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Ana Frango Elétrico: músicas sobre chocolate, torturadores e farelos

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Artista carioca lançou dois álbuns e já trabalhou em vários outros projetos (Foto: Hick Duarte/Divulgação)

Há coisas que despertam nossa curiosidade, já no ato da matrícula, por conta de detalhes como um nome incomum. São vários os exemplos no mundo da música: o álbum “A página do relâmpago elétrico”, de Beto Guedes; bandas com nomes como Zumbi do Mato, Gangrena Gasosa, Regis Against The Walk Machine; e artistas como Ana Frango Elétrico, que se apresenta pela primeira vez em Juiz de Fora nesta sexta-feira (13), às 21h, na Necessaire, num show sem a sua banda, apenas no esquema voz, guitarra e alguns pedais de distorção. No repertório, canções de seus dois álbuns, “Mormaço queima” (2018) e “Little electric chicken heart”, lançado no ano passado e que faturou o prêmio de Revelação Musical da Associação Paulista dos Críticos de Arte. Talvez role alguma das composições que fez para outros trabalhos, como a banda Almoço Nu e parcerias com outros artistas, mas só vai descobrir quem comparecer de corpo e alma ao local. Para fechar o pacote, a noite terá a abertura de BAAPZ, projeto solo do baixista da Alles Club, Pedro Baptista.
Quem já descobriu os álbuns de Ana Frango Elétrico – no caso deste repórter, a curiosidade veio de um stories no Instagram – sabe que a artista de 22 anos coloca em suas canções as mais variadas influências, que passam por bossa nova, MPB, tropicalismo, pop de câmara, e rendem músicas como “Tem certeza?”, “Chocolate”, “Torturadores”, “Roxo”, “Farelos” e “Devia ter ficado menos”, um misto de simplicidade e melodias que misturam instrumentos como o trombone à guitarra e baixo. “É mais difícil sem a banda, mas estou acostumada a tocar sozinha. É muito maneiro tocar assim, consigo segurar a onda com a guitarra e voz, até prefiro assim, deixar a imaginação das pessoas fluírem a partir do que faço ali, na hora. Obviamente falta alguma coisa, mas não me sinto confortável em soltar um playback”, explica a artista, que às vezes usa a própria voz para preencher os “vazios”, como ela diz fazer em “Chocolate”, por exemplo.
“Claro que hoje estou acostumada com uma banda grande, então os shows são meio oito ou oitenta. No caso do show solo é impossível apresentar tudo que está no disco, então eu entrego a matéria bruta; a base está ali, é preciso então confiar na luz própria.”
Quanto às influências musicais que se podem ser reconhecidas nas canções, Ana Frango Elétrico desde sempre renegou ser colocada apenas como mais um novo nome da MPB. Ela prefere, até, se for para colocar um rótulo, se definir em tom de brincadeira como “bossa pop rock decadente com pinceladas de punk”. “Acho que é muito natural pra mim ter essas influências, não forço uma barra para impor algo que não me pertence. A MPB, a Tropicália estão dentro de mim, mas não podemos nos resumir a um rótulo. Não acredito mais numa categorização de movimento, cada artista tem sua particularidade. Vivemos um momento audiovisual em que sinto cada vez mais que os artistas se sentem incomodados em serem colocados em certas caixinhas, cada um tem sua personalidade. E vamos mudando, o novo álbum tem influências do pop de câmara, jazz, e o pop sempre está presente.”

Letras que dão “uma banda” na realidade

Quanto às letras, que podem falar de torturadores, passeadores de cachorros, a passagem do tempo, muitas vezes elas parecem um jogo de palavras, uma brincadeira entre o nonsense e o surrealismo, mas que sempre têm lá o seu sentido. “Tem muita coisa que observo ao meu redor, são muitas coisas poéticas, ou de estar atenta quando estou no metrô, por exemplo (“No metrô, eu penso que passo / Num subterrâneo perto da tua casa”, trecho de “No bico do mamilo”). Minhas letras se dão através da poesia, do raciocínio poético, que vai um pouco além da literalidade dos sentimentos”, filosofa. “Há uma pesquisa dos detalhes, das sutilezas; é ‘dar uma banda’ (rasteira) na realidade. Essas letras que dizem surrealistas, e que algumas vezes podem até ser, são anotações aleatórias mas que considero poéticas, mundanas, como em ‘Roxo’, do primeiro disco, que lembra que todo mundo na infância tentou chutar uma bola enquanto andava de bicicleta.”
“Mas sempre são experimentos, pois nada está completo”, acrescenta. “É uma pesquisa que segue em curso; hoje eu já comecei a compor de forma diferente, buscando uma estrutura mais clássica de canção, o que é um desafio para mim. O que não fiz vou tentar fazer, e isso expande para o que estamos ouvindo, qual som gostaria para meu próximo álbum. Vou matutando até conseguir ir para o estúdio.
Apesar de a música estar presente na sua vida desde os primeiros anos de vida, Ana Fainguelernt (o nome artístico veio de um apelido, Frango Elétrico, que sua avó ganhou na infância por conta do bullying com o sobrenome) poderia ter enveredado pela fotografia ou pelas artes plásticas. Mas aí vieram as primeiras composições para a Almoço Nu, em 2015, e a carreira como Ana Frango Elétrico no ano seguinte, incialmente no formato do show desta sexta, os álbuns solo, o trabalho com o projeto Vovô Bebê e o reconhecimento de crítica e público antes dos 22 anos. Para ela, é motivo de felicidade ver, nas suas palavras, “o que meu delírio está fazendo para outros delírios.”
“Mas ao mesmo tempo fico surpresa, pois o primeiro álbum teve repercussão apenas dentro do universo independente, que sabemos que não é grande, e como ele soava para mim posso dizer que as pessoas estranharam muito menos do que imaginei. E fiquei ainda mais feliz com a repercussão do segundo álbum, pois ele ampliou meus horizontes pela maturidade, porque sabia o que queria. Ele foi feito com o coração, com uma estrutura do início ao fim, o som que ele tem como um todo. Deu trabalho, mas valeu a satisfação de ter chegado às pessoas, mesmo sendo contrário ao som da moda.”
“Desde o começo meu trabalho vem do boca a boca. Eu não queria fazer música, mas as pessoas foram gostando e fui continuando, tudo veio de maneira orgânica, do jeito que quis fazer. Larguei a faculdade para isso, quero ganhar dinheiro assim, mesmo que digam que é doido, careta, mas é uma decisão minha. Faço com seriedade, por mais boba que seja a música. É o meu trabalho, e talvez por isso tenha me dado tantas coisas até agora, pois fiz com verdade, buscando fazer algo original mesmo que pareça que tudo já foi criado.”

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ANA FRANGO ELÉTRICO SOLO
Sexta-feira, às 21h (abertura da casa), na Necessaire (Rua Halfeld 395 – Centro). Abertura do projeto BAAPZ.

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