. Isso ocorre porque, como ela explica, a primeira história traz uma mulher negra que nasceu pouco depois da abolição – e fica na expectativa de que todo o preconceito e toda a desigualdade que ainda vivencia mudem no futuro. As narrativas, então, evoluem, e cada personagem experimenta o contato com as questões sociais de forma diferente. Ao final, surge uma mulher que busca, então, “responder para essa senhora se as coisas realmente mudaram”.
Para ela, portanto, foi importante estar conectada com histórias que conhece de perto. Durante a pandemia esteve bem próxima de sua avó, que foi quem ajudou sua mãe e tias na sua criação e, por isso, foi escutada com atenção durante meses, para que a autora pudesse escrever parte de sua história. Ana também se inspirou na mãe, que um dia sonhou ser advogada, mas que escutou de pessoas que ela não poderia chegar a lugar algum por conta da cor da sua pele. Para ela, registrar essas histórias mostra que elas têm algo em comum com tantas outras, mas que também é possível mudar essas narrativas tão enraizadas. “Quando uma pessoa conta e você registra, é uma memória que fica pra sempre.”
Viver de arte em Juiz de Fora, no entanto, não é nada fácil. Ana, inclusive, é formada em administração, com especialização em recursos humanos. Cursou uma nova graduação em filosofia, que foi inspirada justamente pelas questões que surgiram ao escrever sua primeira obra. A falta de reconhecimento, na sua avaliação, é um dos principais problemas, mesmo para quem, como Ana, já ganhou um prêmio de literatura e participou de 15 coletâneas. Atualmente, a autora concorre ao Prêmio Ecos de Literatura, nas categorias de melhor capa, melhor livro nacional e melhor autora. A votação popular ocorre por meio deste formulário. “A partir do exemplo dessas mulheres, do que elas já passaram, eu tento trilhar outro caminho e mostrar que isso é possível.”
Poemas, contos, ilustrações e crochê
Sua ligação com a arte é antiga, e não está só na palavra. Foi ela que fez, aliás, todas as ilustrações do seu livro, retomando uma paixão que tinha quando ainda era nova. O lançamento de seu primeiro livro, “O ter e o ser”, já foi acompanhado dessas ilustrações, e agora o terceiro livro continua trazendo artes feitas por ela.
Na nova obra, as ilustrações acompanham a narrativa de forma consciente. “Tentei conectar os contos e a mulher à natureza, como se a cada conto a mulher estivesse desabrochando, e sempre com aquela raiz firme”. Ela afirma o processo dos desenho também é similar ao que ela vivenciou quando começou a escrever. A ideia de mesclar contos e poemas também surgiu para trazer algo novo para a sua literatura, que começou em versos, mas também para manter o que já conheciam sobre sua escrita.
Encontrar refúgio na arte durante momentos difíceis, de dúvidas e até mais felizes, foi algo que ela fez durante a vida inteira. Relata, por exemplo, que durante a adolescência aprendeu a fazer crochê com a tia e criava peças quase obsessivamente durante um período em que estava “revoltada com a vida”. Hoje, no entanto, afirma que saiu das “linhas do algodão para as linhas do papel”.
“Minha vida virou poesia”
Uma das paixões de Ana, desde que ela começou a publicar, é poder contar sobre as histórias que escreve em escolas e também declamar poemas em seu canal do Youtube. Para ela, é uma forma de se conectar diretamente com as pessoas e também fazer com que sua escrita sirva de exemplo para as pessoas que precisam delas. “Foi marcante voltar na escola que eu estudei, uma escola pública, para falar sobre o meu primeiro livro. Isso foi muito grandioso para mim.”
Nesse processo, tem quem a acompanhe e sempre quer saber seus próximos passos. As mulheres de sua família são as principais fontes de apoio, além de inspiração. No seu primeiro lançamento, sua avó, que foi alfabetizada aos 60 anos, pôde ler cada poema escrito pela neta – o que a deixou extremamente emocionada. Hoje, a mesma avó exibe o novo livro para quem pode e mostra que também está nele, dizendo: “Minha vida virou poesia”.