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Caetano Brasil lança single com releitura de clássico de Pixinguinha

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Numa rápida pesquisa na plataforma Google, surgem quase 20 mil resultados na aba vídeo para o termo “‘Um a zero’, de Pixinguinha”. Em 0,7 segundos, a plataforma encontrou, ainda, mais de 700 mil referências ao termo na rede mundial de computadores. Na página em homenagem a Pixinguinha no Instituto Moreira Salles estão registradas 46 gravações da composição feita em parceria com Benedito Lacerda em 1919. E não se esgotou. No single que lança nesta sexta (11) em todas as plataformas digitais, o clarinetista Caetano Brasil comprova. Sua versão para “Um a zero” recorre a Villa-Lobos, ao impressionismo francês e às improvisações próprias do jazz. Sem, contudo, abandonar o choro do qual é defensor e expoente.

Primeira produção após prêmio: Caetano Brasil foi indicado ao Grammy Latino na categoria Melhor álbum instrumental. (Foto: Paula Duarte/Divulgação)

“Para trazer para o grupo, com toda a nossa perspectiva do que é fazer choro com uma formação mais próxima do jazz – com baixo, piano e bateria, além do meu instrumento -, achava que a música não poderia vir crua como foi concebida. Ela precisaria passar pelo nosso ‘liquidificador’. Mesmo fazendo músicas autorais, nos baseamos no choro e abarcarmos outros gêneros, como música folclórica e ritmos latinos”, diz o músico, que gravou o single com seu grupo: o pianista Guilherme Veroneze, o baterista Gladston Vieira e o contrabaixista Adalberto Silva.

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Como nos dois álbuns do Caetano Brasil e Grupo e na trajetória do clarinetista, “Um a zero” expressa muitas referências para além da clássica composição. Na releitura estão o século XXI e a identidade de Caetano Brasil. “Essas perspectivas todas de reinvenções e releituras só são possíveis quando se está conectado às raízes”, pontua. “O que o Pixinguinha e o Benedito Lacerda fizeram foi um divisor de águas no choro. Sempre ouvi essa música em outras gravações, como a do Paulo Moura com o Raphael Rabello. Outra de que gosto muito é a da Anat Cohen, uma clarinetista de Israel.”

Os ouvidos no mundo
Na biografia de Pixinguinha escrita pelo jornalista Sérgio Cabral e lançada em 1997, a raiz de “Um a zero” está na vitória do Brasil sobre a seleção do Uruguai no campeonato sul-americano de 1919. Foi Friedenreich, a primeira grande estrela do futebol nacional, o autor do único gol da partida. Nos registros preservados pelo Instituto Moreira Salles, consta que a composição foi editada pela Irmãos Vitale, e a coautoria de Benedito Lacerda se deu por razões extramusicais. Sucesso, “Um a zero” tornou-se trilha do futebol brasileiro.

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“Ele compôs a partir de uma vinheta de Ary Barroso anunciando os gols da rodada. Pegou essa pequena ideia e construiu o choro inteiro”, celebra Caetano, dizendo-se pouco ligado ao esporte e mais afeito ao símbolo de brasilidade que carrega, discurso presente na arte do single, que valoriza elementos nacionais, da natureza à negritude. “Na própria releitura tem um momento em que fazemos de maneira muito descontruída uma citação ao canal 100 (“Que bonito é…”), recusando a ideia do futebol estereotipado e relacionando-o à ideia de brasilidade”, explica.

Arte do single, produzida por Renan Torres, trabalha a noção de brasilidade da música criada por Pixinguinha em homenagem ao campeonato da seleção em 1919. (Reprodução)

Iniciado na música pela flauta doce e pelo choro, Caetano Brasil tem uma relação afetiva com “Um a zero”, que o acompanha desde os primeiros anos de aprendizado. “Ela faz parte de mim de uma forma muito orgânica. Pego o instrumento para tocar essa música e ela brota, apesar de ser muito desafiadora”, aponta ele, certo de que atualizar repertórios também faz parte do trabalho de divulgação e valorização do gênero. “Essa música está num lugar muito solidificado no imaginário popular. Esse é um passo importante que damos para apresentar nossa visão do que é o choro e do que ele pode ser”, observa.

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Os olhos do mundo
Indicado ao Grammy Latino deste ano, na categoria instrumental, Caetano Brasil comemora o momento da carreira. Nas mídias sociais, logo que anunciada a indicação, ele conta ter ganhado muitos seguidores e mensagens de apoio. Após o resultado, o vencedor, o espanhol Daniel Minimalia (que ganhou com o disco “Terra”), enviou-lhe uma mensagem dizendo que havia escutado o disco dele, gostado e achado justo que Caetano também tivesse vencido. “É um momento de muita alegria, que traz a sensação de dever cumprido. Não só pela indicação e muito mais pelo que ela representa”, avalia. Para Caetano, o reconhecimento também ilumina a música independente, a produção feita no interior do país, o trabalho autoral e, logicamente, a música instrumental alinhada com um projeto original. “Nossa música está chegando nas pessoas!”, comemora o clarinetista. “É inspirador saber que podemos levar nossa música para tão longe!”

 

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