Tão importante quanto contar uma história é saber que há muitos dispostos a conhecê-la. E não foram poucos os que estiveram na manhã desta terça-feira (11) no Premier Parc Hotel para prestigiar o lançamento de “O homem da planície: Vida, obra e ideias de Juracy Neves”, biografia do fundador da Tribuna e criador do Grupo Solar, escrita por Paulo Cesar Magella, editor geral da Tribuna, que ganhou capa do artista plástico Carlos Bracher. Entre as centenas de convidados, muitos que atuam em áreas nas quais Juracy tanto se destacou ou incentivou desde quando se mudou da Lima Duarte natal para Juiz de Fora: saúde, educação, cultura, comunicação, setor imobiliário.
“É uma grande emoção e um grande prazer saber que o que fiz está sendo reconhecido”, afirma Juracy, que, prestes a completar 87 anos de vida, pôde compartilhar suas memórias, experiências e opiniões sobre o mundo na biografia. Na publicação, um dos momentos marcantes é a morte do pai, José Antunes, em 1943, quando o futuro empreendedor tinha apenas 11 anos. Mesmo tendo partido tão cedo, José sempre teve influência na trajetória do filho, assim como a mãe, Acidália. Por isso, num momento especial, é impossível não pensar no que os dois sentiriam ao ver o tanto que Juracy realizou e conquistou.
“Mantenho ainda um grande sentimento. Ele deixou uma marca em mim, e minha mãe era uma guerreira; ela lutava e lutava. Era exigente, cobrava, mas isso me deu força e vontade para vencer. Nós éramos pobres, cheguei aonde cheguei graças a esses dois pilares, que me deram estímulo, me ensinaram a trabalhar”, destaca Juracy.
Da mesma forma, não havia como não perguntar a respeito dos exemplos que passou para os filhos, tudo que pôde oferecer a eles e tê-los seguindo seus passos. “É a continuidade; o que eu tive estou dando. Eu não tive dinheiro, não tive nada, eles tiveram como começar, como fazer. Eu me esforcei para que eles fossem continuadores da minha obra, todos os quatro trabalham comigo. Espero que eles continuem, mantenham essa obra viva e a transfiram para meus netos.”
‘Se quiser, pode fazer’
O livro saiu das inúmeras conversas em quase quatro décadas com Paulo Cesar Magella, numa relação profissional que se transformou em amizade. Os assuntos eram variados, e Juracy Neves conta que para a biografia foi uma questão de Paulo Cesar ‘memorizar e sintetizar’ não apenas as histórias, mas também sua visão sobre o mundo – como exemplo, ele cita a sua opinião sobre Deus e religião. “Eu fui extremamente religioso, minha mãe era extremamente católica. Isso mudou quando estudei e passei a ser professor de antropologia, (percebi) que a coisa não era da forma que me ensinaram, pois nós passamos por um processo evolutivo. Modificou todo o meu pensamento.”
“A gente conversava muito sobre isso, ‘você era católico, deixou de ser?'”, continua. “Eu não acredito no que a Igreja Católica professa, ou nenhuma outra igreja. Falei para ele que Deus não existe, é do imaginário humano. Religião é uma necessidade, o mundo não está preparado para viver sem religião. É um moderador, mantém uma estrutura. Conversávamos muito sobre isso, ele discordava, mas era nossa amizade intelectual. Aí, com esse conteúdo todo, ele falou ‘vamos fazer um livro’; (respondi) ‘se quiser, pode fazer’. Fico feliz ainda porque é uma forma de o Paulo Cesar iniciar na carreira literária, pois uma tendência de todo jornalista é terminar como um literato. Eu o estimulei muito nesse sentido, ‘escreva esse primeiro, continue, você tem que produzir intelectualmente’.”
