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Sem verba municipal, blocos se reorganizam para desfilar

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Quase 60 anos depois, uma marcinha composta por Ivan Ferreira, Glauco Ferreira e Homero Ferreira, eternizada na voz de Moacyr Franco, volta a fazer todo o sentido: “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí. Não vai dar, não vai dar não, você vai ver a grande confusão”. Em Juiz de Fora, cantam a Prefeitura e também os blocos, que pela primeira vez na última década correm o risco de ficar sem o apoio municipal para desfilarem. Pelo temor de sofrerem a desmobilização que já vitima as escolas de samba, garantem ganhar a rua, ainda que custosamente. “Se não sairmos esse ano, o pessoal desanima. Depois que cai, para levantar, fica difícil. Não podemos deixar acontecer como aconteceu com as escolas de samba”, defende Ana Braida, presidente do Bloco do Batom. “Entendo que a situação financeira da Prefeitura esteja difícil, mas não se pode cortar tudo. Carnaval é lazer, faz parte do nosso povo, da nossa história”, reforça Marcelo Barra, presidente do Pagodão dos Clubes, do Pagodão da Inclusão e um dos coordenadores da Banda Daki.

Diferentemente dos anos anteriores, o edital de 2019 voltado aos blocos e atividades carnavalescas da cidade, publicado pela Funalfa, não contempla o apoio municipal. O documento prevê o cadastramento de eventos até 1º de fevereiro para realização entre 15 de fevereiro e 5 de março, terça-feira de carnaval. A prática servirá a providências para a ordem urbana, como estratégia de policiamento e de trânsito. Apoio financeiro está descartado. “Em novembro chamamos todos os blocos inscritos nos anos anteriores e informamos que não tínhamos previsão (orçamentária) devido à atual crise no país e na Prefeitura. Então, só conseguiríamos atendê-los com os serviços básicos do município”, afirma a diretora de cultura da Funalfa, Giovana Bellini. “Até agora estamos dizendo que tudo que envolve recurso não conseguiremos atender. Banheiro químico é uma expectativa, estamos em conversa com a (Secretaria da) Fazenda.”

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Corredor da Folia, que teve parte da programação na Praça Antônio Carlos, não tem definições de shows e atividades extras para este ano. (LEONARDO COSTA/ARQUIVO TM)

Custe o que custar

Palco, tablado e barracas são os recursos de que dispõe a fundação para empréstimo, assegura Giovana. Para Marcelo Barra e seus blocos que desfilam na região central da cidade não é o bastante. Além do aluguel da bateria e do caminhão de som, os blocos realizam a contratação de equipe de seguranças e banheiros químicos, dentre outras pequenas despesas. Este ano o produtor teme tirar do próprio bolso para não cancelar o desfile. “Falo para os componentes do Pagodão que nós vamos sair. Já fizemos a música e 500 camisas”, diz ele, que com a venda das peças consegue pagar a confecção, mas não os equipamentos. “Está difícil conseguir apoio do comércio, também”, lamenta, receoso de não ver todos os grupos na folia. Ainda inscrito no sistema da Lei Rouanet, o projeto produzido pela Funalfa para captação de recursos para o Corredor da Folia chegou a ser apresentado para diferentes empresas locais e regionais, mas não obteve sucesso até o momento.

“Acreditamos que não há mais tempo”, pontua Giovana Bellini, afirmando que programação oficial do carnaval em Juiz de Fora em 2019 será integralmente demandada pelos blocos. “Vivemos um momento de transição nos governos estadual e federal, então, é difícil para a Prefeitura saber o cenário. Sabemos que é uma demanda da população e que independentemente do município, as pessoas se organizam”, aposta a diretora de cultura da Funalfa. Mesmo confrontada com as incertezas, Ana Braida autorizou a confecção das fantasias para seu Bloco do Batom. “Este ano ficou tudo para a última hora. Ano passado saímos com 134 pessoas, e este ano já tem 70 inscritas. Os adereços e as roupas estão sendo feitos. Vamos colocar o bloco na rua. Temos uma reserva pequena e vamos desfilar”, diz Ana. “Com a venda das fantasias acaba não sobrando dinheiro. Teve ano que colocamos dinheiro do bloco para complementar. Fazemos almoços e bailes para termos uma reserva. Já tivemos patrocínios de algumas pessoas e tudo vai nos ajudando. Também vendemos CDs e camisas. Não cobramos preços absurdos, mas o necessário para colocar nosso bloco na rua.”

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Folia inédita

Ao invés do tradicional carro de som, o Bloco do Batom tem reservado para seu desfile uma van com sonorização. Espera contar com o apoio da Associação de Blocos de Juiz de Fora. Marcelo Barra também. E planejou que seu Pagodão dos Clubes suba a Halfeld no dia 28 de fevereiro, com cerca de 600 componentes. Já o Pagodão da Inclusão, ele projeta para o dia 24. Ângelo Goulart, um dos responsáveis pelo Parangolé Valvulado, afirma já ter o enredo pronto para o desfile, que esperam realizar no dia 24 de fevereiro, na Avenida Getúlio Vargas. As negociações com empresários da cidade para viabilizar um dos maiores desfiles de Juiz de Fora continuam, porém. Em 2019, o bloco que estreou em 2008 homenageia os professores brasileiros. No próximo dia 26, o bloco realiza ensaio aberto na Cervejaria Golem (Avenida Rui Barbosa 482 – Santa Terezinha). Um esquenta para um carnaval que mais de um mês antes já se apresenta inédito. “Não há previsão de verba nenhuma. Todo ano há uma ajuda financeira da Prefeitura que mantém a parte estrutural, com banheiros e o pessoal que segura as cordas. Este ano não tem nada previsto. Estamos correndo atrás de patrocínios”, assegura Marcelo Barra, para logo finalizar: “Nunca aconteceu isso em Juiz de Fora”.

Cadastro de blocos

O formulário e o requerimento para cadastro dos blocos e demais atividades carnavalescas locais está disponível no portal da PJF, no Espaço Cidadão JF do Centro (Avenida Rio Branco 2.234) e no Departamento de Cultura da Funalfa. O documento deve ser entregue, junto de cópias do RG e CPF do responsável e croqui do evento com carta de anuência da Sociedade Pró-Melhoramentos (SPM) do bairro, no Espaço Cidadão JF do Centro. Uma comissão formada por representantes da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros, das secretarias de Governo, Atividades Urbanas, Segurança Urbana e Cidadania, além da Funalfa e da Settra, irá analisar semanalmente as propostas. Após aprovação, os eventos ainda precisarão obter alvará do Corpo de Bombeiros e solicitar ponto de energia com a Cemig.

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