Há quatro anos, Diegho Salles ligou para Natan Santos e falou algo como: – “Precisamos de uma banda. Marquei um show pra gente.” – “O quê? Mas nós nem temos uma banda.” Virgínia Strack, na época, tinha a produtora Dionisíaca, responsável por trazer diversas bandas independentes nacionais para tocar em Juiz de Fora. Em maio de 2013, estava organizando um de seus festivais e perguntou ao Diegho se ele teria uma banda para participar, prontamente ele respondeu que sim e foi correr atrás de reunir amigos que topassem tocar já nos próximos dias.

Costumavam se reunir despretensiosamente no condomínio Tiguera para improvisar músicas e, devido aos encontros, já tinham dezenas de canções com autoria própria. Tiago Teixeira era um dos músicos que sempre estava presente e se tornou o guitarrista, Thales Scoton, que havia acabo de pisar no Brasil após passar um tempo na Irlanda, se tornou o baterista, Roberta Mandarano, vocalista, Fábio Ramiro, tecladista, e Felipe Vieira aceitou o convite como baixista, além de Natan que é até hoje vocal e violão e Diegho, mensageiro natural e violonista.

Estavam prontos, só faltava um nome. Pego de surpresa em um telefonema, Diegho às pressas elucidou e batizou de Novo Jornal, trecho da música “Durango Kid” de Toninho Horta, que durante um tempo se tornou a abertura dos shows. A música tem letra forte escrita por Fernando Brant e foi gravada em 1970 pela voz do Milton Nascimento (Bituca) cantando um arranjo do grupo Som Imaginário. “Esse jornal é o meu revólver/Esse jornal é meu sorriso…” parecia dizer a respeito de um jornal alternativo e contra-hegemônico, talvez que criticasse as arbitrariedades do período militar.

 

Quatro anos de tom

Dia 9 de maio ficou marcado como a data de aniversário da banda, que em 2017 acaba de completar quatro anos e fará show em comemoração hoje (12) no Bar da Fábrica. Nesse mesmo dia, em 2013, nascia Tom, filho do baixista Felipe Vieira, e por isso o grupo Novo Jornal aproveitou a data para dar vida a tudo de uma só vez. Faz sentido que Felipe não tenha estado presente no primeiro show que ocorreu no Muzik, mas, já no segundo, que aconteceu no Cultural Bar, com Vanguart como atração principal, a banda estava com a formação original completa.

Além de proporem a experiência de revisitar trabalhos do Clube da Esquina, eles deixam as canções com um toque contemporâneo e, desde a primeira vez que subiram ao palco, já incluíram músicas próprias no repertório. Algumas delas são faixas do primeiro álbum da banda, que será um duplo com 20 composições autorais: as dez primeiras fazem parte do novo, das composições pós-criação da banda, e as dez últimas são de produções que Natan, Diegho e Tiago já tinham criado algum tempo antes. Parte do material está sendo gravado no Estúdio Versão Acústica, do Emerson Nogueira, em São João Nepomuceno, as outras, gravam no home studio de Natan. O álbum é uma colagem de obras compostas durante muitos anos. As músicas não seguem um formato radiofônico, algumas têm 40 segundos, outras podem ter mais de sete minutos, respeitando a narrativa contada por canções interligadas.

Para a noite de hoje, já com nova formação, com Victor Rozeni no baixo e Aldo Torres na guitarra, a Novo Jornal convidou amigos músicos que de certa forma entrecruzaram os trilhos da banda. O violinista André Oliveira é um deles, junto ao músico Dudu Costa e as musicistas Amanda Martins e Juliana Stanzani, flautista e vocalista da Banda Matilda respectivamente. Além disso, a Novo Jornal convidou Thayna Silva para fazer sua estreia, já que em breve ela assumirá um dos vocais da banda. Todos eles deixaram suas marcas no primeiro álbum, que ainda conta com o clarinetista e saxofonista Caetano Brasil, o flautista Bruno Teixeira e o violoncelista João Teixeira. Além de voltarem, excepcionalmente, com a tradição de abrir o show com “Durango Kid”, a Novo Jornal vai cantar pela primeira vez a música “Canção do Novo Mundo”, do Milton Nascimento. Para completar essa retomada, lançaram ontem o clipe da música “Nick”, que foi gravada e editada pelo próprio Natan Santos, nessa brincadeira e luta constante dos artistas independentes de se descobrirem como múltiplos para que seus trabalhos ganhem forma.
Novo Jornal

Música Mineira. Nesta sexta-feira, 12, às 22h30, no Bar da Fábrica (Praça Antônio Carlos s/n)