Hora de contar a história
Editor geral da Tribuna, Paulo Cesar Magella lembra que conheceu Juracy Neves em 1975, mas foi a partir de 1980 que passou a trabalhar com ele e a acompanhar mais de perto sua trajetória. “Ele vai fazer 87 anos no próximo sábado (15), então achei que já era hora de contar a história de um empreendedor”, ressalta. “A cidade o conhece, mas não conhece detalhes da vida desse homem que começou do nada, em Lima Duarte, veio para Juiz de Fora e fez uma carreira fantástica na comunicação, na saúde, no ramo de empreendimentos imobiliários. Eu entendi que precisávamos registrar, porque um povo que não registra suas memórias, que não conta sua história, certamente não terá um bom futuro. Eu entendi que a história do Juracy seria uma referência para as próximas gerações.”
Trabalhar no livro, ressalta, em muitos momentos nem poderia ser encarado como um trabalho. “Foi uma conversa de amigos, porque quando a gente trabalha junto há tanto tempo, as discussões viram um ‘você se lembra disso?’, ‘explica um pouco mais’. Foi um ‘remember’ do que havia acontecido em nossas vidas. Claro que ele é o personagem, o centro desse livro, mas foi quase um ‘livro interativo’, escrito a quatro mãos.”
O lançamento da biografia foi prestigiado por figuras de destaque em várias áreas nas quais Juracy Neves atuou ou incentivou, como saúde, cultura, educação, carnaval, imobiliário – o que faz o editor geral da Tribuna classificá-lo como “multimídia”. “Ele mexeu não só com saúde, construção civil, comunicação, como também construiu um teatro. Ele se diz um ‘artista frustrado’, e como não conseguiu ser ator, preferiu fazer um teatro. Ele é um multimídia, por consequência está todo mundo representando seus devidos setores.”
Exemplo para a família e Juiz de Fora
Diretora geral e comercial do Grupo Solar de Comunicação, Suzana Neves confessou a emoção de ter feito parte da história de seu pai e vê-la registrada em livro. “É emocionante saber que as pessoas terão a oportunidade de conhecer a trajetória de um guerreiro que fez tanto pela cidade. Acredito que ele vai deixar um legado muito grande. Percebemos o carinho que as pessoas têm por ele, o respeito, a admiração. Imagino que hoje (terça-feira) será um dia muito marcante em sua vida, de ter esse reconhecimento por tudo que ele fez, se dedicou, e continua até hoje com a Tribuna de Minas, que considero parte da história de Juiz de Fora.”
Responsável atualmente pela Tribuna ao lada da irmã Márcia, Suzana comenta ainda a enorme responsabilidade que é dar continuidade a tudo o que Juracy Neves se propôs a fazer. “No editorial da primeira edição, ele escreveu sobre ideias, objetivos, a transparência do jornalismo, e nós temos esse compromisso de seguir com essa grande responsabilidade, de trazer inovações, mas sem fugir de nossas premissas.”
Um dos filhos de Juracy, Marcos Neves fez o discurso em nome da família, relembrando momentos de seu passado e do pai – usando “”Hamlet”, de Shakespeare, que leu na juventude, para mostrar a força do pai mesmo nas adversidades. “Havia aquela fala, ‘ser ou não ser, eis a questão’, e a única opção que meu pai teve do destino foi ‘não ser’. ‘Ser’ Juracy é resistir aos percalços do destino, como quando perdeu o pai, e mais recentemente quando perdeu uma das pernas. Mas ele sempre teve esse espírito empreendedor do meu avô, que não conheci, uma paixão de debulhar as novidades, fazer, realizar.”
Quem também discursou foi o prefeito Antônio Almas, ressaltando a importância de contar a história de Juracy Neves. “Tantos escreveram sobre Henrique Halfeld, Bernardo Mascarenhas, que marcaram o século XIX, e você (Paulo Cesar) escreveu sobre quem marcou o século XX em Juiz de Fora. Um grande empresário, um grande empreendedor, que fez a cidade se transformar. Interferiu nas nossas vidas criando bairros, através de seus veículos de comunicação, fazendo ações de saúde”, elogiou.