Difícil encontrar quem não conheça a trama de “Hamlet”, uma das mais conhecidas peças de William Shakespeare: o personagem-título, príncipe do reino da Dinamarca, descobre que seu pai foi morto pelo tio, que tomou para si o trono e a esposa do irmão, levando o jovem a embarcar numa jornada de loucura e vingança. Assim como vários dos textos criados pelo genial inglês para o teatro, ele é baseado em uma lenda medieval – no caso do viking Amleth, retratada agora sem limites de sangue e violência no visceral “O Homem do Norte”, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (12).
Este é o terceiro longa dirigido pelo norte-americano Robert Eggers, dos elogiados “A bruxa” (2015) e “O farol” (2019), e o primeiro com um grande orçamento, de US$ 90 milhões. Em diversas entrevistas para promover a produção, ele revelou sua admiração pelos vikings, que, infelizmente, se transformou em raiva durante um período devido à apropriação dessa cultura pela extrema-direita em geral e os nazistas em particular. Porém, após uma viagem à Islândia, em 2015, Eggers se “reconciliou” com os vikings e decidiu que precisava fazer um filme baseado nos guerreiros nórdicos. Dois anos depois, seu caminho se cruzou com o do ator sueco Alexander Skarsgård, que também estava a fim de trabalhar com o tema.
O cineasta iniciou, então, a pesquisa para que o filme fosse o mais fiel possível em relação à lenda e também à cultura viking em geral, acrescentando elementos místicos e naturais para criar a sua história de vingança, escrita a quatro mãos com o escritor e poeta islandês Sjón.
Sangue quente, vingança fria
A trama de “O Homem do Norte” tem início no final do século IX, quando o rei Aurvandill Raw-Raven (Ethan Hawke) retorna de uma temporada de saques e conquistas. Ainda inebriado por suas façanhas, ele é traído pelo irmão, Fjölnir (Claes Bang), que mata o soberano e sequestra a cunhada, Gudrún (Nicole Kidman). Amleth (Skarsgård), ainda criança, assiste a tudo e foge para também não ser morto, e acaba se unindo a um grupo de vikings, não sem antes jurar matar o tio, vingar o pai e salvar a mãe.
Porém, como dizia o próprio Shakespeare e os klingons, a vingança é um prato que se come frio. Muitos anos depois, Amleth tem a chance de se vingar do algoz da família, quando descobre que o tio perdeu o trono para o Rei Harald da Noruega e vive exilado na Islândia. Ele se deixa levar como escravo até as terras de Fjölnir, decidido a aproveitar a primeira chance para salvar a mãe, matar o traidor e vingar o pai. Nessa jornada, ele terá a ajuda de Olga (Anya Taylor-Joy), feiticeira eslava que havia sido capturada pelos vikings.