O cantor e compositor Tiago Sarmento chega aos 20 anos de carreira e comemora o feito da melhor forma possível: com novo álbum e no palco. “Boho”, seu quinto trabalho, tem lançamento nesta sexta-feira (11) nos serviços de streaming; já o show de lançamento do trabalho acontece no domingo (13), às 15h (abertura da casa), no Jolly Rogers, com Folk de Bolso e Carbono 14 abrindo os trabalhos antes da atração principal, que prepara repertório com músicas do mais recente álbum, algumas do primeiro disco e mais três covers.
“Boho” foi gravado em apenas uma semana, em novembro de 2018, no Estúdio Versão Acústica, repetindo a parceria com o produtor Nando Costa, com quem havia trabalho em “Folk it!”, de 2017. Este é, aliás, o segundo trabalho que o artista lança este ano, pois “Entressafra” (“um misto de álbum e EP”, na definição de Tiago) estava para jogo desde o início de 2019. Segundo o cantor, os dois trabalhos contam com músicas novas, mas a maioria já estava por aí há pelo menos dois anos.
“A maioria das músicas do ‘Boho’ foi criada ainda na época do ‘Folk it!’, assim como muitas do ‘Entressafra’, mas ficaram de fora porque não estavam prontas ou não cabiam na proposta. Esse novo álbum é quase um ‘Folk it! 2′”, diz Tiago. “Era também uma questão de aparar arestas e correr contra o tempo. Dessa vez, como os dois discos são independentes, pude fazer as coisas sem pressa, de acordo com o desejo e necessidade.”
Necessidade, aliás, foi um dos motivos para que Tiago Sarmento entregasse dois álbuns no mesmo ano. “Estava naquela de terminar o doutorado (em psicanálise), o que estava literalmente acabando com minha saúde. Precisava de uma válvula de escape, de gravar as músicas que tinha composto, até para não voltar a mexer na tese enquanto o disco (“Entressafra”) não ficasse pronto.”
De início, o trabalho seria apenas um EP com três músicas, mas aí Tiago pediu a Marcelo Calderon para gravar uma música dele, depois fez o mesmo pedido a Landau, aí vieram outras de própria autoria… E “Entressafra cresceu até se transformar num disco “cheio”.
Histórias para cantar
“Boho” reúne antigas e novas canções que tratam de dois temas caros ao artista, o amor e relacionamentos, casos de “Precisava mesmo disso?” e “Baiuno Liverpool”. “Dessa vez acho que escancarei mais o amor de verdade, ainda que ‘Baiuno Liverpool’ remeta mais ao amor de amizade, tenha essa coisa do Belchior nos anos 70 que citava muito os Beatles. Outras têm mais o amor tímido, enquanto ‘Precisava…’, que é mais antiga, tem a ver com o término resignado, fruto do desgaste natural do relacionamento, pelo menos como vejo. É um diálogo (com Lorena Fernandes, que participa da faixa) em que eles questionam se certas coisas precisavam mesmo ter sido feitas, ainda que respostas não sejam necessárias.”
Já a faixa que encerra o álbum, “35p”, é como um acerto de contas de Tiago Sarmento com tudo que viveu de bom e, principalmente, as barras e preconceitos que precisou encarar. “Ela surgiu em 2017, em Londres, em uma sessão de fotos em que estava na rua com meu violão e o case aberto. Então uma garota passou e colocou algumas moedas no case – exatamente 35 pence – e eu disse que não podia ficar com o dinheiro, que não tinha visto de trabalho. Ela, por outro lado, me disse que era tudo que tinha, e nós dois choramos.”
“Quando cheguei à casa onde estava, escrevi uma postagem no Facebook sobre como o artista não é valorizado em Juiz de Fora”, continua. “Aqueles 35 pence tiveram mais valor que muita coisa aqui, foram simbólicos para refletir sobre como a cidade reage a quem está a seu lado. Para fazer sucesso aqui é preciso sair e voltar, ou então morrer.”
Mas Tiago tem mais a dizer a respeito do significado da música. “Ela também aponta o dedo para pessoas que não vão ouvi-la, mas que na minha adolescência diziam ‘você não vai dar em nada, é filhinho de papai’. Espero que essas pessoas escutem para saber que gravei cinco álbuns, fiz doutorado e ao mesmo tempo gravei dois discos, tenho uma vida acadêmica de sucesso – algo que elas nunca foram capazes.”
“Boho”
Show de lançamento neste domingo (13), às 15h (abertura da casa), no Jolly Rogers (Av. Eugênio do Nascimento 34 – Aeroporto)