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A história de quem deixa tudo para trás em ‘A boa sorte’

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Rosa Montero é jornalista madrilenha e publica livros desde a década de 1970 (Patricia A. Llaneza/Divulgação)

Quem não pensou, em algum momento, em largar tudo para trás, recomeçar a vida em um novo lugar, onde não fosse conhecido por ninguém e pudesse “zerar” o jogo da vida? É a partir dessa questão que a escritora espanhola Rosa Montero (“A ridícula ideia de nunca mais te ver”, “Nós, mulheres”) cria a instigante trama de seu mais recente romance lançado no Brasil, “A boa sorte” (Todavia).

Classificado pela própria romancista como um “thriller existencial, sem assassinatos e muitos mistérios”, o livro tem como protagonista o renomado e premiado arquiteto Pablo Hernando. Na casa dos 50 anos, ele segue em um trem para Málaga, onde participaria de uma conferência; entretanto, ao passar por uma estação, ele observa uma placa anunciando a venda de um apartamento, e, sem pensar duas vezes, desce na próxima estação, retorna de ônibus, procura o proprietário e compra – em dinheiro vivo – o imóvel sem sequer olhar o seu estado de conservação.

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A cidade “escolhida” por Pablo chama-se Pozonegro, lugar em decadência após o fechamento da mina de carvão que movia a economia local. O apartamento é decrépito, imundo, sem mobília. Apesar de maníaco por limpeza, ele mantém o imóvel como está; o que ele quer é ficar sozinho e isolado, mas logo uma vizinha, a sonhadora e aspirante a pintora Raluca, começa a se intrometer na sua vida. Se a onipresença da jovem incomoda, também ajuda Pablo a dar um norte à sua nova vida: ela o ajuda a conseguir um emprego no supermercado local, o que permite a ele ter dinheiro vivo em mãos e a não ter que usar o cartão de crédito, evitando assim que possa ser localizado pela polícia ou os sócios do escritório de arquitetura.

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A presença de Pablo Hernando na pequena cidade logo começa a despertar a curiosidade e/ou a cobiça de várias pessoas, incluindo o antigo proprietário do apartamento. O leitor, claro, também se questiona a respeito do que levou o protagonista e largar tudo – estabilidade financeira, reconhecimento profissional, casa, amigos – para viver num lugar decadente em todos os aspectos, com pouco dinheiro e nenhum conforto.

Aos poucos, Rosa Montero vai entregando detalhes do passado do personagem, e começamos a entender o que levou o arquiteto a querer recomeçar a vida. Em algum momento, claro, o passado de Pablo vai aparecer para atormentá-lo, fazendo com que “A boa sorte” tenha um crescendo de suspense que, aliado ao talento da escritora, torna sua leitura uma experiência imperdível e que nos faz refletir a respeito de nossas próprias escolhas.

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